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Sem medo de protestos, jovens de vários países contam o que esperam da JMJ

19 jul 2013 - 08h19
(atualizado às 08h52)
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Milhares de jovens católicos de vários países são aguardados no Rio de Janeiro entre os dias 23 e 28 de julho, quando a cidade sedia a Jornada Mundial da Juventude. O evento será marcado pela presença do papa Francisco, que faz sua primeira viagem ao exterior desde que assumiu o pontificado.

A BBC Brasil ouviu representantes de diferentes continentes sobre suas expectativas quanto ao evento, incluindo suas percepções sobre o Brasil e o Rio de Janeiro.

A maioria tende a apoiar a onda de protestos que ocorre no Brasil, e nega preocupações, apesar de citarem a criminalidade e a violência ao comentarem os contrastes locais.

Entre a ala mais jovem da Igreja, há também a expectativa de que o novo papa promova reformas - distantes, porém, de temas mais "espinhosos" como aborto e homossexualidade.

Veja os depoimento abaixo.

Estados Unidos

Há mais de um ano, a família Echeverry, de Los Angeles, no Estado americano da Califórnia, vem se preparando para participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio.

A filha mais velha, Vanessa, de 18 anos, e a mãe, Jessica, de 40 anos, já haviam participado da Jornada anterior, em Madri, em 2011. Neste ano, convenceram o pai, Charlie, de 39 anos, a viajar também. Os filhos mais novos ficarão nos Estados Unidos com os avós.

"Inspirado pela experiência que elas tiveram em Madri, fiquei muito interessado na Jornada e decidi que era algo que gostaria de compreender melhor", disse Charlie Echeverry à BBC Brasil, em meio aos preparativos finais para a viagem, marcada para este domingo.

Os Echeverry fazem parte da caravana de mais de 7 mil americanos que viajarão ao Brasil para participar do evento, segundo dados da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês).

Entre os peregrinos americanos há desde grupos pequenos, como o da paróquia dos Echeverry, composto por apenas quatro pessoas, até grandes excursões, como a da Diocese do Brooklyn, em Nova York, que enviará cerca de 300 devotos ao Brasil.

Todos têm em comum a expectativa de ver de perto o papa Francisco e de trocar experiências com católicos de vários países.

Evangelização de manifestantes

A diretora do Ministério Jovem da Arquidiocese de Nova York, Cynthia Martinez, 33, que irá ao Brasil para sua terceira Jornada, disse à BBC Brasil que o evento é uma oportunidade de ver como católicos do mundo todo professam sua fé.

"De poder falar, ainda que não a mesma língua, a língua católica", diz. "E, claro, de mostrar ao Santo Padre que o apoiamos e amamos".

A presença do novo papa no encontro é aguardada com expectativa pelos peregrinos americanos.

"Acho que todos estamos ansiosos para ver como ele vai celebrar a missa. Tenho a impressão de que ele sabe o que os jovens esperam dele", disse à BBC Brasil a estudante Rosie Alvarado, de 17 anos, que participa de sua primeira Jornada. Sua paróquia, também em Los Angeles, vai enviar 16 fiéis ao Rio.

Assim como a maioria dos peregrinos, ela passou o último ano envolvida em feiras, rifas, lavagens de carros e diversos outros eventos na paróquia para levantar fundos para a viagem e diz querer trabalhar com crianças carentes no Brasil. "Estamos preparando jogos, danças, músicas, tudo o que pudermos ens

inar a eles. E um pouco de inglês também".

"Estou tentando aprender algumas palavras (de Português)", diz, ensaiando palavras como "obrigado" e "boa noite". Ela diz que é grande a expectativa para conhecer os católicos brasileiros e também de presenciar protestos.

"Pelo que entendi, há grupos que poderão aproveitar a oportunidade para protestar contra a Igreja", afirma. "Para mim, será uma grande oportunidade de evangelizar essas pessoas."

Alemanha

A Alemanha tem mais de 24 milhões de católicos, que representam quase 30% da população. A Igreja Católica tem mais força no sul do país e foi lá que nasceu o papa emérito Bento 16, na cidade de Marktl am Inn, no Estado da Baviera. Cerca de 2 mil jovens do país viajarão ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, e muitos deles vão participar de eventos e trabalhos sociais em diferentes partes do Brasil antes do encontro no Rio de Janeiro.

