Eles perderam parentes, amigos, a casa, o carro. Mas não a esperança. Ao longo do caminho por terras japonesas devastadas pelo terremoto seguido de tsunami que atingiu a costa nordeste do Japão no último dia 11 de março, a equipe de reportagem do Terra cruzou com algumas dessas pessoas. Conheça histórias de sobreviventes Eles perderam parentes, amigos, a casa, o carro. Mas não a esperança. Ao longo do caminho por terras japonesas devastadas pelo terremoto seguido de tsunami que atingiu a costa nordeste do Japão no último dia 11 de março, a equipe de reportagem do Terra cruzou com algumas dessas pessoas. No especial abaixo você tem a oportunidade de conhecer um pouco dessas histórias. “Não consigo nem chegar lá“ Bairo de Wakabayashi, na cidade de Sendai. Yukiko, de 48 anos, aguardava pelo nono dia, neste domingo, que as equipes de resgate encontrem vestígios de seus pais, desaparecidos no tsunami que invadiu o bairro de Wakabayashi, em Sendai. “A casa deles era ali (aponta para um telhado desmoronado), mas agora não é possível nem chegar até lá. Meus pais estavam em casa quando veio o tsunami. Os vizinhos tentaram os ajudar a fugir, mas havia muita água e não conseguiram. Agora, estão desaparecidos, mas o resgate está procurando por eles. Não consigo vir aqui sempre, pois não temos gasolina. Venho quando posso.” Links relacionados Veja os estragos provocados pelo terremoto em Sendai Caminho para Sendai é difícil e requer paciência, diz repórter Asilo da cidade japonesa de Sendai vive dois dias de pesadelo Viagem até Sendai expõe problemas enfrentados pelos japoneses Foto: Ricardo Matsukawa / Terra "Vou levar os mortos e cremar" Cidade de Sendai. Representante do templo budista Jodo Shinshu Higashi Honganji, Kazuo Otomo, 65 anos, é aposentado e plantava alfaces em um terrenos de 3 mil metros quadrados quando o tsunami se abateu sobre a costa de Sendai. Graças ao alerta, dois minutos antes da onda, ele conseguiu fugir de carro. Mas aponta as casas ao redor da sua onde morreram pelo menos seis vizinhos. “O templo ficava aqui ao lado (aponta destroços próximos à sua casa). Tinha 325 anos e era o principal templo desta região. Vou reunir os mortos daqui (o bairro de Wakabayashi) e cremar para levar para o templo Higashi, em Kyoto. Já doamos todo o dinheiro do templo para a província de Iwate, onde a situação é pior.” Links relacionados Veja os estragos provocados pelo terremoto em Sendai Caminho para Sendai é difícil e requer paciência, diz repórter Asilo da cidade japonesa de Sendai vive dois dias de pesadelo Viagem até Sendai expõe problemas enfrentados pelos japoneses Foto: Ricardo Matsukawa / Terra "Não quero ser um fardo" Cidade de Fukushima. Ao falar da separação da mulher, do filho e do neto, Masao Omuro quase deixa cair uma lágrima. Resiste ao choro, mas não esconde a tristeza de estar sozinho em um abrigo em Fukushima, pois não quer ser “um fardo” para os parentes. “Eu morava a 3 km da usina. Fugi com um dos 10 ônibus que saíram da região. Primeiro, fui para (a província de) Saitama (região próxima de Tóquio), depois, para Kariwacho. Dali, para Kawamata e depois, Fukudacho. Mas nestes lugares, não havia água nem comida. Aí, parentes me trouxeram até Fukushima. Ganhei estas roupas que estou usando aqui. Tenho amigos e parentes na cidade, mas não quero atrapalhar, porque faltam água e gás, e aqui no abrigo, tem. Agora estou preocupado porque tomei água em casa, antes de sair, e pode estar contaminada.” Links relacionados Fuga da radiação leva milhares aos abrigos de Fukushima Veja como é o cotidiano nos abrigos de Fukushima Retorno para área da usina afetada por tremor pode levar anos Confira o centro responsável pelas informações sobre a usina nuclear Foto: Ricardo Matsukawa / Terra "Não sabia bem para onde ir" Cidade de Fukushima. Ainda que sua casa não tenha sido afetada pelo tsunami que atingiu Minamisoma, e que esteja localizada fora do raio de 20 km considerado pelo governo japonês suscetível à contaminação por radiação, o contabilista Akihiko Satoh resolveu deixar a residência com a mulher, Jinko, os filhos Hitomi e Seya, e os pais, Nobushige e Suzuko, e dirigir-se a um abrigo público, onde os seis passam o dia em um ginásio escolar, dormindo no chão e comendo uma ração limitada. “Na semana passada, decidi me refugiar (dia 15). Quando saí de casa, não sabia bem para onde ir, e a prefeitura indicou este local (a escola Nishi, em Fukushima), que era seguro. Não havia ônibus, então viemos eu, minha mulher, meus filhos e meus pais, no meu carro. A gasolina acabou um pouquinho antes de chegar aqui, mas conseguimos chegar. Antes de vir, eu tinha