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Mundo

Vaticano defende posição de Bento XVI sobre preservativos

18 mar 2009 - 13h27
(atualizado às 13h55)
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O Vaticano defendeu nesta quarta-feira a oposição do papa Bento XVI ao uso de camisinhas como meio de prevenir a aids, enquanto ativistas, médicos e políticos criticaram a posição, dizendo que é perigosa, não é real nem científica.

Em sua chegada à África na terça-feira, Bento disse que as camisinhas "aumentam o problema" da aids. O comentário, feito a jornalistas a bordo do avião em que ele viajava, desencadeou uma tempestade mundial de críticas.

"Minha reação é que isso representa um grande retrocesso em termos de educação global para a saúde, é inteiramente contraproducente e provavelmente levará ao aumento das contaminações por HIV na África e em outras partes do mundo", disse o professor Quentin Sattentau, professor de Imunologia na Universidade Oxford, na Inglaterra.

"Existe um conjunto grande de evidências publicadas que demonstram que o uso do preservativo reduz o risco de se contrair o HIV, mas não leva ao aumento da atividade sexual", disse o professor. A Igreja ensina que as melhores maneiras de prevenir a aids são a fidelidade dentro de um casamento heterossexual e a abstinência sexual.

Indagado sobre as críticas, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, disse que o papa "está mantendo a posição de seus predecessores". O Vaticano também diz que o uso de camisinhas pode levar a comportamentos de risco, mas muitos contestam essa visão.

Kevin De Cock, diretor do departamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) que se ocupa do HIV/aids, disse que não há evidências científicas que indiquem que o uso da camisinha incentiva as pessoas a assumir mais riscos sexuais.

"A orientação que damos é que a camisinha é altamente eficaz para prevenir a transmissão do HIV, se for usada corretamente e sempre", disse ele em entrevista telefônica.

De Cock disse que a abstinência e a redução do número de parceiros também são necessárias e elogiou os grupos de base religiosa, observando que muitas organizações beneficentes católicas dão tratamento a soropositivos em algumas das partes mais pobres e isoladas do mundo.

O HIV, o vírus que pode levar à aids, contamina 33 milhões de pessoas em todo o mundo e já resultou em 25 milhões de mortes.

Críticas

"Qualquer coisa que reduza a aids num continente em situação precária, como a África, deveria ser bem-vinda", disse o advogado Adeleke Agbola, coordenador nacional da Rede de Pessoas que Convivem com o HIV/aids na Nigéria (NEPWHAN).

"Que o papa diga que a camisinha não é boa é como alguém afirmar que viajar de avião não é 100 por cento seguro, portanto não devemos viajar", disse o médico Matemilola, que é soropositivo há mais de uma década. Um editorial do New York Times disse que o papa "não merece crédito algum quando distorce descobertas científicas" sobre a camisinha.

A França também expressou "preocupação muito grande". Houve também alguns sinais de discordância interna na Igreja. "Qualquer pessoa que tenha aids e seja sexualmente ativa, qualquer pessoa que procure múltiplos parceiros, precisa proteger a si mesma e aos outros", disse Hans-Jochen Jaschke, bispo católico auxiliar de Hamburgo, na Alemanha, o país nativo do papa.

"Portanto não deve haver tabus quanto ao uso da camisinha, mas também não deve haver mitos ou trivialização, como se a camisinha pudesse pôr o mundo em ordem. A camisinha pode proteger, mas os homens frequentemente a rejeita", acrescentou o bispo.

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