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Europa

UE busca saída para o xadrez energético com Ucrânia e Rússia

Europa e Rússia são interdependentes no abastecimento e exportações de gás; a possibilidade de venda de gás natural dos EUA à UE é uma das alternativas mencionadas pelos líderes ocidentais, porém, especialistas adiantam que não há "solução mágica"

4 abr 2014 - 08h14
(atualizado às 08h23)
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Logo da marca russa produtora de gás natural, Gazprom
Logo da marca russa produtora de gás natural, Gazprom
Foto: Reuters

Não fossem as jogadas atrevidas do presidente russo Vladimir Putin com seus avanços sobre a Ucrânia (anexação da Crimeia) e manutenção de tropas na Moldávia, ambos países da ex-URSS (União de Repúblicas Socialistas Soviética), o tabuleiro do xadrez energético entre Rússia e Europa demonstraria um empate. A gigante estatal russa Gazprom depende hoje da venda de 40% de seu gás aos europeus. Estes, por sua vez, dependem de 31,9% do gás russo, segundo o Eurostat.

Mais da metade do gás russo chega a UE através da Ucrânia (ver mapa), o que dificulta a tomada de decisões atual do bloco europeu em relação ao vizinho do leste. A Comissão Europeia, braço executivo da UE, tem feito cálculos e se prepara para divulgar um informe que revela que, se as exportações do bloco europeu para a Rússia se reduzirem pela metade, o PIB anual dos 28 países-membros poderá sofrer quedas de 0,5% (63,5 bilhões de euros ou cerca de R$199 bi). Por outro lado, a Rússia perderia 115 bilhões de euros se a Europa deixasse de importar seus produtos.

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A relação é de interdependência, mas quem tem aparecido como refém da Rússia é o bloco europeu. Para o especialista em política energética do escritório europeu do Greenpeace, Frederic Thoma,  parece que "Putin segura os líderes da UE por rédeas curtas" e os europeus acabam deixando as "torneiras abertas".

"O dinheiro continuará a fluir para fora da economia europeia e para os bolsos dos oligarcas da Rússia para a Arábia Saudita, até que haja apoio claro para as energias renováveis e eficiência energética", defende. "Um sistema de energia limpa é a melhor aposta da Europa para a proteção do clima, independência energética, a segurança do abastecimento e os preços da energia a preços acessíveis", garante o especialista em energia.

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No último dia 26 de março, os europeus tentaram mover outra peça no jogo energético, com a primeira visita oficial do presidente dos EUA, Barack Obama, à Bruxelas para uma reunião de cúpula EUA - UE. Obama e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, mencionaram a possibilidade de venda de gás natural liquefeito dos Estados Unidos à Europa.

Nesta quarta-feira, a chefe do serviço exterior europeu, Catherine Ashton, e o secretário de Estado americano, John Kerry, se debruçaram novamente sobre a possibilidade. Kerry defendeu que "nenhuma nação" deveria usar energia como arma.

O Secretário de Estado americano, John Kerry, e a a chefe do serviço exterior europeu, Catherine Ashton em 2 de abril
O Secretário de Estado americano, John Kerry, e a a chefe do serviço exterior europeu, Catherine Ashton em 2 de abril
Foto: Reuters

"Para muitos líderes europeus, o cenário de envio de gás liquefeito por navio parece uma solução mágica para suas preocupações energéticas", afirma Andreas Goldthau, chefe do Departamento de Políticas Públicas da Universidade da Europa Central, em Budapeste, Hungria, e pesquisador visitante de Harvard.

Goldthau avisa, porém, em um trabalho publicado no fim do ano passado, que a solução tampouco será fácil: os europeus não terão poder de decisão no novo modelo de preços do gás (importado dos EUA) e "globalizar o mercado não significa diminuir o preço do gás".

Thoma também avalia que, na prática, a indústria americana terá pouco interesse em exportar o gás nacional, visando manter os preços baixos no mercado interno. "Se tiverem que exportar, a Ásia seria um mercado muito mais interessantes do que a UE, uma vez que os preços são mais altos", avalia o especialista do Greenpeace, que também destaca os impactos negativos da exploração de gás de xisto para o meio-ambiente.

Jogo truncado

Em entrevista ao Terra, Goldthau avalia que, se, por um lado, qualquer passo que os europeus tomarem em relação à Ucrânia refletirá sua forte dependência dos recursos russos, por outro, existe "um certo grau de interdependência", uma vez que os russos precisam do dinheiro da venda dos hidrocarburetos para a Europa.

O Presidente do Conselho da UE, Herman Van Rompuy (direita) e o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso (esquerda) cumprimentam o presidente dos EUA, Barack Obama (centro) antes do início da cúpula UE-EUA, na sede da UE em Bruxelas, em 26 de março
O Presidente do Conselho da UE, Herman Van Rompuy (direita) e o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso (esquerda) cumprimentam o presidente dos EUA, Barack Obama (centro) antes do início da cúpula UE-EUA, na sede da UE em Bruxelas, em 26 de março
Foto: AFP

"No fim das contas, é uma questão de quem pensa que a outra parte tem mais a perder e isto vai decidir se as sanções energéticas finalmente serão aplicadas ou não pelos europeus, e se a Rússia decidirá usar a oferta ou os preços de energia para fins de política externa", analisa.

Thoma admite que os europeus também terão de vencer alguns obstáculos internos para avançar no xadrez energético, devido a "interesses" e lobby das companhias de energia europeias. Ainda assim ele espera que os líderes da UE acertem nas propostas de redução de dependência energética, na cúpula que será realizada em junho.

"Os líderes europeus estão discutindo o pacote de energia para 2030 e têm a oportunidade de quebrar as redes de importação de energia e impulsionar empregos e economia local", conclui.

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Fonte: Terra
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