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Papa Francisco

Presidente do banco do Vaticano quer "tolerância zero" contra lavagem

13 jun 2013 - 16h07
(atualizado às 16h15)
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O Instituto para as Obras de Religião (IOR), mais conhecido como Banco do Vaticano, envolvido em vários escândalos por suspeitas de lavagem de dinheiro, defende a "tolerância zero" e promete acabar com "a cultura do silêncio" que reina na maior entidade financeira da Santa Sé, anunciou seu presidente, o alemão Ernst von Freyberg, em entrevista à AFP.

O IOR deve passar a ser "um membro bem quisto do sistema financeiro internacional", assegura o industrial alemão, que admite não conhecer os projetos de reforma que o papa Francisco tem para a instituição.

Este empresário oriundo da construtora naval alemã Blohm & Voss, nomeado em fevereiro por Bento XVI pouco antes de sua renuncia, sustenta "um objetivo muito concreto".

Ele espera que o grupo de consultores europeus da Moneyval, encarregada de avaliar os sistemas nacionais para combater a lavagem de dinheiro, conclua em poucas semanas seu relatório sobre o IOR.

"Temos adotado várias medidas, vamos terminar a análise nos próximos meses", declarou ele com um tom otimista, já que considera que a empresa avaliará positivamente a instituição.

O Banco do Vaticano, fundado em 1942 por Pio XII, possui 18.900 clientes e mantém o valor de seus ativos em 7,1 bilhões de euros. Ele administra as contas de freiras que estudam em Roma, as de bispos e cardeais, até as de poderosas congregações religiosas presentes em todo o mundo.

Escândalos como o da quebra do Banco Ambrosiano em 1982, e os relacionados ao envolvimento com a máfia, com a maçonaria e com o serviço secreto americano, mancharam a credibilidade do IOR, acusado de lavar dinheiro sujo de organizações criminosas.

O pontificado de Bento XVI decidiu limpar esse passado de má gestão e normalizar suas atividades. Desde a chegada do novo presidente, uma equipe de especialistas da agência financeira Promontory verifica a situação de cada conta do IOR. "Meu papel é melhorar a reputação do IOR", reconheceu von Freyberg.

Junto com o diretor da Agência de Informação Financeira (AIF) do Vaticano, o suíço René Brühlart, o presidente está empenhado em aplicar a "tolerância zero frente a qualquer transação suspeita". "Não somos um banco, não buscamos lucro, todo centavo que entra deve servir à Santa Sé. Temos que ser transparentes", insiste.

Para von Freyberg é muito importante que seus clientes saibam que seu dinheiro está em mãos seguras e que podem prestar seu serviço aos religiosos de todo o mundo.

"Administramos 7 bilhões de euros. Pagamos serviços em todo o mundo. De clínicas até campos de refugiados, onde é muito difícil lidar com o dinheiro", comenta. A má fama do banco é fruto de um conjunto de causas, explica o banqueiro.

"Primeiro se atuou de forma incorreta no passado", reconheceu, ao mencionar a polêmica relação com o Banco Ambrosiano, mas também circularam "boatos e calúnias" de todo o tipo.

"Satanás e Osama Bin Laden" foram mencionados, lembra. Outro aspecto negativo era que "nada era dito sobre o assunto. Tudo era encoberto".

"Calar é por si mesmo uma mensagem. É como esconder algo. A cultura do silêncio se expandiu, não tanto por maldade, mas por uma má decisão", defende.

Von Freyberg quer que a história da entidade seja documentada, estudada seriamente, para que os boatos tenham fim. Ele decidiu recorrer à justiça contra os meios e pessoas que caluniem o IOR e já criou uma equipe de comunicação "moderna e organizada", para explicar as funções e funcionamento do IOR.

Em 1º de outubro, o banco apresentará seu relatório anual, que poderá ser consultado na internet. Esta medida tem como objetivo fomentar a transparência das movimentações da instituição.

Perguntado se o Papa, que defende uma Igreja pobre para os pobres e que lembrou recentemente que São Pedro não tinha conta bancária, lhe disse o que pretende fazer com a entidade financeira da Igreja, ele respondeu: "nada, absolutamente nada. Não sei o que pensa sobre o IOR, nem o que quer fazer com a entidade".

Von Freyberg curiosamente ainda não foi recebido por Francisco, a quem cumprimentou apenas em ocasiões oficiais. "Algumas vezes assisti à missa matutina que ele celebra na capela da Casa Santa Marta", contou o banqueiro, que divide sua vida entre Roma e Frankfurt. "Estamos com ele. Ele irá nos indicar seus projetos e nossa missão será cumpri-los em seu nome", concluiu.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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