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Europa

Silêncio marca primeiro julgamento de neonazistas alemães como terroristas

6 mai 2013 - 15h04
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A sobrevivente do grupo Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU), Beate Zschäpe, optou pelo silêncio e pela manobra dilatória (de adiar as audiências) no julgamento iniciado nesta segunda-feira por homicídio múltiplo - a primeira vez que a Alemanha julga neonazistas por terrorismo.

Beate, de 38 anos e há 18 meses em prisão preventiva, compareceu em meio a inúmeros jornalistas e cinegrafistas no Tribunal Regional de Munique aparentando tranquilidade, no processo em que é acusada do assassinato de nove imigrantes e uma policial.

Se durante esse período foram publicadas dezenas de imagens da neonazista, sozinha ou com os dois companheiros, Uwe Böhnhard e Uwe Mundlos, de férias ou andando com o braço erguido, hoje a acusada era o bom comportamento em pessoa, custodiada pelos três jovens advogados que a defendem.

Foram alguns minutos, já que na Alemanha a presença das câmeras só é autorizada até o início do julgamento. Vestida com roupa escura, a acusada ficou de costas para as câmeras, que só conseguiram captar seu rosto quando entrou na sala.

Assim que a imprensa foi retirada, a defesa fez sua primeira extravagância: pedir a suspensão do julgamento por parcialidade do juiz, Manfred Götzl, já que o trio de advogados foi revistado em busca de armas, mas a promotoria e os funcionários do Tribunal, não.

A sessão foi retomada 20 minutos depois, mas seguiu uma segunda solicitação de suspensão do julgamento, que o juiz deu por suspenso até 14 de maio, à espera da decisão.

Beate era acompanhada no banco dos réus por quatro outros neonazistas, acusados de cumplicidade da NSU, entre eles o suposto autor do macabro vídeo divulgado após ficar desmantelado do grupo.

Isso foi em 8 de novembro de 2011, quatro dias depois que Mundlos e Böhnhard se mataram em sua caminhonete, perseguidos pela polícia e após assaltar um banco.

Beate se entregou no mesmo dia, mas antes ateou fogo à casa onde os três viviam e divulgou o vídeo em que uma Pantera Cor-de-Rosa comemorava os nove assassinatos de imigrantes cometidos pelo grupo, entre 2000 e 2007, e se gabava da "façanha".

Começou a ser revelado, assim, o que até então havia sido arquivado e minimizado como "os assassinatos dos Döner (sanduíche turco popular na Alemanha)" - oito das vítimas eram turcas, mais o nono grego - acusados de crimes menores ou ajustes de contas entre estrangeiros.

A chanceler alemã, Angela Merkel, que classificou o fato como "vergonha para a Alemanha", ratificou hoje seu compromisso com o esclarecimento do caso, a partir do sistema político e paralelamente ao julgamento da sobrevivente da NSU.

Beate deve prestar contas perante a justiça e esse é o objetivo do julgamento, lembrou o promotor, Herbert Diemer, embora a pergunta recorrente sobre o caso seja como um trio de neonazistas de províncias pôde realizar os assassinatos, sempre com a mesma pistola Ceska 83, calibre 7,65 mm, sem que a polícia cruzasse os dados.

A resposta pode ser a confluência de duas descentralizações: a dos serviços secretos e policiais, divididos em 64 instituições, e a do neonazismo alemão, com cerca de 200 agrupamentos em todo o país.

Ou, segundo as suspeitas da acusação particular, que reúne 80 familiares das vítimas, na conivência policial com a extrema-direita, em cujas fileiras há tantos informantes que é difícil delimitar quais são infiltrados e quais "delatores".

Mundlos, que tinha 32 anos e era neonazista desde adolescente, esteve entre os ultradireitistas que, nos anos 1990, servindo ao exército, foram sondados pelos serviços secretos alemães.

Esses fatos, mais a destruição dos registros policiais pelo próprio serviço secreto sobre os neonazistas da região quando Beate estava presa, lançaram muitas dúvidas sobre o caso.

Beate permaneceu calada durante a primeira sessão do julgamento e a estratégia de seus advogados parece ser se concentrar nos adiamentos e no silêncio da acusada, que querem apresentar como "namorada" de um ou dos dois neonazistas mortos, não como coautora de seus assassinatos.

A ré agiu usando dez nomes diferentes e aparentemente possui poderes de camuflagem, já que paralelamente aos assassinatos de imigrantes, assaltos e atentados a bomba se apresentava como uma simpática jardineira que trocava mudas de plantas com as vizinhas.

Entre os números que impressionam no caso, para o julgamento foram previstas mais de 80 audiências, até janeiro de 2014, embora se espere que dure mais. O processo da acusação tem 488 páginas e foram convocadas 606 testemunhas.

EFE   
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