PUBLICIDADE

Mundo

Mordomo preso pode ser peça em complô por golpe no Vaticano

26 mai 2012 - 16h31
(atualizado às 16h52)
Compartilhar

Um ingênuo, vítima de um complô, ou um traidor? O reservado círculo que acompanha de perto os assuntos do Vaticano se pergunta quem é de verdade Paolo Gabriele, mordomo do papa Bento XVI, detido como suspeito de vazamento de documentos confidenciais.

Imagem do dia 23 de maio exibe o mordomo em serviço durante audiência do Papa; ele foi preso acusado de vazar documentos
Imagem do dia 23 de maio exibe o mordomo em serviço durante audiência do Papa; ele foi preso acusado de vazar documentos
Foto: AP

A acusação é séria e se for considerado culpado, poderá pegar 30 anos de prisão, segundo o jornal La Repubblica, após reportar que "o roubo da correspondência de um chefe de Estado", neste caso o Papa, "é um crime equivalente a atentar contra a segurança do Estado".

Apelidado de "Paoletto", Paolo Gabriele, 46 anos, um romano sempre elegante, mora com a mulher e três filhos em um prédio dentro do Vaticano, de onde tem nacionalidade, e é um dos pouquíssimos laicos com acesso aos apartamentos do Papa. É "o primeiro e o último a ver o Papa", noticiou o Corriere della Sera.

Mordomo de Bento XVI desde 2006, Paolo Gabriele ajuda diariamente o Papa a se vestir, por volta das 6h30, e não o abandona sequer por um instante durante quase todo o dia, servindo-lhe as refeições e acompanhando-o até a hora de deixá-lo, por volta das 19h30, após servir o jantar.

Gabriele "ama tanto o Papa que não o trairia nunca", afirmou, sob a condição do anonimato, um sacerdote com quem o mordomo se confessou no passado, citado pelo jornal La Stampa. "Conheço Paolo há anos. Acompanhei-o espiritualmente e posso testemunhar que encontrei uma pessoa amante da Igreja e dedicado aos Papas, antes a João Paulo II e agora a Bento XVI", acrescentou o religioso.

"Nunca ouvi falar mal dele ou de fofocas a seu respeito e, acreditem que isto é raro, pois infelizmente no nosso meio se ouve falar muito mal das pessoas", disse o homem, qualificado de "monsenhor" pelo jornal. O sacerdote apóia a hipótese, sem aprofundá-la, de que Gabriele, a quem qualificou de "simples e ingênuo", seria vítima de um conflito com alguém "muito poderoso" no Vaticano.

Para o jornal La Repubblica, Paolo Gabriele é um dos instrumentos de um grupo não identificado de "cardeais, arcebispos e monsenhores" que preparam "um verdadeiro golpe de Estado" no Vaticano. O objetivo deste grupo é "tomar o controle da secretaria de Estado", ou seja, o governo do Vaticano, atualmente chefiado pelo cardeal italiano Tarcisio Bertone, considerado um fiel de Bento XVI, e "depois, sucessivamente, conquistar o conclave com um papa saído de suas fileiras".

"Os cérebros que conceberam o plano são os mesmos que forneceram à imprensa os documentos secretos por meio de 'espiões', com o objetivo de semear o caos e derrubar o governo vaticano", acrescentou o jornal.

A gendarmeria vaticana deteve Gabriele na quarta-feira e descobriu documentos confidenciais em seu domicílio, um mês depois da criação de uma comissão de investigação no Vaticano, composta por três cardeais e encarregada de esclarecer os vazamentos de documentos que abalam o pequeno Estado desde janeiro.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
Compartilhar
Publicidade