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Iniciativas estimulam alemães a abrigar refugiados em suas casas

2 set 2015 - 18h32
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Diante do crescente número de refugiados chegando diariamente à Alemanha e a superlotação de abrigos temporários do país, iniciativas da sociedade civil e do governo têm buscado novas formas de abrigar esses imigrantes, inclusive oferecendo moradia temporária na casa de alemães.

Depois de abrigar um refugiado em sua casa, alemães criaram site para que amigos fizessem o mesmo
Depois de abrigar um refugiado em sua casa, alemães criaram site para que amigos fizessem o mesmo
Foto: Jean-Paul Pastor Guzmn

É o caso do Flüchtlinge Willkommen ("Bem-vindos, Refugiados", em alemão), que funciona como o popular site Airbnb - mas que, em vez de turistas, é voltado para quem se sentiu obrigado a deixar seu país.

Desde novembro, o Flüchtlinge Willkommen já intermediou o aluguel de 80 quatros na Alemanha e recebeu mais de 1,5 mil ofertas de pessoas que desejam abrigar refugiados.

O portal surgiu quando três jovens de Berlim decidiram oferecer um quarto vago no seu apartamento.

"Ia fazer intercâmbio no Egito e precisava alugar meu quarto durante esse período. Já acompanhava a situação dos refugiados há algum tempo e tive a ideia de proporcionar uma nova casa a alguém, já que faltam abrigos para quem pede asilo atualmente", disse Mareike Geiling, uma das fundadoras do site, ao jornal .

Seus colegas de apartamento, Jonas Kakosche e Golde Ebding, aprovaram a proposta, e os três recolheram doações com amigos e familiares para bancar o aluguel do quarto.

Em duas semanas, já tinham o suficiente para seis meses de aluguel. Bastou, então, encontrar o novo morador.

"Um amigo nos apresentou ao Bakary, um ourives que fugiu do Mali e vivia nas ruas de Berlim. No mesmo dia, ele se mudou para o nosso apartamento", contou Geiling.

A experiência deu certo, e eles desenvolveram um site para que amigos pudessem fazer o mesmo.

O Flüchtlinge Willkommen acabou se tornando a primeira plataforma online de aluguel de quartos do tipo.

A iniciativa já tem adeptos também na Áustria, onde o projeto foi lançado em janeiro passado. Pelo site austríaco, já foram intermediados mais de 40 quartos.

Financiamento coletivo

O processo para quem deseja disponibilizar um quarto é simples. Primeiro, é preciso preencher um formulário no site sobre o apartamento e seus moradores.

A partir de então, parceiros locais procuram refugiados que mais se adaptam ao perfil do grupo e intermediam o contato. Se ambos concordarem, o quarto é alugado.

O aluguel pode ser pago de diferentes formas. Muitas vezes, é usado o auxílio mensal para moradia oferecido pelos governos de Estados alemães para refugiados em situação legal.

O valor do benefício varia conforme o tamanho e a região do apartamento.

Os criadores do Flüchtlinge Willkommen também sugerem o sistema de financiamento coletivo, em que cidadãos podem fazer microdoações para pagar a estadia.

Outras iniciativas

Além do Flüchtlinge Willkommen, há outras iniciativas que intermedeiam não somente o aluguel de quartos para refugiados, mas também de apartamentos.

Em Berlim, o Trabalho de Assistência e Juventude Luterana (EJF, na sigla em alemão) foi a organização escolhida pelo Departamento Estadual para Saúde e Assuntos Sociais (LaGeSo) para administrar esse sistema de aluguéis.

O processo é um pouco mais burocrático do que o do Flüchtlinge Willkommen. Os interessados precisam, primeiro, entrar em contato por telefone com a central do EJF.

Depois, os funcionários da organização analisam as informações, enviadas por escrito, sobre o espaço oferecido.

Caso o local seja considerado apropriado, três famílias ou refugiados, juntamente com um intérprete, fazem uma visita para conhecer o imóvel. O proprietário escolhe entre eles quem ficará no apartamento.

Se o proprietário desejar cobrar pelo aluguel, a LaGeSo fica responsável pelo pagamento e das despesas adicionais.

Desde janeiro até julho, o EJF já intermediou o aluguel de 81 apartamentos e quartos na capital alemã.

A porta-voz do EJF, Julie von Stülpnagel, ressaltou à BBC Brasil, porém, que essas moradias são destinadas somente a requerentes de asilo que possuem permissão para ficar no país, mas ainda não foram reconhecidos oficialmente como refugiados.

Só vontade não basta

Com o aumento do interesse de alemães em receberem refugiados em casa, a organização alemã de direitos humanos Pro Asyl (Pró-Asilo) fez um alerta: apenas a solidariedade não é suficiente para o sucesso dessa experiência.

A organização destacou que refugiados têm vontades próprias, nem todos são abertos e simpáticos e que é preciso ter isso em mente na hora de decidir dividir uma casa.

A ONG recomendou ainda que os interessados levem também em consideração que muitos refugiados vêm de contextos culturais diferentes e que alguns sofreram traumas em seu país ou durante a viagem.

Por isso, muitos precisam morar em locais que ofereçam na vizinhança determinados serviços voltados para eles, como apoio psicológico ou de assessoria para pedidos de asilo.

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