PUBLICIDADE

Mundo

Médicos forçam alimentação de presos em Guantánamo

30 abr 2013 - 21h34
(atualizado às 21h37)
Compartilhar

Greves de fome não são novidade em Guantánamo. Jornalistas que visitam a prisão americana rotineiramente são levados ao centro médico.

Nele, um médico militar explica como lida com detentos que recusam comida por qualquer período de tempo.

Ele diz que testou o método nele mesmo, para saber como o detento se sente. Porém, possivelmente o médico passará por essa experiência apenas uma vez.

Os detentos, alguns em greve de fome há muitos meses, passam pelo desconforto muitas vezes. Eles são alimentados por meio de uma sonda nasal, que despeja comida na forma líquida diretamente no estômago. O procedimento muitas vezes é feito de forma forçada.

Eu vi a cadeira onde os detentos são amarrados enquanto o procedimento é feito.

Mas a equipe de militares da prisão insiste que seus procedimentos estão em consonância com o lema da base sobre tratamento "seguro, humano, legal e transparente". Eles dizem que não desejam que um preso morra sob sua responsabilidade .

Os seis suicídios que já aconteceram no local prejudicaram a imagem de Guantanamo.

Mas, apesar da greve de fome não ser uma prática incomum em Guantánamo, o número de envolvidos no atual protesto é impossível de ignorar. Dezenas de médicos adicionais tiveram que ser mandados para trabalhar na prisão.

Um porta-voz de Guantánamo afirmou que cem dos 166 detentos da prisão estão atualmente envolvidos no protesto.

Advogados dos presos dizem que a greve abrange um número maior de detentos.

Um jornalista que esteve recentemente no complexo disse que os guardas têm tido que lidar com um número cada vez maior de alertas "código amarelo" - que significa que um preso está em condições críticas de saúde.

Advogados de alguns dos detentos afirmaram que seus clientes já estão sucumbindo à fraqueza.

Corão

O protesto teria sido motivado por um incidente específico.

No dia 6 de fevereiro, guardas da prisão faziam uma vistoria no campo seis, onde são mantidos os prisioneiros "cooperativos".

A inspeção teria detectado itens contrabandeados, supostamente apreendidos nas celas. Mas, os detentos reclamaram que exemplares do Corão se extraviaram durante a operação.

Assim começou a maior greve de fome da história da prisão. Desde então, aparentemente o tratamento aos presos foi relaxado.

No campo seis, a maioria dos detentos foi autorizada a se reunir e passou a ter acesso a TV por satélite. Eles também puderam fazer telefonemas para seus advogados.

Alguns dos prisioneiros receberam até o direito de telefonar para seus parentes por meio do Skype. Mas o clima voltou a ficar tenso.

No dia 13 de abril, detentos e carcereiros entraram em confronto em áreas comuns do presídio. Segundo autoridades americanas, alguns deles estariam portando armas improvisadas.

Em resposta, os guardas dispararam armas não letais.

Militares americanos afirmaram que invadiram o local onde estavam os presos depois que eles cobriram janelas e câmeras de segurança.

Depois do incidente, as reuniões foram proibidas e os detentos passaram a ser mantidos apenas em celas individuais.

Advogados classificaram o protesto como uma reação ao tratamento rígido dado aos detentos.

Porém, a ação dos presos também parece ser coordenada e elaborada para atrair a atenção.

Em minhas visitas à base, aparentemente as condições melhoraram. Mas isso não parece suficiente para aplacar a raiva crescente de prisioneiros mantidos por anos na prisão, sem perspectiva de julgamento.

Promessa de Obama

Se as ordens do presidente Obama tivessem sido seguidas, Gunatánamo já teria sido fechada há muito tempo.

Ele prometeu durante a campanha que o complexo seria fechado em um ano.

Mas o desejo do presidente foi frustrado por republicanos e até democratas no Congresso. Eles bloquearam as tentativas de levar os detentos a julgamento em tribunais federais americanos.

Na terça-feira, Obama disse que tentaria fechar a prisão novamente. Mas, as mãos deles podem estar atadas.

O enviado especial do Departamento de Estado que estava encarregado de encontrar países dispostos a receber prisioneiros que poderiam ser libertados foi recentemente "transferido".

O pequeno fluxo de prisioneiros que deixavam Guantanamo para a Arábia Saudita ou para Bermuda foi interrompido.

Relatórios de que alguns detentos de Guantánamo teriam "retornado ao campo de batalha" endureceram a opinião pública.

O presidente pode ser cauteloso em permitir que dezenas de detentos retornem ao Iêmen. Mas o pano de fundo é que a maioria dos detentos já poderia ser libertada.

Poucos foram acusados de terrorismo. O senso de "injustiça" causado por isso é uma questão que deve ser tratada pelo governo americano.

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
Publicidade