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Lugo é destituído apesar do apoio e das advertências da Unasul

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O ex-bispo Fernando Lugo foi destituído da presidência do Paraguai após ser considerado "culpado" de mau desempenho de suas funções em um julgamento político que não conseguiu ser evitado pela missão de chanceleres enviada pela Unasul ao país.

Em apenas 30 horas, Lugo foi julgado, sentenciado e seu vice-presidente, Federico Franco, assumiu hoje a presidência até o término do atual mandato, em 15 de agosto de 2013.

Em seu primeiro discurso como chefe de Estado, Franco prometeu que governará buscando o consenso de todos os partidos e os citou um por um. O novo presidente disse ainda que fará uma "transição dentro da ordem constitucional" e "de nenhuma maneira colocará em risco a vigência dos princípios democráticos universais".

Vários países latino-americanos, como Argentina, Equador e Venezuela anunciaram que não o reconhecem como presidente.

Embora Lugo não tenha sido o único a se submeter a este procedimento constitucional, ele foi o primeiro presidente da história do Paraguai a sofrer um impeachment. O ex-presidente lutou até o último momento contra sua cassação, mas assim que a decisão do Congresso foi anunciada ele deu um discurso acatando a medida, apesar da lei, segundo o ex-bispo, "ter sido torcida com um frágil galho ao vento".

"Esta noite saio pela porta da frente da pátria, saio pela porta do coração de meus compatriotas", disse Lugo sem seu habitual sorriso e em meio aos aplausos de seus colaboradores presentes em sua despedida da sede do Executivo.

"Fernando Lugo não responde a classes políticas, não responde à máfia nem ao narcotráfico", disse aparentemente em referência as denúncias contra Horacio Cartes, pré-candidato presidencial pelo Partido Colorado. Lugo responsabiliza Cartes pelo processo que o tirou do poder.

Lugo, que em 2008 conseguiu acabar com 61 anos de domínio político dos colorados, tentou de tudo em sua defesa, desde abrir no Supremo uma "ação de inconstitucionalidade", como pedir um adiamento de três dias das sessões do julgamento. Além disso, ele solicitou que as acusações fossem rejeitadas por falta de provas.

Lugo, no entanto, não compareceu à sessão na qual poderia se defender, e enviou uma equipe de advogados para representá-lo. O ex-presidente acompanhou seu julgamento no Palácio Presidencial junto com a delegação da Unasul.

A inflamada luta pela terra no Paraguai, que causou a morte de 17 pessoas há uma semana durante uma ordem de despejo na fazenda de um político colorado em Curuguaty, foi o principal argumento usado contra o ex-bispo, que assumiu a presidência em 2008 como defensor dos sem-terras e pobres do Paraguai.

Outras acusações que custaram seu cargo simbolizam o mal-estar de seus opositores com o atual governo, inclusive dentro da coalizão com o Partido Liberal, por seu flerte com a esquerda e sua política internacional.

Um ato político de esquerda em um quartel em 2009 e o apoio ao Protocolo Ushuaia II do Mercosul figuram entre as acusações, assim como a onda de insegurança no país e seu suposto apoio às ocupações camponesas na região de plantio de soja de Ñacunday.

Trinta e nove senadores votaram contra do líder, que só conseguiu o apoio de quatro em uma câmara alta constituída como um "tribunal" para o julgamento.

Previamente, os liberais tinham retirado seu apoio ao governo e ordenado a renúncia de seus quatro ministros, o que foi aceito por Lugo em seu último decreto como presidente.

A sentença do Congresso foi precedida por um forte comunicado da Unasul, lido no Palácio pelo secretário-geral do bloco, Alí Rodríguez, que alertou para a "ruptura da ordem democrático" pois Lugo não teria sido respeitado no processo ao não ter tempo suficiente para articular uma defesa.

Os governos da Unasul "avaliarão em que medida será possível continuar a integração sul-americana" com o Paraguai, afirmou.

O Senado teve que comprimir as sessões do julgamento para se chegar a um veredicto às 17h28 local (18h28 de Brasília), pouco antes da noite cair sobre Assunção, como pediu ontem um senador que temia uma onda de violência no país.

Mas quase não ocorreram incidentes significativos na manifestação que reuniu centenas de seguidores de Lugo em frente ao Congresso. O ex-presidente pediu calma aos seus correligionários ao se despedir para que o "sangue dos justos não seja derramado nunca mais por causa de interesses mesquinhos". EFE

ja/dk

(foto) (vídeo)

EFE   
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