Apesar de considerar positiva para a figura do papa a renúncia de Bento XVI, o teólogo Isidoro Mazzarolo, pós-doutor em teologia e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), considera que a Igreja Católica vive um momento de crise, em que é fundamental rever a postura conservadora e reformar a estrutura do Vaticano. Na opinião de Mazzarolo, um papa europeu, de preferência um italiano, teria melhores condições de liderar as mudanças necessárias para recuperar a confiança dos fiéis.
"Em tese, todos os cardeais são elegíveis, mas acredito que pela conjuntura da Igreja Católica atual é pouco provável que tenhamos um papa que não seja europeu. A necessidade grande de renovação no Vaticano exige a escolha de alguém que tenha conhecimento das cúrias, dos decanatos, de tudo o que acontece nessa estrutura grande e pesada de 2 mil anos de história", afirma o teólogo. Segundo ele, além da mudança interna, é preciso repensar na relação da Igreja Católica com a sociedade.
Para Mazzarollo, os últimos 20 anos - sob o comando de João Paulo II e Bento XVI - foram um período de retrocesso em relação aos avanços conquistados a partir do Vaticano II - concílio da década de 1960 que regulamentou as normas da Igreja. "O concílio estabeleceu, por exemplo, que o controle da prole cabe aos pais, ao casal, abrindo para a aceitação dos métodos anticoncepcionais. (Os papas) Paulo VI e João Paulo I queriam isso, mas depois houve o fechamento com o João Paulo II, o que ficou mais evidenciado ainda com Bento XVI. A sociedade pede essa abertura, essa conversa com a população", afirma.
O líder para essa mudança, na opinião de Mazarolo, seria um cardeal mais jovem e com habilidade diplomática. "Bento XVI estava muito preocupado com a disciplina da Igreja, com os ritos, as normas. Isso deu para ele segurança interna, mas ele acabou se perdendo na missão evangelizadora. As estatísticas comprovam que a Igreja Católica perde fiéis progressivamente e somente um líder jovem, dinâmico, com capacidade de diálogo poderá recuperar isso", afirma.
Ele ainda diz que acredita que os escândalos envolvendo a Igreja nos últimos anos, como as denúncias de pedofilia e até mesmo o caso de roubo de documentos secretos do Vaticano, colaboraram com a decisão de Bento XVI de renunciar. "Não digo que isso foi decisivo, mas ele sofreu muito o peso de substituir um papa extremamente popular como foi João Paulo (II) e ainda se viu diante de uma forte pressão causada pelas denúncias envolvendo o Vaticano. Isso deve ter pesado no lado emocional".
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Apesar das críticas a Bento XVI, o teólogo elogia a coragem do papa de anunciar renúncia, em um processo que não era visto na Igreja Católica há aproximadamente 600 anos. "A renúncia ajuda a ver a imagem do papa de outra forma, não como um personagem de honra, de glória, mas como um líder temporário, um servo do povo".
O brasileiro Odilo Scherer, filho de alemães, está entre os nomes mais cotados para a sucessão do papa Bento XVI. Segundo a rede americana 'NBC', o atual arcebispo de São Paulo, de 63 anos, é considerado um católico moderado pelo Vaticano e possui grande apoio de dois grupos representativos da Igreja: a Congregação para o Clero e o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização
Foto: AFP
Na foto, o americano Timothy Dolan aparece em jantar entre os dois candidatos à presidência dos Estados Unidos nas últimas eleições: Barack Obama e Mitt Romney. Aos 63 anos, o arcebispo de Nova York é considerado um dos nomes mais carismáticos do catolicismo na atualidade, apesar da linha conservadora
Foto: AFP
Na foto, o italiano Angelo Scola aparece ao lado de Bento XVI no 7º Encontro Mundial de Famílias. O arcebispo de Milão, de 71 anos, já era considerado um dos favoritos a assumir o papado quando João Paulo II faleceu. Ele é chefe de uma uma fundação que visa promover a compreensão entre muçulmanos e cristãos
Foto: AFP
Ao lado ex-premiê italiano Silvio Berlusconi na foto, o italiano Angelo Bagnasco, de 70 anos, é o atual arcebispo de Gênova. Em 2007, recebeu ameaças de morte após comentários contrários ao casamento homossexual
Foto: AFP
Aos 64 anos, o ganês Peter Turkson é o atual presidente do Pontifício Conselho de Justiça e Paz do Vaticano. Perguntado sobre o crescimento da AIDS na África, ele disse que abstinência é uma solução melhor do que o uso de camisinha. Segundo a 'NBC', Turkson declarou, anos atrás, que o primeiro Papa negro teria "uma vida dura" e que não teria interesse na condição
Foto: AFP
Ex-arcebispo do Quebec, o canadense Marc Ouellet é o atual líder da Congregação de Bispos. Aos 68 anos, ele fala seis línguas e, por ter morado uma década na Colômbia, possui fortes laços com a América Latina. Em 2010, disse que o aborto é "um crime moral", mesmo em casos de estupro. Apesar do favoritismo, em 2011 ele declarou que se tornar papa deveria ser "um pesadelo"
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Outro forte candidato da América Latina é o argentino Leonardo Sandri. Aos 69 anos, o filho de italianos tem longa carreira diplomática no Vaticano e foi bastante próximo do papa João Paulo II
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Aos 70 anos, o italiano Gianfranco Ravasi é presidente do Pontifício Conselho da Cultura. A 'NBC' destaca o lado moderno do religioso, que tem um blog e já retuitou mensagens de Amy Winehouse, além de ter criticado publicamente padres que fazem "sermões chatos"
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Um dos nomes favoritos nas casas de apostas, o nigeriano Francis Arinze é o prefeito Emérito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Em 2003, foi alvo de protestos após associar homossexualidade a pornografia em uma palestra na Universidade americana de Georgetown
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Apesar de só ter se tornado cardeal em 2012, o filipino Luis Tagle, de 55 anos, trabalhou com Bento XVI na Comissão Teológica Internacional e é um dos nomes mais fortes da Igreja atualmente. Na foto, um filipino em Manilla prega seu quadro ao lado do atual papa como indicação de que ele será o sucessor