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Papa Francisco

Organização que se inspira na Idade Média espera papa mais comunicativo

Organização Arautos do Evangelho, fundada em São Paulo na década de 60, é apontada como uma das mais influentes dentro da Cúria Romana

12 mar 2013 - 07h49
(atualizado em 9/9/2013 às 14h12)
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Padre Carlos veste seu longo hábito marrom, estampado com uma cruz de Santiago vermelha e branca, estilizada com pontas que lembram flores de lis
Padre Carlos veste seu longo hábito marrom, estampado com uma cruz de Santiago vermelha e branca, estilizada com pontas que lembram flores de lis
Foto: Mário Camera / Especial para Terra

O padre Carlos não gosta de falar sobre as polêmicas que nos últimos anos mancharam a reputação do alto escalão da Igreja Católica. Também evita assuntos que têm dado dor de cabeça para o Vaticano, como as discussões sobre as legalizações do aborto, do casamento gay ou do sacerdócio feminino. Para este religioso, a questão é simples: a tradição deve ser preservada dentro da maior instituição religiosa do mundo, que agrega cerca de 1,2 bilhão de fiéis ao redor do mundo.

As posições do padre Carlos são as mesmas defendidas pelos Arautos do Evangelho, organização fundada em São Paulo, no final dos anos 60, pelo paulistano João Scognamiglio Clá Dias, com base na também conservadora organização católica Família, Trabalho e Propriedade. 

Essa associação brasileira de direito pontifício é apontada como uma das mais influentes dentro da Cúria. Segundo a prestigiosa revista italiana Panorama, os Arautos seriam os responsáveis pelo lobby para que um cardeal do continente americano seja eleito o próximo líder da Igreja.

Segundo a revista italiana, a influência dos Arautos dentro da Cúria Romana tem dois motivos. O primeira, é a capacidade vocacional da associação, que conta com cerca de 650 seminaristas espalhados pelo mundo. O segundo motivo é mais mundano: com seus quase 30 mil associados, espalhados por 78 países, a organização tem um poder financeiro que não pode ser negligenciado.

“Isso não é verdade”, afirma o Padre Carlos, negando que os Arautos de Cristo tenham influência política no alto escalão da Igreja. “Nós temos, sim, uma influência espiritual dentro do Vaticano”, garante o religioso, sentado no sofá do apartamento que serve de sede para a associação, em Roma.

Legionários de Cristo

Para a Panorama, os Arautos do Evangelho são os novos “Legionários de Cristo”, outra associação de direito pontifício, esta fundada pelo padre conservador Marcial Maciel, que terminou seus dias isolado, após ser condenado nos EUA por manter relações sexuais com menores de idade e afastado da Igreja pelo então papa Bento XVI. 

O mesmo Bento XVI foi quem, em 2001, deu a aprovação pontifícia aos Arautos, fazendo com que a associação “fosse a primeira a receber o título no terceiro milênio”, diz o Padre Carlos. 

O religioso prefere comparar a associação que representa aos cavaleiros que saíam da Europa rumo a Jerusalém, durante a Idade Média. A exemplo desses guerreiros que tomaram parte da África do Norte e do Oriente Médio há quase mil anos, os Arautos acreditam que sua missão é evangelizar o mundo. "Nós temos missionários em diversos países", explica o Padre Carlos.

Beleza para atrair fiéis

A comparação não para por aí. Na indumentária dos Arautos do Evangelho, as referências aos cavaleiros medievais está em diversos detalhes. “Nós usamos botas em homenagem a eles”, conta o religioso. 

Além das botas de cano alto, os membros da associação vestem-se com um longo hábito marrom, estampado com uma cruz de Santiago vermelha e branca, estilizada com pontas que lembram flores de lis. A cintura dos Arautos é ornada com uma corrente de ferro, símbolo de sua condição de escravos da virgem Maria, assim como um rosário, que, segundo padre, é a “arma espiritual” de seus membros. 

Um dos objetivos desse zelo com a vestimenta é atrair a atenção dos fiéis. “A beleza do hábito chama a atenção por onde passamos. As pessoas vêm falar conosco, dizendo o quanto nossas roupas são bonitas. E quando perguntam de onde somos, dizemos que ‘somos da Igreja Católica’”

Papa mais comunicativo

Os Arautos têm uma atenção especial com a comunicação. Com programas de rádio, TV, revista, páginas do Facebook e perfil no Twitter, a associação parece estar a anos luz de alguns setores mais jurássicos da Igreja Católica. 

A capacidade de comunicação em um mundo onde o volume de informação é enorme é, por sinal, a única coisa que o padre Carlos gostaria de ver mudar dentro da Igreja e na postura do próximo papa - embora mantendo a mesma mensagem de dois mil anos atrás.

“A Igreja precisa adequar os meios de evangelização à cultura de hoje, mas dando sempre a mensagem que é nova e antiga. Uma coisa bonita nunca fica velha. Nós queremos um papa mais aberto ao mundo moderno, com mais capacidade de comunicar para a cultura atual”, diz.

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Fonte: Especial para Terra
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