PUBLICIDADE

Europa

Eurocéticos se destacam nas eleições do Parlamento Europeu

4 jun 2009 - 10h07
Compartilhar

Lúcia Jardim

Direto de Paris

A campanha oficial foi lançada na última segunda-feira, a data do pleito - 7 de junho ¿ se aproxima e até agora as eleições legislativas para o Parlamento europeu não despertaram os eleitores das 736 cadeiras a serem preenchidas na sede da organização, dividida entre Bruxelas e Estrasburgo. Os chamados eurocéticos, aqueles que não confiam nem na capacidade de união dos europeus, nem na unidade como solução para os problemas internos de cada um dos 27 países, se destacam tanto entre os votantes quanto entre os que lutam por uma vaga.

Em outras palavras, a eleição européia está repleta de candidatos que desejam ser eleitos apenas para poderem votar contra... a própria Europa. Nessa linha, extrema direita e esquerda acabam se encontrando. A primeira, avaliando que a União Européia propicia que os países mais pobres, como a Hungria ou a Polônia, se ancorem nos mais ricos, como a França ou a Inglaterra. Já os comunistas julgam que a globalização só traz malefícios para os trabalhadores, como a transferências de linhas de produção para os países em que a mão de obra é mais barata, e que a União Européia é, portanto, causadora e propagadora da crise econômica vivenciada atualmente.

"A Europa que eles construíram é uma Europa que fez de tudo para a livre circulação e movimentação de capitais, uma Europa feita por e para os banqueiros", prega Olivier Besancenot, criador do Novo Partido Anticapitalista - o mais à esquerda no espectro político francês -, durante a propaganda eleitoral. "É uma Europa que não é social, nem ecológica, nem solidária".

Em um tom mais radical, mas com argumentos nem tão diferentes, Jean-Marie Le Pen, líder do partido de extrema-direita francês Frente, é candidato à reeleição ao Parlamento, onde se destaca como uma das vozes mais atuantes contra a Europa em meio aos eurodeputados. "Os responsáveis pela crise são a globalização ultra liberal e os seus cúmplices: a Europa de Bruxelas e os políticos de direita, de esquerda ou de centro, que nos obrigaram a abandonar as nossas fronteiras", justifica. "A União Européia é uma gigantesca armadilha, e é preciso que isso cesse", prossegue o conservador em seu discurso na televisão.

Não à toa o euroceticismo está tão presente nestas eleições, que ocorrem em um ano em que o mundo, e particularmente a Europa, foi tão afetado pela crise econômica. Para somente 56% os europeus, pertencer ao grupo é um fator favorável face à turbulência econômica, enquanto que 19% são opostos ao grupo porque julgam que a UE é uma ameaça à estabilidade nacional. Entre os menos confiantes, destacam-se os britânicos, os irlandeses e os húngaros.

A existência de um número alto de candidatos eurocéticos explica-se também em consequência da falta de entusiasmo dos próprios eleitores: além de não acreditarem na Europa, muitos optam por sequer exercer o direito ao voto.

A última pesquisa encomendada pelo Parlamento aponta que 49% dos cidadãos europeus pretendem comparecer às urnas, 68% sabendo inclusive informar a data correta da eleição. Há uma semana, esse índice beirava os 34%. Já a taxa de rejeição caiu: passou de 19% para 12% os eleitores que estão certos de não participar das eleições, que definirão proporcionalmente os representantes dos 27 países-membros, em um único turno. Se os números estiverem corretos, os resultados serão, entretanto, mais animadores do que os verificados no pleito anterior, quando, em 2004, 45,5% dos eleitores votaram.

Não sem surpresa, a Bélgica - onde, em Bruxelas, fica uma das duas sedes do Parlamento - é um dos países onde os habitantes estão mais entusiasmados a eleger os novos deputados: 64% dos belgas deverão se manifestar, semelhante aos 66% esperados entre os irlandeses. Já os eslovenos são os menos motivados, com expectativa de participação de apenas 16%, seguidos pela República Checa (24%), a Romênia, a Holanda e a Suécia (30%) na lista dos menos empolgados com as legislativas.

"O sentimento positivo em relação à UE não determina necessariamente o nível de participação: entre os mais favoráveis à União encontra-se a Polônia (61%), ao mesmo tempo em que apenas 14% dos poloneses se dizem certos de ir votar", analisa Dominique Reynié, professor da Sciences-Po, em Paris, e especialista em opinião pública e dos movimentos eleitorais na Europa.

Para a maioria das pessoas que não votarão, as razões evocadas se alternam entre a falta de informação, o sentimento de que o próprio voto não mudará os resultados e o desconhecimento das funções do Parlamento europeu.

"Os europeus estão à procura de um poder público suplementar, não somente capaz de lhes proteger mas também de fortificar as nações deles, que sozinhas não podem suportar os novos desafios do planeta", explica Reynié.

Fonte: Redação Terra
Compartilhar
Publicidade