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Ásia

China discute suposto assassinato de político por pedicure

29 mai 2009 - 10h11
(atualizado às 10h39)
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O caso de uma pedicure de 21 anos que supostamente matou um alto funcionário do governo após vários abusos tornou-se tema de debate em toda a China, cuja população se pergunta, mais uma vez, se a Justiça será realmente independente diante das pressões do poder.

O crime, que poderia ter virado uma notícia a mais na seção policial dos jornais, ganhou outra dimensão porque poderá comprovar se a Justiça chinesa, como o regime comunista diz, está ficando mais igualitária.

Tudo começou em 10 de maio, quando a jovem Deng Yunjiao matou a punhaladas o encarregado de negócios do governo de Badong, Deng Guida, e feriu um assessor dele. Na hora do crime, os três estavam num hotel da cidade, que fica próxima à represa das Três Gargantas.

Uma das versões diz que os dois homens, aparentemente embriagados, se aproximaram de Deng requisitando "serviços especiais", um eufemismo para favores sexuais. Diante da recusa da jovem, um deles agrediu-a no rosto com um maço de notas e empurrou-a num sofá.

A moça, então, pegou uma faca e atacou os dois homens, perfurando o pulmão de Deng Guida.

Esta não é a primeira vez que políticos chineses protagonizam casos de abusos. Recentemente, um caso envolvendo uma menina de 11 anos veio à tona em Shenzhen (sul). Mas foi com a história da pedicure que muitos chineses passaram a criticar o que parecem ser tentativas do poder de obstruir a Justiça.

"Numa sociedade onde os direitos das mulheres são totalmente respeitados, Deng nunca teria sofrido essa humilhação", declarou ao jornal "South China Morning Post" a jovem Lan Yujiao, que assinou uma carta escrita por universitárias em apoio à moça atacada.

Os foros da internet, em sua maioria, também saíram em defesa da pedicure. "Deng é a maior vítima neste caso. Seu agressor estava atrás de serviços sexuais, agrediu-a e humilhou-a com dinheiro. Seu ato é um insulto e não tem moralidade", escreveu um internauta no fórum chinês Xici.net.

O caso também esquentou o debate entre especialistas em Direito, já que, numa sociedade onde os casos de abusos sexuais ainda são um tabu, a lei não define claramente como um homicídio com as características do que foi cometido por Deng deve ser julgado.

Alguns, como um professor da Universidade Pedagógica de Pequim ouvido pelo jornal Global Times, acham que não há como Deng escapar de uma condenação, apesar de haver atenuantes.

Mas outros, como Xu Yizhong, especialista em Direito da Universidade dos Correios e Telecomunicações, acham que a lei protege quem atua em legítima defesa, de modo que a ré talvez consiga se livrar da prisão.

A principal questão, no entanto, é que muitos acham que o fato de a vítima ser um funcionário do Governo acabará interferindo no tratamento dado ao caso. A imprensa estatal, por exemplo, já começou a publicar versões do crime favoráveis ao político morto.

Num primeiro momento, os meios de comunicação públicos disseram que a arma usada no crime era um objeto perfurante que a pedicure usava no trabalho. Depois, passaram a escrever que o instrumento era uma "faca de fruta", sugerindo que o homicídio não foi tão casual assim.

A Polícia também disse ter encontrado remédios para depressão na casa da detida e versões oficiais já dão conta que a jovem não estava em total controle de suas faculdades mentais quando matou Guida, o que eliminaria a tese de legítima defesa.

No entanto, o que fez muitos internautas assegurarem que a Justiça chinesa protege os políticos e não é independente foi a estranha troca de advogados de defesa antes do início do julgamento.

Os representes legais de Deng, inicialmente contratados num escritório em Pequim, foram substituídos por outros de um escritório, algo suspeitosamente anunciado pelo porta-voz do governo de Badong.

Pouco depois, os primeiros advogados da pedicure publicaram um comunicado negando terem sido dispensados e afirmando que continuarão defendendo a jovem, apesar das obstruções que sofreram na hora de investigar o caso.

"O teste real para o caso chegará no julgamento. É óbvio que a população apoia Deng Yujiao. Mas alguém dentro do 'sistema' terá a decência de defendê-la?", comentou a articulista Jeniffer Haskell no site China Digital Times.

EFE   
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