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América Latina

Imigrantes rumo aos EUA ficam no México e criam desafio para o país

16 jul 2013 - 15h37
(atualizado às 16h29)
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Como muitos imigrantes latino-americanos, Ángel Daniel Martínez e Joel decidiram abandonar seu país natal, Honduras, em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos. Mas, ao chegarem ao México, ouviram falar dos sequestros e agressões frequentemente sofridos por quem tenta cruzar a fronteira.

Por isso, decidiram permanecer em território mexicano. Agora, esperam em Huehuetoca, um povoado vizinho à capital do país, Cidade do México, a oportunidade de encontrar um emprego. Eles mantêm o otimismo, disse Joel à BBC Mundo. "Nós queremos ficar aqui, não pelos papéis (vistos). Queria encontrar um trabalho e conhecer o México", acrescentou.

Eles não são os únicos. Há vários meses, cresce a quantidade de imigrantes da América Central que, em vez de cruzar a fronteira com os EUA, decidem viver no país. Até agora, não há estatísticas oficiais sobre o tema, embora organizações civis e autoridades reconheçam que a maioria permanece no México de forma irregular.

Estimativas do Centro de Estudos Migratórios do Instituto Nacional de Migração (INM) indicam que a cada ano 120 mil imigrantes centro-americanos entram no México pela fronteira sul do país. Mas apenas uma parte decide se regularizar. Em 2012, por exemplo, o INM entregou menos de 10 mil documentos migratórios a centro-americanos.

Guadalajara

A presença de tais imigrantes começa a ser notada em comunidades onde poucas vezes estes haviam chegado ou em cidades nas quais estavam apenas de passagem. É o caso de Guadalajara, capital da província de Jalisco (oeste). Há vários meses, organizações civis fazem um levantamento das dezenas de hondurenhos e guatemaltecos que dormem nas ruas da cidade.

Eles costumam chegar ao México de trem e ficam, em vez de cruzar a fronteira com os Estados Unidos. Muitos são abrigados em albergues, explicou o diretor do Centro de Atenção e Desenvolvimento Integral para Pessoas em situação de Indigência (CADIPSI), Jorge Ramón López Ramírez. "Cada vez há mais imigrantes. Não é um fluxo excessivo, mas o número vem aumentando consideravelmente", disse ele à BBC Mundo.

Cerca de 20% das pessoas que são atendidas pelo CADIPSI são de Honduras, Guatemala ou El Salvador. São, em média, cerca de 100 novos imigrantes por mês, número que não existia há alguns anos.

Guadalajara tornou-se parte de uma das novas rotas migratórias para os centro-americanos que querem cruzar a fronteira entre o México e os Estados Unidos.

Por causa da violência na região noroeste do México - controlada por cartéis de narcotraficantes, como o dos Zetas -, muitos atravessam essa região a bordo de trens antes de rumarem ao norte, onde tentam a sorte na fronteira com os Estados Unidos.

O problema é que essa linha de trem cruza áreas desérticas, onde as temperaturas podem alcançar 50° C.

Por essa razão, alguns desses imigrantes acabam permanecendo em povoados e cidades de Jalisco, Nayarit, Sinaloa ou Baja California, onde buscam emprego.

Reforma migratória e xenofobia

A recente mudança no fenômeno de pessoas que cruzam o México sem vistos preocupa organizações não governamentais, especialmentese a reforma migratória em debate nos EUA acabar por fechar a fronteira sul do país.

Caso a reforma seja aprovada, muitos imigrantes em trânsito se veriam obrigados a permanecer no México, o que pode gerar novos problemas, disse à BBC Mundo Jorge Andrade, do Colectivo Ustedes Somos Nosotros, grupo formado por professores e estudantes mexicanos que debate temas migratórios.

"Há uma crescente xenofobia nos povoados; esses imigrantes são estigmatizados porque muitos mexicanos já não têm oportunidades", explicou.

Os imigrantes centro-americanos competem por empregos, ou, em outros casos, provocam descontentamento na comunidade porque os albergues onde são abrigados contam com serviços que a população local vem pedindo, sem sucesso, aos governantes.

Nos últimos meses, tem crescido o número de agressões sofridas pelos imigrantes e também pelos ativistas que os ajudam. Para especialistas, o problema pode crescer caso mais imigrantes cheguem ao país.

Eles, entretanto, não sabem dizer se o México passará por um fenômeno semelhante ao dos Estados Unidos, onde os imigrantes latino-americanos são frequentemente hostilizados.

Segundo analistas, o problema é que o tema está ausente do debate público e isso pode criar um "pesadelo".

"É uma situação que ainda não foi analisada por completo", advertiu Jorge Andrade. "Não sei quais são as medidas que o governo está tomando porque o México sempre foi um país de trânsito migratório. Agora, estamos nos transformando em um país de destino de imigrantes."

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