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Mohamed Mursi assume como primeiro presidente islamita e civil do Egito

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CAIRO, 30 Jun 2012 (AFP) -Mohamed Mursi tornou-se oficialmente neste sábado o primeiro presidente islamita e civil do Egito, sucedendo Hosni Mubarak, derrubado no início de 2011 por uma revolta popular sem precedentes.

Mas mesmo após a sua posse, Mursi deverá compor o governo com o Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), para o qual Mubarak transferiu o poder ao renunciar sob pressão popular, e que manteve vastos poderes.

"Eu juro por Deus todo-poderoso preservar o sistema republicano, respeitar a Constituição e a lei, proteger inteiramente os interesses do povo e preservar a independência da nação e a segurança de seu território", declarou Mursi diante da Alta Corte Constitucional.

"Hoje, o povo egípcio estabeleceu as bases de uma vida nova, de uma liberdade total, de uma verdadeira democracia", acrescentou.

Pouco depois, na Universidade do Cairo, onde celebrou a sua posse, Mursi se comprometeu novamente a ser o presidente de todos os egípcios, tanto muçulmanos como cristãos, e a garantir "liberdade, justiça e dignidade humana" para a população.

"Trabalharemos juntos para estimular os investimentos e trazer de volta o turismo", prometeu também.

O novo presidente, cujas prerrogativas foram limitadas por uma "Declaração Constitucional Complementar" adotada há duas semanas pelo Exército, saudou o CSFA por "ter mantido a sua promessa (..) de não ser uma alternativa à vontade popular".

Mas a partir de agora, "as instituições eleitas vão retomar o seu papel e o grande Exército egípcio voltará a sua missão de proteção da segurança e das fronteiras do país", acrescentou diante de centenas de pessoas, incluindo o marechal Hussein Tantawi, chefe do CSFA e ministro da Defesa de Mubarak durante 20 anos.

Mursi também declarou que o Egito apoia os "direitos legítimos" dos palestinos e quer o fim do "derramamento de sangue" na Síria.

A chegada ao poder de Mursi marca uma virada na história da Irmandade Muçulmana, fundada em 1928, oficialmente proibida em 1954 e, depois, relativamente tolerada no governo Mubarak, do qual foi o principal alvo. O próprio Mursi foi preso nesse período.

Direito de veto Mas a convivência deve ser delicada com o Conselho Militar, que recuperou o poder legislativo após a dissolução da Câmara dos Deputados dominada pelos islamitas em meados de junho, sob decisão judicial.

O procedimento de posse havia causado na época uma queda de braço entre os militares e a Irmandade Muçulmana, com os primeiros considerando que Mursi deveria assumir o governo diante da Corte Constitucional, enquanto as Forças Armadas insistiram para que ele tomasse posse no Parlamento.

O presidente finalmente cedeu, não sem ter desafiado o Exército na sexta-feira, tomando posse de forma simbólica diante de dezenas de milhares de pessoas reunidas no Cairo na emblemática Praça Tahrir, "a praça da liberdade e da revolução", segundo suas próprias palavras.

"Vocês são a fonte do poder e da legitimidade, acima de todos. Não há lugar para ninguém, para nenhuma instituição (...), acima desta vontade", havia bradado diante de uma multidão empolgada.

Com o poder legislativo, os generais mantêm um direito de veto sobre qualquer nova lei ou medida orçamentária que não tenha sido adotada com o seu consentimento e se reservam também o direito de acompanhar a redação da futura Constituição, pedra angular da divisão dos poderes no futuro.

O novo presidente deverá governar enquanto o Egito ainda não tiver uma Constituição, já que a Carta Magna em vigor com Mubarak foi suspensa e a redação da nova, adiada.

Além da tensão política, Mursi deverá enfrentar uma situação econômica difícil, mesmo que sua vitória tenha sido saudada por uma alta recorde da Bolsa do Cairo após semanas de incertezas.

Depois do anúncio oficial de sua vitória, ele começou a trabalhar na formação de um "governo de coalizão" destinado a dar garantias de abertura e a ampliar sua base política frente aos militares, dando a entender que seu primeiro-ministro poderá ser uma personalidade "independente".

Mursi foi eleito nos dias 16 e 17 de junho com 51,73% dos votos no segundo turno da eleição presidencial, no qual enfrentou Ahmed Shafiq, o último primeiro-ministro de Mubarak.

iba/dm

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