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Mundo

Há um ano e sem saber, Bouazizi ateava fogo ao Mundo Árabe

17 dez 2011 - 08h40
(atualizado em 31/1/2014 às 14h30)
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Há exatamente um ano, um vendedor de frutas e legumes tunisiano dava o pontapé inicial na Primavera Árabe. Sem saber, ao atear fogo ao próprio corpo naquela sexta-feira de dezembro de 2010, Mohammad Bouazizi desencadeou uma série de protestos que culminaram com a queda de alguns dos ditadores mais longevos do Mundo Árabe. O governante da própria Tunísia, Zine El-Abidine Ben Ali, foi o primeiro a cair. Na sequência deixaram o poder, vivos ou mortos, Hosni Mubarak, do Egito; Muammar Kadafi, da Líbia; e Ali Abdullah Saleh, do Iêmen.

O então presidente da Tunísia, Ben Ali, visita Mohammad Bouazizi no hospital de Ben Arous, em 28 de dezembro
O então presidente da Tunísia, Ben Ali, visita Mohammad Bouazizi no hospital de Ben Arous, em 28 de dezembro
Foto: AFP

Quando morreu, Bouazizi tinha 26 anos. Desde os 10, era o responsável pelo sustento da mãe e das irmãs. Aos 19, precisou deixar os estudos para dedicar-se em turno integral ao trabalho. Mesmo assim, não conseguia ganhar mais de US$ 140 por mês - a metade do valor de uma única multa que recebeu por não ter uma licença de trabalho, seis meses antes de atear fogo ao próprio corpo.

Apesar das dificuldades, a pobreza em que viviam Bouazizi e sua família não teria sido a causa principal do ato desesperado do tunisiano. Segundo um amigo ouvido pela Al Jazeera, desde criança ele precisava enfrentar policiais que o agrediam e levavam suas mercadorias. Naquele dia, porém, Bouazizi tentou resistir. Negou-se a entregar as frutas e legumes que garantiam o sustento da família. Em contrapartida, recebeu um tapa no rosto de uma policial. "Aquilo o tocou lá no fundo, feriu seu orgulho", afirmou a mãe do vendedor em entrevista logo após sua morte.

Humilhado, Bouazizi tentou recorrer às autoridades. Foi até um posto do governo local, mas não conseguiu ser recebido por ninguém. Desesperado, comprou um galão de combustível e se imolou em frente ao prédio do governo. Onze dias depois, no hospital, ele receberia a visita não do governador, mas da maior autoridade do país à época, o presidente Ben Ali.

Bouazizi passou 18 dias internado no Hospital Ben Arous com queimaduras de segundo grau na maior parte do corpo. Morreu em 4 de janeiro, quando uma série de protestos davam forma à revolução que, apenas 10 dias depois, culminaria na renúncia do presidente. Antes de deixar o cargo, Ben Ali ainda tentou adotar medidas emergenciais, como investimentos para tentar amenizar os altos índices de desemprego, na faixa dos 25%, mas não foi o suficiente.

A tragédia pessoal de Bouazizi tocou todos aqueles que não conseguiam encontrar empregos formais e esbarravam em autoridades corruptas, que os extorquiam para permitir que continuassem trabalhando nas ruas. Outros descontentes pelas mais diferentes razões se somaram a eles e tomaram as ruas dispostos a enfrentar as autoridades, encorajados pela repercussão que o caso ganhou na imprensa internacional.

Estimativas da ONU apontam que mais de 200 pessoas morreram e 500 ficaram feridas durante os protestos no país. Ben Ali fugiu para a Arábia Saudita, de onde pode acompanhar recentemente o novo presidente e seu antigo desafeto Moncef Marzouki colocar seus palácios à venda com a promessa de usar o dinheiro para criar novos empregos.

Fonte: Terra
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