A BBC Brasil acompanhou o embarque de 20 jovens no aeroporto de Berlim, rumo a Diamantina (BA), onde vão passar dez dias em uma fazenda antes do início da Jornada.

Para a maioria deles será a primeira vez no Brasil, como é o caso do comerciante Martin Kodritzki, de 28 anos, que classifica a viagem como um momento de aprofundar a fé e conhecer novas

mentalidades. "Vamos conhecer no Brasil pessoas que não têm o mesmo nível de qualidade de vida que temos na Alemanha, e desta experiência expande-se o olhar sobre o ser humano", acredita ele.

Sobre os recentes protestos, ele diz ter acompanhado a cobertura da imprensa e afirma que se identifica com o movimento, em vista dos problemas vividos no Brasil.

A estudante de 21 anos Elisabeth Zell concorda. Ela diz que, se estivesse no lugar dos brasileiros, também protestaria e acredita o papa Francisco tem uma mensagem importante para toda a América Latina no que diz respeito à pobreza.

"Eu acho que uma coisa que muitos católicos precisam trabalhar, ao menos na Europa, é vencer os preconceitos. Não olhar para as pessoas de uma posição superior, por exemplo, os portadores de HIV, ou os sem-teto. Não vê-los como sujos, ou inferiores, mas como seres humanos, criados e amados por Deus, como eu e você", diz.

Renovação Como representantes de uma nova geração de católicos, eles acreditam que a Igreja precisa passar por mudanças, mas veem limitações nestas transformações possíveis.

"Eu acho que uma mudança na estrutura da Igreja ou dar mais direitos às mulheres são coisas que não vão acontecer. Para isso, ela (a Igreja) ainda é conservadora demais, mas talvez entre os jovens tenhamos mais entusiasmo e um novo apelo", diz Elisabeth.

Já Martin apresenta uma postura um pouco mais conservadora. "Deve-se ter cuidado para que não se venda o interesse da Igreja. É uma discussão polêmica nos países desenvolvidos sobre o celibato e que mulheres possam ser sacerdotisas. Acredito que esta não é a saída e que neste ponto as coisas devem permanecer como estão", afirma o jovem.

Os dois defendem o mesmo ponto de vista ao louvar uma guinada aparentemente mais social na Igreja com a chegada do papa Francisco. As pregações do pontífice argentino sobre o voto de pobreza e um olhar para a origem da Igreja parecem ter impactado os jovens católicos alemães. "É uma novidade em Roma e o papa Francisco mostra um novo caminho", conclui Martin.

Espanha

Um dos países de grande população católica da Europa, a Espanha também abriga muitos jovens que se preparam para ir à Jornada Mundial da Juventude. Segundo a Conferência Episcopal Espanhola, cerca de 3 mil jovens espanhóis e 13 bispos participarão da Jornada Mundial da Juventude no Rio.

Sergio Adán Delgado, de 24 anos, é um deles. O estudante de Matemática conta que faz parte de sua rotina colaborar com a paróquia de El Masnou (a 22 quilômetros de Barcelona), onde é catequista e integra um grupo de jovens que se reúne para discutir a fé e fazer uma "revisão de vida".

Ele se diz animado com a viagem ao Brasil, cujo roteiro também inclui a Semana Missionária, na cidade paulista de Campo Limpo, e uma visita à Aparecida do Norte.

Ele e os demais peregrinos da Delegação da Juventude da Diocese de Barcelona estarão hospedados em casas de famílias voluntárias no Brasil.

O jovem acredita que são necessárias algumas inovações na Igreja Católica, e que o papa Francisco deveria falar com os jovens sobre temas polêmicos como o aborto e o uso de métodos contraceptivos, mas diz que "todo tipo de mudança é perigosa" e requer cuidado. "Acho uma mudança necessária à Igreja é rever o sacerdócio só para homens e permitir que as mulheres também possam exercê-lo".

Para ele, o evento é uma oportunidade para o papa motivar os jovens à fé cristã. "Há uma propaganda muito negativa sobre a Igreja Católica. Só se fala de casos de abusos de padres pedófilos, mas a Igreja faz muitas obras sociais que deveriam ser mais divulgadas."

Sergio afirma não estar preocupado com manifestações que possam ocorrer no Rio. "Vou ao Brasil com cuidado, mas sei que a mídia sempre vende uma imagem negativa".

