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Mugabe fica com a Presidência do Zimbábue e com dois terços da Assembleia

3 ago 2013 - 14h49
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O presidente zimbabuano, Robert Mugabe, no poder desde a independência de seu país em 1980, foi declarado neste sábado vencedor da eleição presidencial no primeiro turno, com 61% dos votos, enquanto seu partido obteve a maioria qualificada de dois terços na Assembleia.

"Eu declaro que Robert Gabriel Mugabe, da Zanu-Pf, obteve mais da metade dos votos na eleição presidencial e, com isso, é devidamente eleito presidente da República do Zimbábue a partir deste dia", anunciou a presidente da Comissão Eleitoral Rita Makarau.

Seu rival e primeiro-ministro, Morgan Tsvangirai, ficou com 34% dos votos.

A Comissão havia anunciado na tarde deste sábado (horário local) o resultado das eleições legislativas e declarou o partido de Mugabe vencedor, superando os dois terços dos 210 assentos da Assembleia, marca necessária para a maioria qualificada.

Herói da independência antes de levar seu país à ruína, Mugabe, de 89 anos, está agora em posição de emendar a Constituição mais liberal promulgada há menos de três meses.

Morgan Tsvangirai anunciou a sua intenção de boicotar o governo que será formado após as eleições, que ele classificou de ilegais, em razão das fraudes, e cujo resultado pretende contestar na justiça.

"Não participaremos das instituições do governo", declarou Tsvangirai durante uma entrevista coletiva à imprensa ao final de uma reunião de crise entre as lideranças do seu partido, o Movimento por uma Mudança Democrática (MDC, nas siglas em inglês), que havia se associado ao poder em 2009 em um governo de união nacional.

A União Europeia manifestou preocupação com as denúncias de irregularidades feitas pelo primeiro-ministro Tsvangirai e por seu partido.

"A União Europeia está preocupada com as supostas irregularidades e com a participação incompleta (na votação), assim como as falhas identificadas no processo eleitoral e a falta de transparência", declarou em um comunicado a representante da UE para Assuntos Externos, Catherine Ashton.

A UE "vai continuar a acompanhar a situação no país e a trabalhar com seus parceiros internacionais nas próximas semanas", ressaltou Ashton.

No entanto, ela pediu que todos os partidos políticos do Zimbábue "mantenham a ordem e a calma", considerando que as eleições foram realizadas de maneira relativamente pacífica.

Pouco antes, um membro da comissão eleitoral abandonou o órgão denunciando essas supostas fraudes.

"Não quero enumerar os vários motivos de minha demissão, mas eles estão todos relacionados à maneira como as eleições gerais de 2013 no Zimbábue foram convocadas e organizadas", declarou Mkhululi Nyathi, em uma carta de demissão à qual a AFP teve acesso.

"Durante todo o tempo, eu mantive uma dose de esperança de que a integridade de todo o processo pudesse ser salvo no final das contas. Isso não aconteceu, e por isso tomei a decisão de me demitir", completou Nyathi.

Organizado às pressas, o processo eleitoral foi marcado pela ausência de um grande número de eleitores dos registros de votação ou inscritos fora de seus centros habituais. As listas foram divulgadas apenas na véspera da votação, impossibilitando uma verificação ou recursos.

Em 2008, Morgan Tsvangirai ficou em primeiro na eleição presidencial, mas militantes de Mugabe atacaram seus adversários, deixando cerca de 200 mortos.

Tsvangirai se retirou entre os dois turnos para evitar um banho de sangue generalizado. Depois, ele se associou ao presidente a pedido dos países vizinhos, e se tornou primeiro-ministro, saudado por seu espírito de paz, mas ficando relativamente sem poder político.

A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) é a organização regional que coordenou os esforços de mediação para evitar uma guerra civil em 2008, estabelecendo Tsvangirai como primeiro-ministro.

Na ausência de observadores ocidentais, ela teve a pesada responsabilidade de representar a comunidade internacional e defender a democracia no Zimbábue, sem ceder à tentação de prolongar a "pax Mugabe" para evitar novos episódios de violência.

"As eleições, levando-se em consideração as circunstâncias, foram realizadas de maneira satisfatória e não há razão para que sejam anuladas", havia declarado na sexta-feira o chefe da missão da SADC, o tanzaniano Bernard Membe.

Na última década, o Zimbábue foi assolado por uma recessão marcada por inflação galopante e pela saída de milhões de pessoas para o exterior.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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