uma imagem ruim do abrigo, mas chegando vi que não é tão ruim assim. Trouxemos cobertores, roupas íntimas e comida. O básico para sobreviver.” Links relacionados Fuga da radiação leva milhares aos abrigos de Fukushima Veja como é o cotidiano nos abrigos de Fukushima Idosa de 89 anos lembra como fugiu de tsunami em Fukushima Foto: Ricardo Matsukawa / Terra "Às vezes, durmo no escritório da empresa" Cidade de Sendai. O empresário Fumitoshi Konno, presidente da Sento Reizo, empresa de refrigeração que opera no porto de Sendai, fazia o balanço dos prejuízos com o tsunami em um domingo de chuva, na companhia de dois funcionários. Sua atividade é armazenar peixes importados por meio do porto, até que sejam distribuídos. Ele calcula o prejuízo que teve em 150 milhões de ienes (R$ 3 milhões). O porto de Sendai, o principal da região de Miyagi, foi devastado pelo tsunami do dia 11 de março e deve demorar meses para voltar a funcionar. “O pior é a falta de luz e gás. Vou esperar a eletricidade voltar ao porto para então arrumar os equipamentos quebrados e só então voltar a estocar alimentos. Deve demorar meses. Minha casa foi inundada, mas não quebrou nada. Eu e minha família não estamos desabrigados. Mas às vezes, durmo no escritório da empresa.” Links relacionados Moradores de Sendai tentam resgatar o que restou de casas Viagem até Sendai expõe problemas enfrentados pelos japoneses Foto: Ricardo Matsukawa / Terra "Se não receber ajuda da província, vou ter de procurar emprego em outro lugar" Porto de Kitaibarak. "O pescador Minobu se considera um sortudo. Seu barco foi um dos poucos que o tsunami não jogou da água para cima dos piers do porto de Kitaibaraki. Mesmo assim, ele não poderá pescar pelos próximos meses, até que o porto seja consertado e tenha condições de receber os peixes. Por enquanto, quem trabalha na limpeza são os próprios pescadores, como ele. Com o ganha-pão ameaçado, ele já pensa em mudar de cidade e de atividade. Mas por enquanto, a prioridade é outra. “Tem gente aqui que perdeu tudo, mas está ajudando na limpeza. Alguns têm dívidas altas, pois um barco custa 6 milhões de ienes (aproximadamente R$ 123 mil). Nossa prioridade é arrumar tudo aqui, se não a situação não vai melhorar. Nosso instrumento de trabalho são as redes, então precisamos recolhê-las e separá-las, para ver de quem é. Acabamos de recuperar duas! Juntas, elas valem 1 milhão de ienes (R$ 20 mil).” Links relacionados Desde o dia 11, costa leste convive com tremores diários Com falta de energia e água, Iwaki lembra "cidade-fantasma" Foto: Ricardo Matsukawa / Terra "Não sei onde o carro foi parar" Cidade de Sendai. A dona de casa Masako deixou Sendai no domingo, dia 20, com o marido Koji (professor universitário) e a filha Tamaki, de 6 meses. Rumaram para a província de Aomori, onde moram os pais dele, devido aos problemas de falta de combustível e à ameaça da radioatividade na região. “Estava fazendo compras com minha filha (Tamaki, de seis meses) quando aconteceu o tsunami. Tive de segurar o bebê no alto por causa da água que invadiu nosso carro. Consegui sair do carro, mas a água o levou. Não sabemos onde foi parar.” Links relacionados Viagem até Sendai expõe problemas enfrentados pelos japoneses Asilo da cidade japonesa de Sendai vive dois dias de pesadelo Veja os estragos provocados pelo terremoto em Sendai Moradores de Sendai tentam resgatar o que restou de casas Foto: Ricardo Matsukawa / Terra "Vou reconstruir minha casa aqui" Cidade de Iwaki O comerciante Tatsuji Honda, de 65 anos, perdeu a casa, dois carros e a loja que possuía para o tsunami. Ainda assim, pretende reconstruir sua residência no mesmo lugar – a 50 m do mar em Iwaki. Não acredita que um evento dessa magnitude possa se repetir enquanto ele viver. Ao mostrar o que sobrou de sua casa – que ficou em pé, apesar do andar inferior destruído – mostra o oratório da família – peça tradicional do budismo. “Não faz tanto tempo assim que este móvel está na família. Só 60 anos. Tem bastante por aí para comprar, depois eu compro outro. O mais importante eu já peguei, os tobas (minilápides de madeira feitas para cada pessoa da família que morre). Vou reconstruir minha casa aqui. Como eu já sou de idade, não quero ir para outro lugar. Nunca houve isso (o tsunami) desde que eu nasci, e acho que não deve haver de novo. Não me importo de ficar na praia.” Links relacionados Desde o dia 11, costa leste convive com tremores diários Com falta de energia e água, Iwaki lembra "cidade-fantasma" Imagens mostram devastação em porto japonês após tsunami de 11 de março Foto: Ricardo Matsukawa / Terra mais especiais de notícias