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Genocídio de 1915 ainda gera tensão entre Armênia e Turquia

Pela primeira vez em 99 anos, o governo turco abordou o tema abertamente, mas não reconheceu o crime, cometido entre 1915 e 1917

24 abr 2014 - 17h14
(atualizado às 17h19)
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<p>O primeiro-ministro turco emitiu uma mensagem conciliatória para os armênios, na véspera do aniversário do massacre de armênios há quase 100 anos</p>
O primeiro-ministro turco emitiu uma mensagem conciliatória para os armênios, na véspera do aniversário do massacre de armênios há quase 100 anos
Foto: AP

Comunicados oficiais dos governos turco e armênio, por ocasião dos 99 anos do genocídio de armênios pelo Império Otomano (entre 1915 e 1917) mostram que o primeiro e um dos quatro maiores genocídios do século 20 – junto com o Holocausto, Camboja e Ruanda – ainda gera divergências entre Armênia e Turquia, país que sucedeu o antigo império.

A deportação forçada e a matança com intenção de exterminar a presença cultural e econômica armênia em seu território pode ter vitimado até 1,5 milhão de armênios.

No dia 24 de abril de 1915, dezenas de lideranças armênias foram presas e massacradas em Istambul e, por isso, a data é adotada como o início do massacre. Pela primeira vez em quase 100 anos, o governo turco abordou o tema abertamente e apresentou "pêsames" pelo ocorrido.

Na última quarta-feira, 23, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, apresentou condolências da Turquia "aos netos dos armênios mortos em 1915", se referindo ao genocídio cometido pelo Império Otomano no contexto da Primeira Guerra Mundial. Oficialmente, no entanto, a Turquia, desde sua fundação em 1923, nunca reconheceu o genocídio armênio.

<p>Mais de um milhão de armênios morreram no massacre, que começou em 1915</p>
Mais de um milhão de armênios morreram no massacre, que começou em 1915
Foto: AFP

No comunicado, Erdogan afirma que é um "dever humano compreender e partilhar a vontade dos armênios em lembrar os seus sofrimentos durante essa época" e deseja que os que perderam sua vida nesse contexto repousem em paz.

"Exprimimos as nossas condolências aos seus netos", disse. O primeiro-ministro ressaltou, no entanto, que é "inadmissível" que os acontecimentos de 1915 sejam usados como "pretexto" para hostilizar a Turquia ou promover o "conflito político".

"No mundo de hoje, promover a inimizade através da história e criar novos antagonismos não é aceitável nem útil para a construção de um futuro comum", disse Erdogan. Por fim, ele reforçou o apelo da Turquia em se estabelecer uma comissão conjunta, com historiadores turcos, armênios e internacionais, para estudar os acontecimentos de 1915 "na perspectiva de uma abordagem acadêmica".

<p>O presidente da Armênia, Serge Sarkissian, acusa a Turquia de insistir em uma "política de negação completa" do genocídio</p>
O presidente da Armênia, Serge Sarkissian, acusa a Turquia de insistir em uma "política de negação completa" do genocídio
Foto: AFP

Atualmente, enquanto a Armênia e organismos internacionais como a ONU adotam o número de aproximadamente 1,5 milhão de mortos por perseguições e deportações, a Turquia considera que cerca de 500 mil armênios morreram, mas de fome ou em combates durante a Primeira Guerra Mundial, rejeitando o termo genocídio.

Mesta quinta-feira, um dia depois das condolências turcas, o presidente da Armênia, Serge Sarkissian, acusou a Turquia de insistir em uma "política de negação completa" do genocídio.

"Estamos convencidos de que a negação de um crime constitui a sua continuação direta. Apenas o reconhecimento e a condenação podem impedir a repetição de um crime destes no futuro", disse por meio de um comunicado.Sarkissian disse ainda que a proximidade do 100º aniversário do massacre dá à "Turquia uma boa oportunidade de se arrepender e pôr de lado o estigma histórico".

Entre os 21 Estados que reconhecem oficialmente o genocídio estão Alemanha, Canadá, França, Holanda, Itália, Rússia e Vaticano. Na América do Sul, Argentina, Chile e Venezuela reconhecem. O Brasil e Estados Unidos nunca reconheceram de forma oficial o genocídio, embora São Paulo, Paraná e Ceará, além de 43 estados norte-americanos reconheçam.

<p>Um cravo é depositado sobre uma lista com as vítimas do genocídio que completa 99 anos, nesta quinta-feira</p>
Um cravo é depositado sobre uma lista com as vítimas do genocídio que completa 99 anos, nesta quinta-feira
Foto: AFP

O Brasil recebeu uma grande quantidade de armênios sobreviventes do genocídio. Atualmente, estima-se que o número da comunidade armênia no país esteja próximo a 100 mil pessoas, vivendo principalmente nas cidades de São Paulo e Osasco e tendo o comércio como principal atividade econômica.

Nesta quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que é necessário um "reconhecimento total, franco e justo" dos fatos vinculados ao massacre cometido na Armênia.

De acordo com um comunicado do presidente americano, o reconhecimento total "é do interesse de todos".

"Os povos e as nações crescem mais fortes e constroem uma base para um futuro mais justo e tolerante ao reconhecer e levar em consideração os elementos dolorosos do passado", completa a nota de Obama, que não utiliza o termo "genocídio".

"Nós continuamos aprendendo esta lição nos Estados Unidos, enquanto ainda lutamos para superar alguns dos momentos mais obscuros de nossa história", completou.

"Reconhecemos e elogiamos o número crescente de corajosos armênios e turcos que já tomaram este caminho. E pedimos que outros o façam com o respaldo de seus governos", completou o presidente americano.

Com informações da Agência Brasil , Agência Lusa e AFP

Fonte: Terra
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