Redes sociais

Desde pequena, a estudante de Direito Clara Mas Guerrero, de 21 anos, atua em atividades ligadas à Igreja Católica e hoje em dia é monitora de colônia de férias e atividades religiosas para crianças. Ela integra um grupo de cerca de 50 peregrinos das regiões da Catalunha e da Galícia que embarcaram de Barcelona para o Brasil na última segunda-feira.

Esta é sua segunda Jornada Mundial da Juventude, pois participou do encontro na capital espanhola em 2011. "Espero reviver aquele sentimento de Madri, de que não estávamos sozinhos. Nas jornadas, podemos compartilhar nossa fé, sentir que somos milhões de jovens e estamos unidos. Quero trazer esse espírito às pessoas do meu entorno e ser testemunha de fé."

Para a jovem, o papa Francisco tem demonstrado uma lição de humildade a todos os cristãos. Ela pondera que, para reverter a perda de fiéis, a Igreja "não tem de mudar no mesmo ritmo que a sociedade muda", mas sim encontrar novas formas de falar diretamente a eles sobre Jesus e sobre temas considerados tabu dentro do catolicismo, como aborto e homossexualidade.

"O desafio dos católicos agora é evangelizar os jovens utilizando novas formas de comunicação", como as redes sociais. "Nós, jovens, temos compromisso e merecemos um voto de confiança", avalia.

Itália

Embora a crise financeira e o alto preço das passagens aéreas tenham dificultado os planos de viagem de muitos jovens italianos, estima-se que até dez mil deles devam participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro.

A enfermeira Alessandra Broggini, de 26 anos, integra a delegação do país que abriga a sede do Vaticano. "Eu venho de uma cidade com 5 mil habitantes. Nem daria para encher um pequeno quarteirão do Rio de Janeiro. O impacto vai ser forte. É uma nova cultura para entender, numa paisagem de tirar o fôlego, com sol, mar, sorrisos e um Cristo para nos acolher", diz.

Ela faz parte de um grupo de 60 pessoas da diocese da pequena comunidade Solbiate Arno, próxima de Milão.

A jovem teme a violência, mas não os protestos que há várias semanas tem tomado conta do país e da cidade. "Eu condeno a violência, mas a manifestação em si, pacífica, por direitos como o acesso à educação e saúde, é legítima", argumenta.

Já o estudante Matteo Didonè, de 25 anos, também de Solbiate Arno, lembra que protestos já ocorreram em outras ocasiões e que não está indiferente a eles.

"Vivemos uma situação análoga em Madri, em 2011, com os 'indignados' que estavam até mesmo contra a Igreja. No Rio, as manifestações revelam um mal estar geral da população que quer, e muito, receber o papa. Fomos informados sobre a criminalidade, mas ela não nos assusta apesar de deixar um gosto amargo na boca. Quando penso ao Rio, me vem à mente uma cidade colorida, um povo amável e uma baía muito bonita, além da pobreza extrema da periferia e o grande desequilíbrio de riqueza dentro da sociedade", diz.

Contrastes e polêmicas

Silvia Fregoso, de 24 anos, cientista política natural de Milão, também não teme os recentes protestos e acha que "como peregrina e turista" não pode ignorá-los.

"Ao contrário, acho que os problemas e as esperanças da população devem ser compartilhados por todos sem a manipulação dos meios de informação", completa a jovem que será acompanhada por dois padres brasileiros.

Os jovens italianos acham que a Jornada Mundial da Juventude pode servir para renovar a fé na humanidade e na própria Igreja. Para eles, as discussões sobre o aborto e o casamento entre as pessoas do mesmo sexo são espinhosos.

"Estes são argumentos tão grandes que acho difícil ter uma posição fechada. Precisamos ter uma preparação e conhecimento para poder expressar um juízo", diz Silvia Fregoroso.

O estudante Matteo Didoné tem opinião formada. "A homossexualidade existe desde quando existe o homem. É inútil negá-la pois seria como negar o próprio homem. (Sobre os) casais de homossexuais que expressam um amor genuíno e não fruto de perversão, acho que têm o direito de exibi-lo e de torná-lo público. Mas não devemos misturar, entretanto, a união civil entre homossexuais e a sacralidade do casamento e da família, compreendida, neste caso, como um núcleo de fecundidade", avalia.

