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Mundo

Eleições podem gerar guerra civil em Honduras, diz historiador

26 nov 2009 - 08h02
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Marcos Chavarria
Direto de Porto Alegre

As polêmicas eleições presidenciais em Honduras, marcadas para este domingo, deverão agravar ainda mais a crise política que atinge o país, que poderá mergulhar em uma guerra civil caso todas as tentativas de negociação se esgotem. O cenário sombrio, que faz parte do passado político de muitas nações latino-americanas, é traçado pelo historiador Rafael Araujo, pesquisador do Laboratório de Estudos do Tempo Presente da UFRJ.

Em imagem de arquivo, candidato à presidência de Honduras Porfírio Lobo discursa em evento de campanha
Em imagem de arquivo, candidato à presidência de Honduras Porfírio Lobo discursa em evento de campanha
Foto: AP

"Acredito que a comunidade internacional tem obrigação de não reconhecer o novo presidente. Essas eleições ocorrem sem a presença no governo de um mandatário legitimamente eleito e em meio a um golpe de estado, que inaugurou em Honduras um período de graves violações aos direitos humanos e à liberdade de expressão, através da figura de Micheletti", diz Rafael.

O presidente eleito na votação deste domingo não será reconhecido pela maioria dos países latino-americanos, União Europeia e ONU. Nas últimas semanas, algumas das principais cidades hondurenhas foram alvos de explosões de bombas caseiras e inclusive de armamento militar, segundo a polícia, sem provocar feridos. Até agora, os eventos violentos não alterarão o processo eleitoral, segundo as autoridades do Tribunal Supremo Eleitoral hondurenho (TSE), que já distribuiu a maior parte do material para as eleições com apoio das Forças Armadas e da Polícia.

"A abstenção eleitoral será alta. Creio que supere os 50%, em virtude da campanha pelo desconhecimento ativo das eleições que vem sendo desenvolvida pela Frente Nacional de resistência ao golpe de estado e movimentos sociais do país. Até a última terça, mais de 100 candidatos retiraram seus nomes das eleições. Acredito que isso demonstre o quanto às eleições estão sendo deslegitimadas no país", defende Rafael. "Quanto à violência, creio que, infelizmente, ela estará presente. A imposição do estado de emergência pelo governo, com o chamado de aproximadamente 5 mil reservistas do exército, e a repressão ao movimento pró-Zelaya apontam para isso."

A situação de Zelaya e o abrigo concedido pelo governo brasileiro em sua embaixada em Tegucigalpa não deve se alterar após as eleições. Segundo Rafael, os grupos sociais e o próprio Zelaya não vão aceitar outra solução para o conflito que não inclua o seu retorno ao poder. Por isso, o historiador defende que o governo brasileiro deve continuar apoiando Zelaya, até que a ordem constitucional seja restaurada.

"Por mais que Zelaya possa ter cometido vários equívocos ao longo de seu mandato, nada justifica um golpe de estado. A democracia, a constituição e o respeito aos direitos humanos devem ser garantidos em Honduras. Neste sentido, a presença de Zelaya em nossa embaixada garante minimamente um olhar da comunidade internacional sobre Honduras, algo que não ocorreria com tanta intensidade se o Brasil não tivesse na linha de frente em defesa de Zelaya e da ordem democrática hondurenha", diz Rafael.

Porfírio Lobo
Pesquisas realizadas pelo CID-Gallup indicam que apenas dois candidatos lutam para se eleger na votação de domingo. O favorito é o conservador Porfírio Lobo, candidato do Partido Nacional, com 37% das intenções de voto. Em segundo lugar, Elvin Santos, do Partido Liberal, tem o apoio de 21% dos entrevistados. O candidato independente Carlos Reyes está em terceiro lugar com apenas 6% e não tem chances, de acordo com a imprensa hondurenha.

"Porfírio Lobo é um candidato que representa a direita hondurenha, possuidora de uma participação decisiva na articulação do golpe de estado. Apesar de ser favorito, Lobo é visto com desconfiança pelos setores marginalizados e excluídos socialmente por ser aliado da oligarquia hondurenha que há décadas controla o país", analisa Rafael. "O apoio do seu partido ao golpe de estado é um motivo a mais para tornar o próximo governo ilegítimo. O boicote popular e o rechaço internacional as eleições no meio de um regime autoritário, tornam o repúdio a um provável governo de Lobo ainda mais provável."

Aos 61 anos, Porfírio Lobo é filho do ex-congressista Porfirio José Lobo López - já morto. Ele cursou Administração de Negócios na Universidade de Miami, nos EUA, antes de voltar para Honduras e se dedicar aos negócios de agricultura e pecuária da família. Foi presidente do Congresso, do qual é membro desde 1990, entre 2002 e 2006. Nas eleições de 2005, quando Zelaya foi eleito, ficou em segundo lugar com 46% dos votos.

Elvin Santos
Elvin Santos, 46 anos, é o candidato do Partido Liberal, o mesmo de Zelaya. Diretor da empresa de construção da família, foi acusado de conflito de interesses por ter contratos com a Secretaria de Obras Públicas de Honduras. Ele ocupou o cargo de vice-presidente no governo do presidente deposto entre janeiro de 2006 e dezembro de 2008, quando renunciou para se tornar candidato à presidência.

Em campanha, Elvin disse que seu objetivo será combater a pobreza, mas não deixou claro como fará isso, já que entidades como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial não estão concedendo empréstimos à nação devido à crise política. "Não se trata de uma luta de esquerda ou direita, ou de uma ideologia, trata-se fundamentalmente de enfrentar a pobreza", disse o candidato.

"Elvin Santos também não representa uma dissociação com o golpismo. Ele faz parte do setor do Partido Liberal que apoiou o golpe de estado, sustentando Micheletti no poder. Tanto ele como Lobo representam um setor político que, aliado com as oligarquias hondurenhas, articularam o golpe de estado e sustentaram um regime autoritário, que fere os princípios democráticos e os direitos humanos. Neste sentido, caso ele seja eleito a situação interna hondurenha continuará tensa e internacionalmente, provavelmente, ele terá pouco apoio e legitimidade", analisa Rafael.

Com informações da EFE.

Fonte: Redação Terra
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