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Ásia

Em autobiografia, ex-premiê chinês reconta massacre de 89

30 mai 2009 - 09h13
(atualizado às 09h43)
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Christopher Bodeen

Da AP, em Pequim


Um ex-assessor do antigo primeiro-ministro chinês deposto Zhao Ziyang informou que ele e outros três antigos auxiliares ajudaram Zhao a registrar e compilar suas memórias, publicadas este mês pouco antes do 20° aniversário da campanha de repressão a manifestações que resultou em sua derrubada.

Bao Pu, um dos editores de Prisioneiro do Estado, mostra o livro durante entrevista em Hong Kong
Bao Pu, um dos editores de Prisioneiro do Estado, mostra o livro durante entrevista em Hong Kong
Foto: AP

Zhao, morto em 2005, foi expurgado depois que as forças armadas reprimiram com violência as manifestações democráticas de estudantes na Praça Tiananmen, em Pequim, em 1989, com a morte de centenas e possivelmente milhares de pessoas.

Zhao passou o resto da vida em prisão domiciliar, e dedicou quatro anos ao registro sigiloso de suas recordações sobre os anos que passou no poder e suas opiniões sobre a campanha de repressão e as reformas políticas de que o país necessita.

Em comunicado divulgado por um dos editores de suas memórias, Du Daozheng, que servia no departamento de propaganda do gabinete de Zhao, ele informa que, com a ajuda de três outros antigos auxiliares, forneceu equipamento de gravação ao antigo primeiro-ministro e compilou as fitas que ele gravou para produzir o livro Prisioneiro do Estado, lançado em inglês este mês, em Hong Kong.

"Zhao Ziyang se sentia responsável diante da nação chinesa, diante da história, diante das pessoas comuns", escreveu Du. "Não tinha qualquer preocupação quanto à vergonha ou glória que lhe pudesse caber, defendeu a verdade e o povo e se recusou a ceder, tergiversar ou recuar".

O livro de 306 páginas relata os acontecimentos que resultaram nos protestos de 1989 e detalha como os líderes do partido enfrentaram a situação. Também descreve pela primeira vez a solidão que o grisalho e sisudo Zhang - um político que adorava golfe e ternos de corte ocidental - sentiu em seus anos de exílio interno.

Embora suas memórias tratem de assuntos que outros autores já estudaram, o relato em primeira pessoa e os detalhes íntimos sobre as controvérsias e maquinações políticas são novidade. Du diz que começou a encorajar Zhao a escrever suas memórias desde que os dois velhos amigos retomaram o contato, em 1992.

"Eu disse a ele que a questão não era apenas pessoal, e que ele tinha a responsabilidade de escrever", afirmou Du. O tema dos protestos de 1989 e da repressão subsequente continua a ser um tabu para as autoridades chinesas, e porta-vozes do governo se recusaram a comentar sobre o livro.

As autoridades se referem à repressão apenas como "incidente político", e afirmam que o sucesso econômico da China nas duas décadas transcorridas prova que a maneira pela qual o partido tratou os protestos estava correta.

Com base nas fitas, afirma Du, fica claro que Zhao havia refletido profundamente sobre seus anos no poder e sobre o período da história chinesa que viveu. "O livro é a verdadeira essência, e não oculta nada", afirmou Du. "Como julgá-lo é decisão que cabe aos leitores e à História".

Du não foi localizado para comentar, e seu paradeiro é desconhecido. Bao Pu, um dos editores na companhia que divulgou o comunicado de Du, afirma que o texto tem valor inestimável para a compreensão dos métodos e motivações para o livro.

"Acredito que seja uma declaração muito, muito significativa", disse Bao, em entrevista por telefone, de Hong Kong. "Essas pessoas queriam que a história de Zhao sobrevivesse". Uma versão em chinês sairá este mês pela editora de Bao. Nenhuma das duas versões estará à venda na China continental.

Tradução: Paulo Migliacci ME

Fonte: AP AP - The Associated Press. Todos os direitos reservados. Este material não pode ser copiado, transmitido, reformado o redistribuido.
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