Argentina

Mais de 42 mil argentinos se inscreveram para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Muitas paróquias e colégios religiosos do país natal do papa Francisco devem enviar seus representantes para participar do encontro de jovens católicos no Brasil.

Os irmãos Lucas e Alan Regueiro, de 19 e 24 anos, respectivamente, relatam suas expectativas antes de viajar, neste fim de semana, de Buenos Aires para a capital fluminense.

Eles acham que Jorge Bergoglio, o ex-cardeal de Buenos Aires e atual chefe da Igreja Católica, vai "renovar" a instituição, mas não fará uma "revolução" e acreditam que apesar da capacidade de promover "reformas", o papa não mudará os princípios do Vaticano sobre temas polêmicos.

"Acho que o Papa Francisco, no seu pontificado, vai abordar, aos poucos, todos os temas que estão na agenda do mundo de hoje. Homossexualidade, aborto, redução dos católicos. Mas tudo dentro do que prega o evangelho. Não acho que ele fará uma revolução na Igreja Católica, mas acho que ele já está pregando o essencial (...)", diz Lucas.

"Mas espero que ele seja severo com a pedofilia que é responsável de uns poucos, mas que mancha a imagem da Igreja Católica", acrescenta.

Lucas é universitário e faz parte do grupo da igreja Santa Maria Betânia, no bairro de Almagro. Ele esteve na Jornada Mundial da Juventude em Madri, em 2011, quando os indignados lotaram as ruas da capital espanhola.

"Nós víamos os protestos de longe e nossos parentes de Buenos Aires é que ligavam preocupados contando sobre os protestos mais radicais que viam na televisão. Não tenho medo de protestos. Nada disso. E acho que muitos dos que protestaram no Brasil, no mês passado, têm afinidade com o Papa", disse.

Protestos e simplicidade Alan é professor de filosofia e de religião na escola Imaculada Concepción, no mesmo bairro de Almagro.

Ele conta que a recente onda de protestos no Brasil levou os pais dos jovens do grupo que coordena para a duvidarem sobre a ida dos filhos ao evento. O grupo conta com 50 crianças e adolescentes.

O argentino também comentou o legado do papa em seu país e suas posições sobre temas controversos.

"Quando era cardeal aqui em Buenos Aires, Bergoglio deixou evidente que ele é uma pessoa simples, transparente e sem fingimentos. Naquela época ele já deixava claro seu pensamento sobre várias questões polêmicas e acho que ele vai manter a postura de sempre, sendo a favor da vida e respeitando os que têm inclinação homossexual, mas sendo a favor da família na forma que nós conhecemos há milênios, e como pregam os conceitos católicos. Ele não será contra 2 mil anos de história", diz.

"Para mim, ele é a união de João Paulo 2º e Bento 16 e acho bom para o presente e para o futuro da Igreja", acrescenta.

Austrália

Estima-se que, reunidos, os países da Oceania devam enviar cerca de 1800 peregrinos à Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. O maior grupo é o dos jovens da Austrália, país que conta com uma das maiores comunidades católicos desta parte do mundo.

Entre os australianos há quem seja veterano nas jornadas juvenis católicas. Kelly Paget, de 30 anos, é professora secundária e já participou cinco vezes do evento.

Ela lidera um grupo de 32 peregrinos e já esteve em Toronto há 11 anos e também foi a Colônia, na Alemanha, além de Madri, na Espanha, e de ter participado da edição em Sydney, em seu próprio país. "Acho que esse encontro vai abordar principalmente questões relacionadas à injustiça entre classes, algo muito próximo do coração do nosso atual papa", diz.

Ela acredita que cada região tem seu desafio, e que enquanto a América Latina se concentra nas discrepâncias sociais, a Austrália lida com a questão da pedofilia entre padres.

Para Stephen Maiolo, de 18 anos, a violência no Rio não assusta. "Nós já temos um grupo no Facebook e vamos montar um blog para contar aos amigos que ficaram na Austrália como será a visita do papa", diz.

O estudante de filosofia e teologia leva na mala broches, coalas de pelúcia e bandeirinhas australianas para trocar com os novos amigos que pretende fazer. "O maior desafio da nossa juventude é encontrar o próprio senso de fé em uma sociedade tão mundana", afirma, e "utilizar as mídias sociais pra compartilhar a mensagem de Cristo é a melhor forma de mudar isso".

