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Ex-presidente da Libéria é condenado a 50 anos de prisão

30 mai 2012 - 06h53
(atualizado às 09h39)
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O ex-presidente da Libéria Charles Taylor, condenado nesta quarta-feira a 50 anos de prisão por crimes de guerra e lesa-humanidade durante a guerra civil de Serra Leoa (1991-2002), que causou 50 mil mortos, se transformou no primeiro líder africano reconhecido como culpado em um tribunal internacional.

Segundo o Tribunal Especial para Serra Leoa (TESL), o chefe de Estado da Libéria entre 1997 e 2003 é "penalmente responsável" de facilitar armas, em troca de diamantes, aos rebeldes da Frente Revolucionária Unida (FRU) de Serra Leoa, que mataram, mutilaram e escravizaram milhares de pessoas.

Ex-guerrilheiro e ex-presidiário nos Estados Unidos, Taylor nasceu no dia 29 de janeiro de 1948 em Arthington - cidade situada a 25 km de Monróvia, a capital liberiana -, em uma família de 15 irmãos. Após cursar Economia na Universidade de Boston (EUA), Taylor voltou à Libéria em abril de 1980, após um golpe de Estado militar, para se unir ao governo de Samuel Doe e ser o responsável pelas aquisições do Estado.

No entanto, Taylor passou pouco tempo neste cargo, já que em 1983 foi acusado de desviar cerca de US$ 1 milhão para uma conta nos EUA, onde foi detido e enviado a prisão quando buscou refúgio no país. Mas, em 1985, ele escapou da prisão junto com outros quatro presos serrando as grades de uma lavanderia. Após fugir dos EUA, Taylor busca exílio na Líbia, onde contou com a proteção de Muammar Kadafi, e na Costa do Marfim, onde fundou as Forças Nacionais Patrióticas da Libéria (FPNL).

Em dezembro de 1989, quatro anos depois de fugir da prisão nos EUA, Taylor reapareceu à frente das FPNL na localidade marfinense de Nimba, na fronteira com a Libéria, e entrou com suas tropas em seu país em uma tentativa de derrubar Doe, que acabou sendo assassinado em setembro de 1990. Este golpe desencadeou a Primeira Guerra Civil da Libéria (1990-1995), deixando milhares de mortos e quase 1 milhão de refugiados.

Após a intervenção da ONU e da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao), inúmeras facções envolvidas no conflito assinaram um acordo de paz em Abuja (Nigéria), no dia 20 de agosto de 1995, quando foi criado um órgão de transição que dirigiu o país até as eleições de julho de 1997.

À frente de sua nova formação política, o Partido Nacional Patriótico (PNP), Taylor venceu o pleito com 75,32% dos votos apesar de seu nada simpático slogan de campanha: "Matou minha mãe, matou meu pai, mas mesmo assim votarei". De acordo com analistas do país africano, o que fez Taylor conseguir assumir a presidência da Libéria de maneira tão contundente foi sua campanha de terror e medo, que ameaçava a população com uma nova guerra civil caso houvesse uma derrota.

Durante seu mandato, Taylor forneceu armas aos rebeldes da Frente Revolucionária Unida (FRU) em Serra Leoa, um dos grupos protagonistas da guerra civil desse país, que assassinou e mutilou milhares de pessoas e que escravizou outras tantas para explodir as minas de diamantes do país. Em troca, Taylor recebia estas pedras preciosas, que passaram a ser reconhecidas como "diamantes de sangue".

Em maio de 2001, a ONU impôs sanções à Libéria e dois anos mais tarde, em junho de 2003, o Tribunal Especial de Serra Leoa, criado em 1996 e respaldado pelas Nações Unidas, acusou Taylor por crimes de guerra e lesa-humanidade. Em agosto de 2003, a ONU aprovou o envio de uma força multinacional de paz ao país e, no dia seguinte, Taylor anunciou sua renúncia para dar início ao seu exílio em Calabar (Nigéria).

Ao saber que o governo nigeriano tinha aceitado sua deportação e entrega às autoridades liberianas, Taylor tentou fugir da Nigéria, mas acabou preso no dia 29 de março de 2006. Neste mesmo dia, o ex-presidente da Libéria foi transferido para Freetown (Serra Leoa), onde foi preso. Pouco depois, o governo holandês aceitou julgá-lo em Haia, enquanto o Reino Unido queria que o mesmo cumprisse sua pena em uma de suas prisões.

No dia 20 de junho de 2006, Taylor chega a Haia para ser julgado por 11 acusações de crimes de guerra e lesa-humanidade, entre eles o de assassinato e mutilação de civis, uso de mulheres e meninas como escravas sexuais e recrutamento forçado de crianças e adultos em troca de contrabando.

O julgamento, que começou em junho de 2007, contou com declarações de mais de 110 testemunhas, entre elas a modelo Naomi Campbell, que supostamente teria recebido "diamantes de sangue" de presente do ditador. O Tribunal Especial para Serra Leoa condenou Taylor no último dia 26 de abril e, somente nesta quarta, anunciou sua pena de 50 anos.

Charles Taylor aguarda por sua sentença em corte de Leidschendam, na Holanda
Charles Taylor aguarda por sua sentença em corte de Leidschendam, na Holanda
Foto: AP
EFE   
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