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Execução de clérigo xiita e outros 46 na Arábia Saudita provoca ira na região

2 jan 2016 - 17h14
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As autoridades da Arábia Saudita executaram neste sábado 47 pessoas condenadas por terrorismo, entre elas o clérigo xiita opositor Nimr Baqir al Nimr, em uma demonstração de linha dura que acendeu a ira da comunidade xiita no Oriente Médio.

Essa execução em massa e simultânea, realizada em doze áreas do país por meio de decapitações com sabre e fuzilamentos, é a maior realizada em décadas no reino saudita, onde desde a chegada ao trono de Salman bin Abdulaziz, no início de 2015, se disparou a aplicação deste tipo de castigo.

No ano passado foram realizadas 150 execuções no país, que segue uma estrita versão da sharia, a lei islâmica, segundo organizações de direitos humanos, um número muito superior às 90 de 2014.

A maioria dos executados hoje - 45 sauditas, um egípcio e um chadiano - são extremistas sunitas, alguns destacados membros da Al Qaeda, mas entre eles figuram também quatro xiitas como Al Nimr.

Alguns dos ataques atribuídos aos sunitas são os registrados contra vários complexos residenciais ocidentais em Riad em 2004, e contra empresas petrolíferas, o Ministério do Interior e o consulado americano em Jidá em 2005.

A campanha terrorista lançada por alguns grupos para desestabilizar o regime saudita em maio de 2003, que foi contestada com uma luta implacável das forças sauditas, causou dezenas de mortes.

Quanto aos xiitas, essa minoria também foi alvo das autoridades, depois que entre 2011 e 2013 foram registrados ataques e manifestações contra a polícia na região de Al Qatif.

Al Nimr foi detido em julho de 2012 por apoiar os distúrbios e grupos terroristas contra as autoridades sauditas em Al Qatif, no leste do país e de maioria xiita.

Sua condenação à pena capital foi confirmada em outubro do ano passado pela Corte Suprema, que lhe culpou de desobedecer às autoridades e instigar a violência sectária, o que já havia levantado as críticas da comunidade xiita.

Também foi muito polêmica a condenação à morte contra seu sobrinho, Ali Mohammed al Nimr, e outros dois jovens xiitas, detidos quando eram menores de idade.

As reações hoje à execução do clérigo chegaram de grupos e dirigentes xiitas de países como Irã, Bahrein, Líbano e Iraque, aguçando as já crescentes tensões sectárias.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, a grande potência xiita e rival da Arábia Saudita, Hossein Jaber Ansari, denunciou "a profunda imprudência e irresponsabilidade" do regime saudita, e prometeu que este "pagará um preço alto" por esta ação.

No Líbano, o grupo xiita Hezbollah responsabilizou os Estados Unidos pela execução, por ser um aliado do regime saudita, e instou a comunidade internacional a condenar esse "crime odioso".

Por sua parte, o vice-presidente do Conselho Superior Xiita, o xeque Abdel-Amir Qabalan, qualificou a ação de "grave erro" e "ato perigoso".

"É um crime contra a humanidade que terá repercussões nos próximos dias (...) uma chamada à cisão e para aumentar a divisão", ressaltou.

Essas repercussões já foram vivenciadas em Bahrein, onde a maioria xiita se lançou às ruas e protagonizou enfrentamentos com as forças de segurança.

Os manifestantes desfraldaram fotografias de Al Nimr e entoaram palavras de ordem que pediam a morte para a família governante saudita e contra a monarquia bareinita, que professam o islã sunita.

A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, também condenou "o uso da pena capital em todas as circunstâncias e, em particular, em casos de execuções em massa", e alertou que o ocorrido pode aumentar as tensões sectárias na região.

Perante as críticas, as autoridades sauditas defenderam sua decisão alegando que todos foram submetidos a julgamentos justos, com todas as garantias, e em aplicação da lei islâmica.

O comunicado do Ministério do Interior anunciando as execuções estava precedido por versículos corânicos que justificam o uso deste castigo.

Da mesma forma se expressou o mufti saudita, a máxima autoridade religiosa, Abdulaziz al Sheikh, para quem as execuções são "legítimas" e têm o objetivo de "defender a segurança e estabilidade" do país.

Em entrevista coletiva e ao ser perguntado por Al Nimr, o porta-voz de Interior, Mansur al Turki, só indicou que "o reino saudita aplica suas decisões judiciais legais independentemente da pessoa".

O analista saudita Munif al Sofaqui disse à agência Efe que o clérigo opositor "não foi condenado por ser xiita, mas por estar implicado em delitos de sangue".

Em sua opinião, o governo saudita procura com estas execuções "assustar e dissuadir" os terroristas e aqueles que simpatizam com a ideologia extremista, mostrando-lhes sua "dureza" na luta contra esta praga.

EFE   
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