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Ásia

Governo proíbe chineses de lembrarem massacre de 1989

2 jun 2009 - 15h07
(atualizado às 17h50)
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Passados vinte anos, a ferida aberta pela violenta repressão às manifestações do dia 4 de junho de 1989 na China ainda não cicatrizou, mas o regime comunista continua mantendo com mão de ferro o timão de uma das maiores potências mundiais, proibindo que os chineses sequer se lembrem do que aconteceu na Praça da Paz Celestial (Tiananmen).

A imagem do homem que sozinho bloqueia a passagem de uma coluna de tanques na avenida Chang, por exemplo, se torna emblemática em todo o mundo, mas a verdade é que a maior parte dos chineses jamais a viu: a foto é proibida no país.

Em todos os continentes, de Sydney a Londres passando por Paris, Washington e Hong Kong, cerimônias serão realizadas para marcar a trágica data.

Na China, porém, na melhor das hipóteses o silêncio sepulcral estabelecido pelo regime será quebrado aqui e acolá por atos pequenos e isolados, já que os dissidentes são constantemente vigiados - quando não são mandados para "respirar o ar das montanhas".

Alguns vestirão branco, a cor do luto chinês, como pedem as lideranças opositoras no exílio.

O PCC "teme enormemente que a sociedade se ampare na comemoração e acuse os 'herdeiros dos carniceiros de Tiananmen'", estima o sinólogo Jean-Philippe Béja.

Tabu na China, a "rebelião contra-revolucionária" nunca foi estudada, e não se sabe sequer o número exato de mortos: não há nenhum balanço oficial, enquanto a prefeitura de Pequim afirma que foram 241 e os defensores dos direitos humanos estimam milhares de vítimas.

Estimulado pela queda de vários regimes comunistas naquele ano, antes impensável, na época o movimento contagiou depressa dezenas de milhares de chineses, superando depois um milhão, que foram às ruas exigir a democratização do país em dezenas de cidades. A onda cresce durante sete semanas, sem que o PCC se manifeste.

A assombrosa paralisia do poder gerou grande euforia e criou esperanças.

Câmeras da imprensa de todo o mundo, presentes em Pequim para cobrir a chegada do dirigente russo Mikhail Gorbachev e a cúpula da normalização sino-russa, filmam sem problemas os desfiles de estudantes usando camisas brancas e os desmaios dos grevistas de fome. Líderes do movimento são entrevistados, e a humilhação do comitê central aumenta.

Os líderes estudantis Wang Dan, Wu'er Kaixi e Chai Ling - todos exilados hoje em dia - criticam diretamente o primeiro-ministro Li Peng, que terá depois papel-chave na repressão, pedem prestação de contas e exigem liberdades.

Aceitam dialogar com Zhao Ziyang, que os encontra no dia 19 de maio, mas o então chefe do PCC, que suplica em vão pela desmobilização na praça Tiananmen, cairá em desgraça. No dia seguinte, é decretada a lei marcial.

Deng Xiaoping opta pela força e decide evacuar a praça Tiananmen. Na noite do dia 3 de junho, alto-falantes instam os ocupantes da maior esplanada do mundo a voltarem para suas casas.

Nenhum manifestante morre na praça Tiananmen, e sim nas ruas adjacentes e em outros bairros, onde a população pequinesa resiste como pode ao banho de sangue do exército popular, que atira sem remorso contra os civis.

Em estado de choque, o mundo expressa sua indignação e oferece asilo aos dissidentes que conseguiram escapar. A China entra num período de profundo isolamento internacional, rompido apenas anos depois, com a modernização econômica que atraiu investidores de todo o Ocidente.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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