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Mundo

Manifestações contra o governo entram no terceiro dia na Turquia

2 jun 2013 - 21h04
(atualizado às 21h25)
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Dezenas de milhares de pessoas voltaram às ruas das principais cidades da Turquia neste domingo para protestar, muitos pedindo a renúncia do governo.

Novamente, a polícia usou gás lacrimogêneo e canhões de água em algumas áreas, incluindo Istambul, onde a multidão foi para a frente do gabinete do primeiro-ministro, Recep Tayyp Erdogan.

O ministro do Interior turco, Muammer Guler, disse à imprensa estatal que mais de 1,7 mil pessoas foram presas durante os protestos que se espalharam por 67 cidades do país. Muitas delas já foram liberadas.

Centenas de pessoas teriam ficado feridas nos choques com a polícia.

Segundo o correspondente da BBC em Istambul James Reynolds, os protestos refletem a insatisfação do público com o governo do país devido ao que eles acreditam ser um aumento do autoritarismo.

Os turcos temem que o partido de Erdogan, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) esteja tentando impor valores conservadores islâmicos no país que é oficialmente secular. A população também teme que o governo desrespeite suas liberdades individuais.

Na semana passada, o governo aprovou rapidamente uma nova legislação que proíbe a venda e a propaganda de bebidas alcoólicas. Analistas afirmam que esta medida causou tensão entre os secularistas do país.

Muitos se sentiram ofendidos quando Erdogan defendeu a nova lei afirmando que pessoas que bebem são "alcoólatras".

No sábado, centenas de manifestantes se reuniram em um parque de Ankara e muitos consumiram bebidas alcoólicas em protesto contra as restrições do governo.

Área verde e oposição

Estes são os maiores protestos contra o governo da Turquia nos últimos anos.

As manifestações começaram na sexta-feira devido a um plano das autoridades para fazer mudanças no parque Gezi, na praça Taksim, em Istambul.

Mas, depois que a polícia usou gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar a pequena manifestação, o que desencadou acusações de uso excessivo da força, o número de pessoas nas ruas aumentou muito e se transformou em um protesto contra o governo.

Neste domingo, os choques violentos voltaram a ocorrer no bairro de Besiktas e alguns manifestantes fizeram barricadas e atiraram pedras contra o gabinete do primeiro-ministro em Istambul.

Em Ankara, a polícia disparou gás lacrimogêneo contra milhares de manifestantes que tentaram se dirigir ao gabinete do premiê na cidade.

Também ocorreram choques em Izmir e Adana.

'Servo do povo'

Em uma entrevista transmitida pela televisão neste domingo, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, no poder desde 2002, negou acusações de que está agindo como um ditador e afirmou que é um "servo do povo".

O premiê disse ainda que os protestos estavam sendo provocados pelo Partido Republicano do Povo (CHP), de oposição, e que aqueles que participavam das manifestações estavam tentando prejudicar a democracia. Erdogan também afirmou que os manifestantes não passavam de "uns poucos saqueadores".

O primeiro-ministro turco aproveitou a entrevista para criticar as redes sociais, o meio usado para cooordenador os protestos. Erdogan afirmou que o Twitter é uma "maldição e uma "versão radical da mentira".

A forma como o governo turco enfrentou os protestos dos últimos dias foi criticada por grupos de defesa dos direitos humanos e pelos Estados Unidos.

Bandeiras e panelas

O correspondente da BBC em Istambul James Reynolds visitou um bairro rico da cidade turca e viu mulheres nas varandas de apartamentos batendo panelas e acenando com bandeiras turcas em apoio aos manifestantes.

Carros nas ruas também buzinam para apoiar os protestos e o barulho se espalha pela cidade.

A algumas quadras de distância, os manifestantes passam pelo que restou de caminhões e carros. Várias ruas estão bloqueadas por barricadas improvisadas e alguns manifestantes posam para fotos em frente a um carro de polícia queimado.

Um homem exibe um copo de cerveja, desafiando a restrição do governo.

"Estou aqui por causa do (primeiro-ministro) Erdogan, somos contra ele. Ele é um ditador. Todas as vezes que queremos falar sobre nossas crenças, ele diz; 'Não, você não pode falar. Você mente e é muito pequeno'", afirmou Yasemin Cakici, um professor.

Na praça Taksim muitos estudantes se revezam nos protestos.

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