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Mães de Srebrenica completam 20 anos buscando filhos desaparecidos na guerra

10 jul 2015 - 06h11
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Há duas décadas, Hajra Catic procura seu filho Nihad. 'Nino', como ela o chamava, tinha 26 anos quando desapareceu após a tomada da cidade bósnia de Srebrenica pelas tropas servo-bósnias. Mais de 8 mil muçulmanos foram assassinados na ocasião, e outros 1.000 continuam desaparecidos.

Hajra é a presidente da Associação Mães de Srebenica. A organização busca justiça e procura familiares desaparecidos no genocídio ocorrido depois que Srebrenica, teoricamente protegida por boinas azuis holandeses da ONU, foi conquistada pelos servo-bósnios em 11 de julho de 1995.

"Meu marido foi achado em uma vala comum. Em cima tinham jogado lixo. Estava completo, com todos os ossos", conta Hajra, que conserva a esperança de encontrar algumas partes de seu filho Nino.

"É feio dizer isso, mas se pudesse escolher, eu gostaria que Nino também estivesse em uma vala comum, em vez de estar 20 anos à intempérie. Muitos ossos foram levados por animais e inundações", explica.

Conforme levantamentos das Mães de Srebrenica, no total, foram 10.700 vítimas. Oficialmente, foram registradas 8.371, embora acredite-se que famílias inteiras tenham morrido e cujo desaparecimento não foi contabilizado porque não há quem as procure.

Até o momento, foram localizadas e identificadas 6.800 vítimas por exames de DNA, cujos restos mortais foram colocados no Centro Memorial de Potocari, perto da cidade e onde este sábado vai acontecer a cerimônia em homenagem aos 20 anos do pior massacre cometido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

No mês passado, Hajra ganhou uma nova esperança: uma mandíbula foi encontrada na margem de um rio da região, e ela acredita que possa ser do seu filho.

"Testemunhas disseram que meu Nino foi levado para lá ferido. Há três anos, o lugar foi analisado pela primeira vez, mas estava minado", contou.

Apesar disso, ela começou a buscar sozinha os restos mortais do filho, mas foi impedida de continuar justamente por conta das minas.

"Peço a Deus para que seja do meu filho. Estou esperando os resultados dos exames", disse.

A maioria dos corpos achados em valas comuns estava incompleta, entre outras razões, porque eles foram levados pelos servo-bósnios de uma fossa a outra para ocultar o massacre, e há famílias de vítimas que não aceitam o enterro de seus parentes por que só encontraram poucos ossos.

"Elas acreditam que seja possível encontrar outras partes do esqueleto. Eu não deixaria passar se encontrasse algo do meu menino, aceitaria o enterro. Talvez, a mandíbula...", afirmou Hajra.

"Sabia que mataram, inclusive, um recém-nascido que não tinha vivido nem um dia inteiro? Essa foi a vítima mais jovem: o bebê de Hava e Hajrudin Muhic, que nasceu na base da UNPROFOR (a missão da ONU) em Potocari na noite de 12 para 13 de julho", relatou.

Os militares servo-bósnios, sob o comando do general Ratko Mladic, ocuparam Srebrenica em 11 de julho. Os moradores da cidade, que eram assediados, fugiram para Potocari confiantes que seriam protegidos pelos soldados holandeses, mas se enganaram.

As tropas de Mladic assassinaram mais de 8 mil homens bósnios-muçulmanos civis de Srebrenica, expulsaram 30 mil mulheres e crianças e cometeram muitos outros crimes, inclusive torturas e estupros.

O Tribunal Penal Internacional de Haia para crimes de guerra cometidos na ex-Iugoslávia (TPII) e a Corte Internacional de Justiça qualificaram este crime como genocídio. No entanto, Sérvia e a República Servo-Bósnia, (uma das duas entidades em que a Bósnia se dividiu após a guerra) rejeitam a ideia de genocídio, apesar de reconhecerem o massacre pelo qual o governo sérvio, inclusive, pediu perdão.

Os muçulmanos de Srebrenica, que até a guerra eram a maioria da população, sentem que não haverá justiça para eles. A cidade, povoada hoje majoritariamente por sérvios e que tem cada vez menos muçulmanos, faz parte da República Servo-Bósnia, que nega o genocídio e o minimiza.

A isso se soma o medo de que julgamentos por genocídio do TPII contra os principais responsáveis pelo massacre, como os do general Mladic e o do então líder político servo-bósnio Radovan Karadzic, nunca terminem, seja por motivo de doença ou morte dos acusados.

EFE   
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