Snowden ainda não pediu asilo oficialmente à Rússia

15 jul 2013 - 10h04

(atualizado às 10h19)

A Rússia ainda espera nesta segunda-feira a solicitação oficial do ex-consultor de inteligência americano Edward Snowden, procurado por espionagem pelos Estados Unidos, e alguns se perguntam sobre a realidade desta perspectiva que deixa Moscou em uma posição delicada.

Snowden fez a primeira declaração pública na sexta-feira passada em um aeroporto de Moscou, onde está bloqueado desde 23 de junho, quando desembarcou no local procedente de Hong Kong.

Ele expressou sua intenção de pedir asilo político à Rússia, a fim de viajar legalmente para América Latina, onde Venezuela, Bolívia e Nicarágua estão prontos para recebê-lo.

Mas desde então não fez mais declarações nem apresentou o formulário para pedir asilo às autoridades russas, depois de ter afirmado a vários ativistas dos direitos humanos que faria a solicitação na sexta-feira.

O diretor da agência federal russa de migração, Konstantin Romodanovsky, afirmou que Snowden ainda não solicitou asilo.

"O serviço de imigração não recebeu nenhum documento", afirmou uma funcionária, Zalina Kornilova.

"Se recebermos, estudaremos como deve ser", acrescentou.

Especialista em questões de asilo político, a militante russa dos direitos Humanos, Svetlana Gannouchkina, questionou esta situação.

"Parece-me estranho que ainda não há pedido oficial. Tudo isso começa a parecer pouco sério", declarou à agência Interfax.

A Rússia está em uma posição delicada em relação aos Estados Unidos. Moscou não deseja expulsar o ex-consultor, mas também não quer se indispor com Washington, acredita Fedor Loukianov, especialista em política externa russa.

"As autoridades russas (...) lamentam muito ele não viajado para Havana ou Caracas", escreveu nesta segunda-feira no jornal Kommersant.

O presidente russo Vladimir Putin impôs como condição à permanência do americano em seu país que ele parasse com suas atividas prejudiciais aos Estados Unidos, em referência às revelações sobre o programa de espionagem das comunicações em todo o mundo.

Na semana passada, Snowden, que trabalhava para uma empresa que prestava serviços à Agência de Segurança Nacional (NSA), apresentou uma solicitação de asilo político a mais de 20 países, incluindo a Rússia.

E, segundo vários participantes de uma reunião organizada sexta-feira no aeroporto, Edward Snowden estaria pronto para aceitar esta condição.

Mas, mesmo se a Rússia aceitar seu pedido de asilo, "poderíamos duvidar de sua capacidade (...) de respeitar as condições, porque ele é um idealista" que, do seu ponto de vista, ele não causou nenhum prejuízo aos Estados Unidos, acredita Loukianov.

Por sua vez, Washington tem aumentado a pressão para que nenhum Estado receba o fugitivo e para que ele seja entregue aos Estados Unidos.

A Casa Branca advertiu na sexta-feira a Rússia para a possibilidade de conceder a Edward Snowden uma "plataforma de propaganda" permitindo que fique no país.

E ainda, o ex-consultor ainda tem informações que podem causar "muito mais dano" ao governo dos Estados Unidos, segundo o jornalista Glenn Greenwald, em entrevista ao jornal argentino La Nación.

"Snowden tem informações suficientes para causar muito mais dano em um minuto do que qualquer outra pessoa já teve na história dos Estados Unidos", afirmou Greenwald, correspondente do jornal britânico The Guardian no Brasil e que revelou as informações vazadas pelo ex-consultor da NSA.

Até o momento, a Rússia se mostrou segura de que não entregaria Snowden.

Mas, nesta segunda, o jornal russo Kommersant indicou que o Kremlin deseja trocar um casal de agentes secretos russos, recentemente condenados na Alemanha, por um agente que cumpre pena em Moscou.

Uma fonte do aeroporto Sheremetievo disse que Snowden ainda tem um quarto reservado em um hotel da zona de trânsito, mas que também tem acesso a um quarto de descanso especial para funcionários, segundo a agência Interfax.