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Papa Francisco no Brasil

Favelas do Rio abrem as portas para receber peregrinos da JMJ

20 jul 2013 - 11h19
(atualizado às 12h12)
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<p>Peregrinos que estão no Brasil para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) são recebidos por comunidades</p>
Peregrinos que estão no Brasil para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) são recebidos por comunidades
Foto: Tânia Rego / Agência Brasil

Casas, paróquias e associações de moradores das favelas cariocas abrem suas portas e oferecem o que podem (camas, colchões ou qualquer espacinho onde caiba um saco de dormir) para receber parte dos 300 mil peregrinos que começam a chegar ao Rio de Janeiro para ver o papa Francisco.

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Segundo Maria Inez Nóbrega, de 52 anos e coordenadora geral da Igreja Nossa Senhora do Rosário, no Leme, a paróquia teve a rotina completamente alterada pela proximidade da Jornada e da chegada do papa e se prepara para recepcionar os peregrinos que ficarão hospedados nas favelas Chapéu Mangueira e Babilônia, na Zona Sul do Rio.

Para evitar que os visitantes se percam nas ladeiras e na numeração aleatória dos endereços das comunidades, os voluntários vão receber os peregrinos na igreja e levá-los até os alojamentos.

Além dos estrangeiros que levam seus sacos de dormir para as paróquias e associações de moradores, há também aqueles que serão selecionados para ficar na casa de residentes da favela, processo que exigiu um controle mais rigoroso dos funcionários da igreja.

"Se o candidato é um homem, que mora sozinho e é solteiro, não pode hospedar garotas. Os peregrinos que ficam nas casas chegam com uma carta do bispo da sua cidade de origem, é uma coisa séria, é preciso respeito. Para hospedar meninas, é preferível que seja uma família, onde possamos garantir que não há malícia", disse a coordenadora.

Roberto Ribeiro, de 21 anos, voluntário para receber peregrinos da JMJ na sua casa, é solteiro e mora sozinho no alto da favela Babilônia, com uma vista privilegiada da paisagem carioca.

"Não tenho problema em receber as pessoas. Já fiz intercâmbio, já viajei, já precisei ficar na casa dos outros. É bom para fazer amizade, conhecer gente", disse o jovem.

Para ser aceito como hospedeiro da JMJ, o voluntário teve sua casa avaliada pela funcionária da paróquia e fez uma breve entrevista, focada em dois tópicos: família e espiritualidade.

"Minha família aqui no Rio é muito pobre, mas tenho um outro lado familiar fora daqui que me deu muitas condições", disse.

O jovem, que faz Relações Internacionais e fala inglês, italiano e sueco, morou cinco anos na Suécia quando era criança. "Fui por uma manobra do meu pai, da qual discordei muito, mas que me ensinou muito também. Minha mãe morava em casa de estuque aqui enquanto eu, lá, tinha motorista particular".

Apesar da casa simples, o estudante é bolsista e não depende do dinheiro do pai, com quem já não tem mais contato: montou uma empresa de importação em Copacabana, de onde tira o seu sustento e o suficiente para ajudar a família materna.

"Eu já tenho condições de ir embora da favela, mas não quero sair de perto da minha mãe, ela precisa de ajuda aqui", afirmou.

A participação de Roberto na jornada deve se limitar a receber peregrinos. "Não sou ateu, acredito em Jesus, na Bíblia, mas não me defino como seguidor de nenhuma religião", disse o jovem, antes de se despedir no portão com um tímido "vão com Deus".

Ao final da visita, o jovem solteiro foi aprovado como voluntário. "Para receber rapazes, claro", disse Maria Inez.

Em outro terraço da favela Babilônia, uma senhora sorridente vestindo o hábito tradicional das freiras tentava encontrar sinal de internet no seu smartphone. "Eu sabia que devia ter trazido o meu iPad", lamentou.

A irmã Alice, de 55 anos, veio do desértico estado do Arizona, nos Estados Unidos, para participar da Jornada, e está encantada com o Rio de Janeiro.

"Eu nunca tinha visto tanta água na minha vida", disse a freira, com os olhos vidrados no mar, do alto do hostel Casa Babilônia, onde está hospedada à espera dos outros membros americanos da congregação Sagrado Coração de Maria.

Até a manhã desta sexta-feira, o grupo não sabia que ficaria em uma favela carioca. "Ninguém conhecia o Brasil, então não tínhamos ideia para onde estávamos indo. Era para ficarmos em outro lugar, mas acabamos aqui. Agora vejo a mão de Deus, porque nunca teríamos encontrado esse lugar sem ele", disse a irmã.

O grupo descartou a hospedagem em casas de moradores por serem muitos, e a ideia do hostel apareceu na paróquia poucos dias antes da chegada da irmã ao Brasil, com o número exato de camas que a congregação precisava: 28. Eles tomaram conta do local, e puderam ficar todos juntos.

"Passar alguns dias neste ambiente é iluminado, isso não existe onde eu vivo. É muito edificante. E quando você reúne tantos estudantes para rezar, isso pode transformar o mundo", afirmou a freira, observando com atenção o emaranhado de casas que emerge dos morros na favela.

"Acho que os mais velhos pensam às vezes que eles são os únicos que têm uma relação com Deus. Mas quando vemos tantos jovens, tantos adolescentes com uma visão igual à nossa, não nos sentimos tão sozinhos. Unir essas línguas e essas culturas com apenas um proprósito é maravilhoso", disse a irmã.

Papa Francisco no Brasil

Com um público estimado em 1,5 milhão de pessoas, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2013 ocorre entre os dias 23 e 28 de julho, no Rio de Janeiro. O evento, realizado a cada dois ou três anos, promove um encontro internacional de jovens católicos o Papa. A última edição da JMJ ocorreu em 2011, em Madri, na Espanha, e reuniu cerca de 2 milhões de pessoas, de mais de 190 países.

O evento marca também a primeira grande visita internacional do papa Francisco desde sua nomeação como líder máximo da Igreja Católica, em 13 de março desde ano. O Pontífice chega ao Rio de Janeiro na tarde do dia 22 de julho, com retorno a Roma previsto para o dia 28. Sua agenda no Brasil contempla a visita à comunidade de Varginha, no complexo de Manguinhos, na zona norte do Rio, e ao Hospital São Francisco de Assis. Além disso, terá um encontro com a sociedade no Theatro Municipal, no centro da cidade, e ao Santuário de Aparecida, em São Paulo. O ponto alto fica por conta de duas grandes celebrações na praia de Copacabana, na zona sul do Rio, nos dias 25 e 26.

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EFE   
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