PUBLICIDADE

Mundo

Zelaya e governo interino confirmam início do diálogo em Honduras

25 set 2009 - 00h55
(atualizado às 03h20)
Compartilhar

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, afirmou nesta quinta-feira que "o diálogo com o governo interino já começou" para tentar resolver a crise política que se instalou com a deposição do líder em 28 de junho.

"Hoje se iniciou (o diálogo), claro que sim é positivo", disse Zelaya numa declaração ao Canal 36. A vice-ministra das Relações Exteriores do governo de facto, Martha Lorena Alvarado, confirmou o que chamou de "diálogos informais" com o presidente deposto. Em entrevista à BBC, ela disse, no entanto, que as negociações não tem por objetivo a restituição de Zelaya ao poder.

Alvarado acusou a comunidade internacional de "intimidar" Honduras e de não compreender que o governo interino, liderado por Roberto Micheletti, agiu de acordo com a Constituição do país ao depor Zelaya.

Missão

Ainda nesta quinta-feira, o governo interino de Honduras anunciou que aceita receber uma missão integrada pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, e pelo vice-presidente do Panamá, Juan Carlos Varela, para negociar uma solução para a crise.

De acordo com o governo de facto, o encontro com os dois líderes centro-americanos foi sugerido pelo ex-presidente americano Jimmy Carter e deve acontecer "nos próximos dias". Segundo um comunicado divulgado pela Secretaria de Relações Exteriores de Honduras nesta quinta-feira, por este motivo, o governo do presidente interino Roberto Micheletti decidiu adiar uma reunião com uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA).

"O presidente Roberto Micheletti Bain estará à disposição para receber no futuro, em uma data a ser acertada pela via diplomática, a missão integrada por alguns chanceleres americanos e por funcionários da OEA". O presidente da Costa Rica, Oscar Arias, que fará parte da nova missão, foi o mediador do chamado Acordo de San José, uma tentativa fracassada de resolver a crise em Honduras no início do último mês de julho.

Em outro comunicado, o regime interino comemorou o anúncio do retorno dos embaixadores dos países da OEA e da União Europeia a Tegucigalpa e disse que isto "significa o reconhecimento expresso do governo de Roberto Micheletti".

Em entrevista exclusiva à BBC Brasil, o embaixador do Brasil na OEA, Ruy Casaes, afirmou que o secretário-geral da Organização, José Miguel Insulza, deve chegar a Tegucigalpa até domingo. Casaes, que vai acompanhar a missão, afirmou que a OEA tentará partir do acordo de San José para chegar a uma solução para a crise no país.

"O que acontece é o seguinte: a única coisa que está em cima da mesa atualmente é o acordo de São José. Não quer dizer que outras idéias não possam surgir", afirmou Casaes à BBC Brasil.

O embaixador afirmou ainda que é necessário um esforço tanto de Zelaya quanto do governo interino para um acordo que solucione a crise. Segundo ele, o governo interino não teria mostrado disposição em se encontrar uma solução.

"A sensação pela perspectiva da OEA, que é onde eu atuo, é que desde o início o regime de fato estabeleceu como estratégia de sobrevivência e permanência no poder para ganhar tempo. Dizer uma coisa, dizer outra, voltar atrás e nunca realmente buscar um entendimento que venha em última análise beneficiar o povo hondurenho", afirmou.

"Intromissão"Também nesta quinta-feira, regime de facto de Honduras acusou o governo brasileiro de "promover" a volta do presidente deposto, Manuel Zelaya, ao país e afirmou que a embaixada do Brasil em Tegucigalpa se transformou "em uma concentração de pessoas armadas que ameaçam a paz e a ordem pública em Honduras".

Em um comunicado divulgado pela Secretaria de Relações Exteriores, o regime interino de Honduras também acusou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "intromissão nos assuntos internos" do país e de saber com antecedência que Zelaya se abrigaria na missão diplomática brasileira em Tegucigalpa. "Sendo a presença do senhor Zelaya na missão do Brasil em Tegucigalpa um ato promovido e consentido pelo governo do Brasil, recai sobre ele a responsabilidade pela vida e segurança de Zelaya e por danos à integridade física das pessoas e propriedades derivadas", diz o comunicado.

No documento, o governo interino ainda afirma que a embaixada brasileira em Tegucigalpa se transformou em uma "plataforma de propaganda política". "(O governo brasileiro é responsável) por transformar a missão em uma plataforma de propaganda política e em uma concentração de pessoas armadas que ameaçam a paz e a ordem pública de Honduras".

O documento repete as acusações feitas há dois dias pela vice-chanceler do governo interino, Martha Lorena Alvarado, que, em entrevista à BBC, afirmou que o Brasil seria o responsável caso um "derramamento de sangue" aconteça.

Manifestação
Também nesta quinta-feira, após a suspensão do toque de recolher que vigorava em todo o país, manifestantes pró-governo interino fizeram um protesto na frente da sede das Nações Unidas em Tegucigalpa contra a "ingerência" internacional em Honduras. O protesto foi convocado pela União Cívica Democrática, grupo que apoia o governo do presidente interino Roberto Micheletti, e teria reunido cerca de 20 mil pessoas.

O grupo teria tentado se aproximar da embaixada brasileira, mas foi impedido por um cordão de isolamento feito por policiais. Os manifestantes teriam seguido então para as proximidades da embaixada dos Estados Unidos. De acordo com o jornal El Heraldo, durante o protesto, alguns manifestantes gritavam "Lula, Lula, leve essa mula", referindo-se ao presidente brasileiro e a Manuel Zelaya.

Normalidade
Também nesta quinta, o governo interino de Honduras autorizou a reabertura dos aeroportos do país pela primeira vez desde a última segunda-feira, quando Zelaya retornou a Tegucigalpa. No primeiro momento, apenas os voos locais estavam autorizados, mas, de acordo com o jornal La Prensa, os voos internacionais foram permitidos já na tarde desta quinta-feira. Algumas companhias aéreas estariam planejando retomar as operações na manhã de sexta-feira. A reabertura dos aeroportos coincide com a suspensão do toque de recolher.

Com as medidas, o governo de Roberto Micheletti esboça um retorno do país à normalidade, depois de três dias de turbulências devido à volta de Zelaya. Desde segunda-feira, de acordo com o governo interino, pelo menos duas pessoas morreram nos conflitos.

A primeira morte havia sido confirmada na quarta-feira, e uma segunda foi confirmada nesta quinta. De acordo com o repórter da BBC Andy Gallacher, que está em Tegucigalpa, no entanto, o número de mortos é contestado por Zelaya, que chegou a afirmar que o número de vítimas fatais é muito maior e pode chegar a dez.

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
Publicidade