Tentações O australiano Matt Donnelly, de 20 anos, defende a castidade como característica essencial aos padres católicos, e menciona sexo, drogas e bebedeira como "diversões" que pretende evitar.

Para o estudante de Engenharia Civil, manter-se focado no espírito religioso do encontro deve ser seu principal desafio. "Acho que vai ter muita diversão. Os latinos são muito animados, mas eu vou ter que manter a cabeça no lugar. Sexo, drogas e bebedeira não estão de acordo com a mensagem de Cristo".

Ele acha que o maior problema da igreja hoje são os escândalos de pedofilia, mas não vê o fim da obrigatoriedade da abstinência sexual dos padres como uma solução. "A castidade é essencial à identidade católica, se deixar de existir tudo desanda", afirma.

Para Donnelly não é hora de "revolucionar" a igreja, mas sim de "refrescar" a imagem abatida da instituição. "Está nas mãos da juventude cristã mudar a percepção negativa que existe hoje e a maneira de fazer isso é dando bom exemplo", conclui.

Sudeste asiático

Na Ásia, países como Malásia, Indonésia e a ilha de Macau, na China, (que teve colonização portuguesa), devem enviar delegações à Jornada Mundial da Juventude - embora muito menores do que de países da América Latina e da Europa.

Entre os indonésios, 130 peregrinos se preparam para ver o papa Francisco no Rio de Janeiro. Trata-se de um grupo menor do que os 300 devotos que participaram da Jornada de Madri, em 2011.

"Mas essa viagem é bem mais cara, por isso menos gente está indo", diz a estudante Devi Carmelia, de 21 anos, de Jacarta, capital da Indonésia.

Para bancar a passagem, a jovem levantou fundos com rifas e venda de roupas usadas. No Rio ela espera conseguir ter a boa sorte de chegar mais perto de Francisco. Quanto à homossexualidade, que é proibida no país de maioria muçulmana, Devi acha que não cabe a ela julgar a escolha dos outros.

"O que precisa haver é respeito", diz. Mas ela é contra o aborto sem exceções e vê no perdão a solução para o problema dos abusos sexuais na Igreja. "Se o padre pecador admite, confessa e se arrepende, também ele será perdoado" conclui.

Para Lincoln Lee Keng Chuan, executivo de 33 anos natural de Kuala Lumpur, capital da Malásia, é difícil ser cristão em um país muçulmano. De família chinesa convertida ao catolicismo há várias gerações, ele é ativo na fé desde a infância.

"Há muita perseguição aberta ou velada", conta. "A última pedra jogada foi a proibição do uso da palavra Alá para designar Deus. Não podemos chamar Deus de Alá, pois eles dizem que é só para os muçulmanos, mas não há outra palavra no idioma", explica.

Macau Entre os jovens chineses que vivem na ilha de Macau, ex-colônia portuguesa e uma das duas regiões autônomas da China (a outra é Taiwan), há bastante expectativa pelo encontro com o papa Francisco.

Carla Noruega, de 20 anos, nasceu em Macau e estuda medicina na universidade de Xangai. De descendência portuguesa, ela cresceu na fé católica, e acredita que o novo papa vai mudar pra melhor a imagem da Igreja no mundo.

Contrária ao aborto, a jovem acha que evitar o sexo antes do casamento é uma questão de respeito. "Meus pais me ensinaram que isso é pecado e quando uma jovem vem de uma família sólida, dificilmente se entregará antes da hora", diz.

Já Maria João Rodrigues, de 17 anos, pretende aproveitar a peregrinação com alegria, mas diz que quer manter-se focada no espírito religioso do encontro.

"Dá para conciliar festa e fé", acredita. Ela concorda com o direito dos homossexuais ao casamento, "é bonito as pessoas se aceitarem", diz. Maria João não faria um aborto se ficasse grávida, mas não condena quem opta por terminar uma gravidez indesejada, "é uma escolha pessoal, não critico quem faz", afirma.

A estudante também espera que a igreja seja transparente em assuntos polêmicos como os casos de abuso de menores e afaste os envolvidos. O dogma do celibato é algo que "ainda permanecerá durante muito tempo", diz. Participando pela primeira vez do encontro, ela admite um pouco de ansiedade e está curiosa para ver o novo papa.

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