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Ásia

China aprisiona líder de protesto na Praça da Paz Celestial

31 mai 2009 - 08h07
(atualizado às 08h12)
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Michael Wines

Do New York Times


Um dos antigos líderes estudantes no momento democrático da Praça Tiananmen, em 1989, detido e secretamente aprisionado pelas autoridades chinesas ao tentar retornar clandestinamente ao país em outubro do ano passado, foi acusado de fraude, informou sua família na quarta-feira.

Estudantes colocam fogo em tanque nas proximidades da Praça da Paz Celestial, em Pequim, no dia 4 de junho de 1989
Estudantes colocam fogo em tanque nas proximidades da Praça da Paz Celestial, em Pequim, no dia 4 de junho de 1989
Foto: AFP

Notícias sobre a acusação movida contra Zhou Yongjun, que comandava a União Autônoma de Estudantes de Pequim no início do movimento de 1989, surgiram apenas semanas antes do aniversário da sangrenta repressão que deixou centenas de manifestantes mortos e pôs fim ao movimento da Praça Tiananmen, em 4 de junho.

O governo chinês está se esforçando seriamente para garantir que o 20° aniversário da repressão, uma data momentosa para muitos defensores dos direitos humanos, passe despercebido no país.

As autoridades apresentaram a acusação de fraude em Suining, a cidade da província de Sichuan, no sudoeste da China, em que os pais de Zhou vivem e ele está detido, informou Zhou Sufen, sua irmã mais velha, em entrevista por telefone, de Chengdu, a capital da província. Zhou declarou que sua família em Suining a havia informado de que o Serviço de Segurança Pública local havia entregue uma notificação sobre a acusação na casa dos Zhou.

Nem ela e nem os demais familiares receberam autorização para visitar Zhou na prisão. Mas outros prisioneiros e autoridades chinesas os informaram de que se tratava de um caso "político", ela disse, e que os demais detentos haviam sido aconselhados a evitar contato com seu irmão. "O procedimento que eles adotaram com relação ao caso do meu irmão é ilegal", ela afirmou. "Nossa família exige que ele seja libertado imediatamente e que os responsáveis por sua detenção ilegal sejam responsabilizados".

Zhang Yuewei, a mulher de Zhou, declarou em entrevista por telefone, da casa em que eles vivem na Califórnia, que não conseguia compreender de que maneira ele pode ter sido acusado de fraude se não vive na China há anos. "Ele simplesmente voltou ao país para visitar seus pais, porque eles são idosos e estão enfrentando problemas de saúde", ela afirmou. "Também queria levar os pais com ele aos Estados Unidos, conseguir que emigrassem, para que pudessem ter uma vida melhor".

John Kusumi, dirigente da China Support Network, uma organização norte-americana de apoio aos democratas chineses formada depois dos protestos de 1989, disse que Zhou aparentemente foi detido ao tentar atravessar de Hong Kong para a China propriamente dita, no começo de outubro.

Zhou, que também é conhecido por seu nome em inglês, Majer Zhou, fugiu da China no começo dos anos 90, e é residente permanente nos Estados Unidos desde 1993. Um porta-voz da embaixada dos Estados Unidos em Pequim disse que os diplomatas locais haviam sido informados sobre a detenção e estavam estudando o caso, mas não quis fazer outros comentários.

Zhou, 41 anos, era aluno de graduação na Universidade Chinesa de Ciência Política e Direito, em Pequim, quando os estudantes começaram a se reunir na Praça Tiananmen, em 1989, para celebrar Hu Yaobang, o líder chinês de inclinações reformistas cuja morte serviu de estopim para as manifestações democráticas.

Zhou foi o primeiro presidente eleito para a nova União Autônoma dos Estudantes, mas terminou derrubado de sua posição depois de um desacordo entre as lideranças do movimento sobre como proceder para uma manifestação crucial, realizada no final de abril daquele ano. Zhou continuou a militar no momento pela democracia, no entanto, e estava na Praça Tiananmen quando as forças armadas chinesas tomaram a praça de assalto, em 4 de junho.

Ele foi sentenciado a dois anos de prisão por seu papel nos protestos, e depois de cumprir pena fugiu para Hong Kong e, posteriormente, para os Estados Unidos. Tentou retornar à China em 1998 e passou mais três anos preso.

Na quarta-feira, a Fundação Dui Hoa, uma organização de defesa dos direitos humanos sediada nos Estados Unidos, reduziu sua estimativa quanto ao número de manifestantes da Praça Tiananmen que continuam encarcerados duas décadas depois que o movimento foi esmagado.

A fundação afirmou acreditar que cerca de 30 pessoas continuem aprisionadas, ante a estimativa anteriormente reportada de 50 a 60 prisioneiros. O grupo reduziu sua estimativa depois que as autoridades chinesas o notificaram sobre a libertação de alguns detentos em prazo inferior ao estipulado para sua detenção, e que outros pesquisadores documentaram a situação de 104 manifestantes que estiveram detidos na Prisão N° 2 de Pequim depois da repressão ao movimento. Daqueles prisioneiros, apenas seis ainda não foram libertados, de acordo com a fundação.

O diretor executivo da organização, John Kamm, instou o governo chinês a libertar antecipadamente os demais prisioneiros. "A maioria desses prisioneiros são homens de meia-idade que se beneficiaram de diversas reduções de pena por bom comportamento", ele afirmou em comunicado. "Libertá-los seria recebido de forma positiva na China e em todo o mundo".

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times
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