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Europa

Voto de protesto leva Itália a impasse político

25 fev 2013 - 22h16
(atualizado às 22h18)
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O protesto eleitoral de muitos italianos enfurecidos com as dificuldades econômicas e com a corrupção na política empurrava na segunda-feira o país a um impasse pós-eleitoral, já que os resultados indicam que nenhuma coalizão terá força suficiente para formar um novo governo.

Com 99,9 por cento das urnas apuradas, a centro-esquerda liderava a centro-direita por cerca de 125 mil votos na câmara baixa e irá conquistar maioria na Casa, informou o Ministério do Interior.

Mas o Senado era uma história diferente. A centro-esquerda ganhará mais assentos do que a centro-direita, mas ficou aquém de uma maioria. Esse é o oposto do resultado estável do qual a Itália precisa desesperadamente para combater a recessão, o desemprego e a dívida pública.

Os mercados da Itália - terceira maior economia da zona do euro - pareceram assustados com o andamento da apuração, depois de inicialmente subirem com a esperança de que um governo sólido de centro-esquerda se formasse, provavelmente com o apoio do atual premiê, o tecnocrata Mario Monti.

Monti disse que todos os partidos têm a responsabilidade de garantir que um novo governo seja formado após as eleições inconclusivas.

O grande nome da eleição de domingo e segunda-feira na Itália acabou sendo o comediante genovês Beppe Grillo, líder do populista Movimento 5 Estrelas, que estreou numa campanha eleitoral nacional fazendo discursos cheios de xingamentos à desacreditada classe política tradicional.

Com promessas eleitorais vagas e candidatos quase desconhecidos, o ator canalizou a irritação popular contra o sistema político, visto por muitos como inútil e esclerosado.

O resultado das urnas, se confirmado, será também um tapa na cara do anódino líder centro-esquerdista Pier Luigi Bersani, que parece ter desperdiçado uma vantagem de dez pontos percentuais sobre a centro-direita que as pesquisas lhe atribuíam há menos de dois meses.

O ex-premiê Silvio Berluconi, de 76 anos, que conseguiu uma extraordinária recuperação desde dezembro, apesar dos escândalos sexuais e de corrupção associados ao seu nome, deve ficar perto dos rivais de centro-esquerda na disputa pelo Senado.

Como ambas as Casas são necessárias para aprovar leis, a centro-esquerda precisaria do apoio do Movimento 5 Estrelas ou da centro-direita de Berlusconi para aprovar leis, atualmente uma perspectiva improvável.

INVESTIDORES

A acirrada campanha eleitoral italiana, travada principalmente em torno de temas econômicos, deixou alguns investidores temerosos com um reinício da crise da dívida que em 2011 deixou toda a zona do euro à beira de um desastre, e que levou à substituição de Berlusconi por Monti.

Os resultados preliminares indicam que mais de metade dos italianos votou nas plataformas antieuro de Berlusconi e Grillo.

Dirigente de centro e esquerda alertaram que o iminente impasse pode tornar a Itália ingovernável, exigindo a realização de novas eleições.

No entanto, o vice-líder do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, rejeitou discussões sobre novas eleições e disse que sua coalizão terá a responsabilidade de tentar formar um governo, apesar do impasse no Senado.

"Quem quer seja, terá a responsabilidade de fazer as primeiras propostas para o chefe de Estado", disse ele. Depois da contagem final dos votos, o presidente italiano, Giorgio Napolitano, terá a tarefa de nomear alguém para tentar formar um governo.

Letta descartou uma nova eleição, dizendo que "voltar à votação imediatamente não parece hoje ser a melhor opção a seguir".

Um governo da centro-esquerda, sozinha ou em aliança com Monti, era visto pelos investidores como a melhor garantia de medidas que combatam a corrupção e a estagnação econômica.

Os primeiros resultados causaram pessimismo entre os investidores. O ágio entre os títulos italianos com vencimento em dez anos e os papéis alemães que balizam o mercado subiram de menos de 260 pontos-base para mais de 300, e o índice das Bolsas italianas recuou de modo a anular os ganhos dos últimos dias.

"Essas projeções sugerem que estamos nos encaminhando para uma situação ingovernável", disse Mario Secchi, candidato do movimento centrista de Monti.

(Reportagem adicional de Stefano Bernabei, Steve Scherer, Gavin Jones, Naomi O'Leary e Giuseppe Fonte em Roma e Lisa Jucca em Milão)

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