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Linchamentos: prática antiga assombra não só a Argentina

Na Guatemala, pelo menos 213 pessoas morreram pelas mãos de justiceiros, entre os anos de 2011 e 2013; Bolívia está em segundo lugar. No Brasil, números aumentaram após as manifestações de junho passado

14 abr 2014 - 14h05
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<p>No começo do ano, uma imagem de um adolescente de 16 anos espancado e preso a um poste no Rio de Janeiro causou comoção nas redes sociais. No Brasil, o número de linchamentos tem aumentado nos últimos meses.</p>
No começo do ano, uma imagem de um adolescente de 16 anos espancado e preso a um poste no Rio de Janeiro causou comoção nas redes sociais. No Brasil, o número de linchamentos tem aumentado nos últimos meses.
Foto: Reprodução Facebook

Justiceiros ou assassinos? Não é de hoje que existem pessoas que decidem fazer justiça com as próprias mãos e também não é nova a dúvida sobre a legitimidade desses atos. 

Apesar de, no mundo inteiro, não existirem leis que defendam o linchamento, alguns cidadãos acreditam que essa seja a alternativa para a falta de segurança oferecida pelo Estado.

Na Argentina, desde meados de março, uma série de espancamentos tem sido registrada em diferentes cidades. Pelo menos quinze casos de linchamento aconteceram em bairros ricos como Palermo, na capital Buenos Aires, e nas províncias de Santa Fé, Córdoba, La Rioja, Catamarca e Mendoza. 

A única vítima fatal dos últimos ataques no país foi a primeira deles. David Mareyra, de 18 anos, morreu após ser acusado de tentar roubar a bolsa de uma idosa na cidade de Rosário. O jovem foi chutado até a morte por cerca de 50 pessoas, no último dia 22.

Segundo uma pesquisa do centro de sondagens Raúl Aragón e Associados, cerca de 30% da população de Buenos Aires apoia a violência popular contra criminosos.

Em contrapartida, a presidente Cristina Kirchner se apresenta contrária à atitude e deixou clara sua posição em um discurso recente. "Precisamos de olhares e vozes que tragam tranquilidade, não de vozes que tragam desejos de vingança, de luta, de ódio, isto é ruim", disse Kirchner, fazendo uma referência indireta aos incidentes. 

Da prática ao uso do termo

O termo "linchamento" (em inglês, "lynching") começou a ser usado após a guerra da independência dos Estados Unidos, em 1782. Na ocasião, o juiz Charles Lynch decidiu castigar, além dos limites da lei, um grupo que havia sido absolvido por outro juiz. 

Com isso, a palavra passou a designar o ato de condenar, com as próprias mãos, uma pessoa que tenha infrigido a lei, ultrapassando o processo judicial. Geralmente, é cometido por uma multidão e, nem sempre, acaba em morte.  

Embora essa tenha sido a origem da chamada "lei de Lynch", a prática é ainda mais antiga. Na Idade Média, já havia registros da atitude na Europa. Existem, ainda, passagens bíblicas que remetem à prática de linchar uma pessoa, como o caso da mulher adúltera, que, segundo a igreja católica, só não foi apedrejada graças à intervenção de Jesus Cristo.

<p>Na Guatemala, pelo menos 213 pessoas morreram em apenas dois anos em casos de linchamentos.</p>
Na Guatemala, pelo menos 213 pessoas morreram em apenas dois anos em casos de linchamentos.
Foto: AFP
Um mal que assola o mundo inteiro

Na América-Latina, a Guatemala se destaca como o país onde há mais casos registrados. Entre 2011 e 2013, pelo menos 213 pessoas morreram pelas mãos dos chamados "justiceiros" no país. Em segundo lugar, está a Bolívia, que registrou 190 mortes entre os anos de 2005 e 2013. Os dados são da Defensoria do Povo. 

Linchamentos também são cometidos em países como Peru, Equador, México e Brasil. Há registros também de casos nos EUA, no Egito, no Haiti, no Líbano, no Quênia, na República Centro-Africana e em Israel. No entanto, as estatísticas são difíceis de serem alcançadas, pois são retiradas de uma minuciosa revisão de notícias publicadas em jornais. Afinal, tais crimes, quando registrados, aparecem como homicídio ou como tentativa de homicídio, nas delegacias.

Brasil

No Brasil, um estudo feito pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo registrou 1179 casos de linchamento entre os anos de 1980 e 2006, ou seja, uma média de 45 casos por ano. 

De acordo com o sociólogo José de Souza Martins, o país tem passado por um aumento significativo no número de casos. "Há três anos, eram três ou quatro por semana. Depois das manifestações de junho [do ano passado], passou a uma média de uma tentativa por dia. Hoje estamos a mais de uma tentativa de linchamento diária", disse o pesquisador ao jornal El País. 

Segundo um estudo divulgado pela ONU na última semana, o Brasil é considerado hoje um dos 25 países mais violentos do mundo, ocupando a 16ª posição do ranking. A Guatemala está em 5º lugar nesta lista mundial. De acordo com a pesquisa, a América Latina atualmente é a região com mais homicídios em todo o mundo.

Fonte: Terra
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