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Oriente Médio

Estratégia do Hamas é o caos, diz ex-chefe do Fatah

10 jan 2009 - 10h54
(atualizado às 11h05)
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Mohammed Dahlan, 47 anos, foi diretor de segurança da Fatah na Faixa de Gaza. Em entrevista à revista Spiegel, ele discute a guerra de Israel contra o Hamas e os motivos para que acredite que a organização islâmica sairá derrotada da próxima eleição palestina.

Senhor Dahlan, o movimento Fatah, que o senhor representa, foi expulso da Faixa de Gaza pelo Hamas cerca de um ano e meio atrás. O senhor está contente por Israel agora estar em guerra contra seu rival?

Não, porque não são os líderes do Hamas que estão sofrendo como resultado dos ataques. Eles ficam sentados em completa segurança nas suas casamatas, e assistem enquanto as pessoas morrem lá fora. E, uma vez mais, quem está pagando o preço é o povo palestino. Os palestinos vêm sendo peões em um jogo travado por diferentes interesses - principalmente os de Israel - desde 1967. Nos anos 80, Israel costumava encarcerar os membros da Fatah e apoiava o Hamas. O que está acontecendo hoje em Gaza é consequência dessas decisões políticas.

O senhor considera que o Hamas seja co-responsável pelos ataques aéreos de Israel contra a Faixa de Gaza?

Com os ataques de foguetes, eles deram a Israel um pretexto para a guerra. O Hamas é uma das piores organizações da região. As pessoas têm medo dos extremistas islâmicos, e ninguém em Gaza ousa fazer qualquer crítica. Caso o façam, correm o risco de prisão ou até mesmo de morte. Exatamente como Israel, o Hamas não demonstra consideração pelas pessoas comuns - seus combatentes disparam foguetes contra Israel do coração de áreas residenciais.

O senhor acredita que a população da região vai se revoltar contra o Hamas?

As coisas não são tão simples assim. Os norte-americanos não imaginavam que o povo iraquiano os receberia com flores? Os palestinos só começarão a odiar o Hamas quando Israel oferecer uma paz genuína e o Hamas tentar bloquear essa oportunidade.

Mas Israel e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, continuam a negociar.

As negociações em curso não fazem sentido algum. Os israelenses estão simplesmente nos enrolando com reuniões, conferências e o chamado processo de paz. E ao fazê-lo, eles sem querer beneficiam o Hamas.

Mas o seu movimento, a Fatah, também cometeu muitos erros.

Sim, nós ainda não aprendemos a lição que deveríamos ter extraído de nossa derrota eleitoral. A eleição de uma nova liderança para o movimento já foi postergada por muito mais tempo do que deveria.

Circulam boatos de que a Autoridade Palestina, em Ramallah, e o governo de Israel chegaram a um acordo quanto aos ataques aéreos.

Isso não passa de uma teoria de conspiração. Os ataques não ajudam Mahmoud Abbas ou a Fatah.

Até que ponto se pode considerar realista a meta israelense de destruir o Hamas?

Na verdade, não é isso que eles realmente desejam. Israel precisa do Hamas a fim de impedir a criação de um Estado palestino. O motivo que justifica a ofensiva é obter melhores condições para o próximo cessar-fogo.

Mas a guerra não oferece à Fatah uma nova oportunidade de assumir o poder na Faixa de Gaza?

Só retornaremos ao poder em Gaza depois que tivermos vencido uma eleição - não pela força militar. Mas, se você quer saber minha opinião pessoal, estou feliz pelo ataque contra o Hamas.

O que o senhor quer dizer?

Os palestinos agora compreenderam que o Hamas é incapaz de governar. Os líderes do movimento eram celebrados como líderes da resistência e como inimigos da corrupção, mas desde que foram eleitos perderam toda sua legitimidade. A única estratégia que lhes resta é a destruição e o caos. O Hamas perdeu seus atrativos - e com isso sairá derrotado da próxima eleição.

Tradução: Paulo Migliacci ME

Der Spiegel
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