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Papa Francisco

Analistas mundiais apontam italiano Scola como próximo Papa

Apesar das especulações, Conclave só deve ocorrer em março e a votação dos membros do Colégio de Cardeais é imprevisível

12 fev 2013 - 13h25
(atualizado às 15h50)
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<p>Na foto, o italiano Angelo Scola aparece ao lado de Bento XVI no 7º Encontro Mundial de Famílias</p>
Na foto, o italiano Angelo Scola aparece ao lado de Bento XVI no 7º Encontro Mundial de Famílias
Foto: AFP

Logo após o anúncio da renúncia do papa Bento XVI, feito na última segunda-feira no Vaticano, a lista de possíveis sucessores de Joseph Ratzinger começou a circular nas casas de apostas mundiais e apresentou nomes europeus, latino-americanos e africanos como favoritos. As especulações prosseguem até março, quando ocorrerá o Conclave, cujo resultado é imprevisível, já que cada um dos membros do Colégio de Cardeais tem liberdade de voto. Hoje, há 118 cardeais com menos de 80 anos, a idade máxima para poder ser eleitor. Pelo menos dois, porém, atingirão a data limite antes do pleito. Enquanto o Conclave é aguardado, cresce a opinião entre os analistas mundiais de que o novo Pontífice da Igreja Católica deve ser um italiano, e Angelo Scola é o nome provável nesse caso. 

É o que pensa o vaticanista americano Kevin Eckstrom. Segundo ele, o sucessor precisa passar pelo aval da Cúria Romana, dominada por europeus, o que reduz as chances de um potencial cardeal que não tenha nascido no continente. Correndo por fora, na sua avaliação, estaria o conterrâneo Timothy Dolan, 62 anos, que se tornou a principal voz do catolicismo nos Estados Unidos depois de ter sido nomeado arcebispo de Nova York em 2009.

"O mais provável é que o homem que sucederá Bento XVI seja um bispo de Roma, que compartilhe a sua visão da Igreja - tradicional, resistente a mudanças estruturais e insistente em ser uma minoria profética num mundo que está perdendo as rédeas. Ao renunciar, Bento XVI terá uma oportunidade sem precedentes para garantir isso, já que os cardeais serão hesitantes em escolher alguém que leve a Igreja para uma direção diferente", entende Robert Mickens, correspondente em Roma para o jornal The Tablet, um semanário católico internacional fundado em Londres em 1840. 

"Um italiano hoje tem mais chances do que nunca. Seria uma grande surpresa se o escolhido fosse um africano. Não por racismo, mas porque a Igreja Católica na África ainda é vista com desconfiança pelo Vaticano", analisou Philippe Levillain, professor de História Contemporânea da Universidade Paris X.

"Em tese, todos os cardeais são elegíveis, mas acredito que pela conjuntura da Igreja atual é pouco provável que tenhamos um Papa que não seja europeu. A necessidade grande de renovação no Vaticano exige a escolha de alguém que tenha conhecimento das cúrias, dos decanatos, de tudo o que acontece nessa estrutura grande e pesada de 2 mil anos de história", afirmou o  teólogo Isidoro Mazzarolo, pós-doutor em teologia e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

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Para o Monsenhor Robert Wister, professor de História Eclesiástica na Seton Hall University, em Nova Jersey (EUA), "o novo homem terá de ser um administrador melhor e saber delegar melhor a autoridade do que o atual Papa. Um cardeal com experiência em uma grande diocese, que fale muitas línguas e tenha cerca de 70 anos de idade, seria um bom candidato. Scola é o principal candidato". 

Nas bolsas de apostas britânicas, os nomes de um africano, um italiano e um canadense despontam como os favoritos. Na William Hill, na Coral, na Paddy Power e na The bookmaker, as quatro principais, o nigeriano Francis Arinze é o que recebe mais apostas, seguido pelo ganense Peter Turkson e o canadense Marc Ouellet. Arinze já era o favorito das bolsas britânicas quando da sucessão de João Paulo II, em 2005. 

Critérios e desafios complexos

O professor de Teologia da PUC-Rio, Paulo Fernando Carneiro de Andrade, salienta que os critérios para a escolha do novo líder da Igreja são complexos e não levam em conta, necessariamente, o número de católicos de um país ou continente, mas sim os interesses da Cúria, o que reforça a ideia da escolha por Scola.

"A escolha não necessariamente leva em conta o tamanho da população católica do país de onde ele vem. O perfil buscado tem mais a ver com a capacidade de saber convergir os interesses da Cúria e, assim, garantir um bom funcionamento da Igreja", disse ele. 

"A Igreja dará entrada em uma nova era, e já há especulações sobre seus sucessores, mas quando a disputa começar, o consistório de cardeais procurará por um homem que seja capaz de comunicar os dogmas centrais do catolicismo via todas as formas tecnológicas possíveis, e um Papa que tenha a capacidade de inspirar respeito em diversas partes do mundo", ressaltou o pesquisador e documentarista especializado em religião Mark Dowd.

O novo Papa terá de encarar desafios em áreas que, de acordo com o teólogo brasileiro Leonardo Boff, Bento XVI não conseguiu avanços, como "o confronto com a modernidade, o encontro com as culturas e com outras religiões. (Ratzinger) tinha a compreensão de que a Igreja Católica era o único porta-voz da verdade, e a única capaz de dar rumo a toda humanidade. Por isso, teve dificuldades com muçulmanos e judeus".

"Bento XVI estava muito preocupado com a disciplina da Igreja, com os ritos, as normas. Isso deu para ele segurança interna, mas ele acabou se perdendo na missão evangelizadora. As estatísticas comprovam que a Igreja Católica perde fiéis progressivamente e somente um líder dinâmico, com capacidade de diálogo, poderá recuperar isso", acredita o teólogo Isidoro Mazzarolo, da PUC-Rio. 

O especialista em religiões na universidade Sorbonne, em Paris, Odon Vallet, conclui que um nome do Terceiro Mundo seria importante, mas isso não deve ocorrer agora. "A escolha de um cardeal latino-americano seria um sinal de renovação, mas o problema é que eles não conseguem se entender entre eles. Entretanto, existem divisões em todos os continentes, e a nacionalidade é um fator menos importante do que o respeito à linha que os cardeais querem dar para a Igreja.”

Como funciona o Conclave

A Sé Vacante, tempo que transcorre desde que um Papa morre ou renuncia, até a escolha de seu sucessor, começará em 28 de fevereiro de 2013 às 20h em Roma (16h de Brasília), como o próprio Pontífice anunciou em sua carta de renúncia. O Conclave será realizado até o fim de março e contará com a participarão de 120 cardeais em regime de isolamento, com 118 aptos a votar. 

Habitualmente, o Conclave é realizado na Capela Sistina. Os cardeais se hospedam no edifício denominado "Domus Sanctae Marthae" (Residência Santa Marta), na Cidade do Vaticano. Embora sejam levados deste prédio ao Palácio Apostólico de ônibus, o isolamento dos cardeais é total. Eles são proibidos de usar o telefone, assistir à televisão ou trocar qualquer tipo de correspondência com o exterior nos dias prévios à escolha.

Em 2007, Bento XVI modificou as regras para a eleição de seu sucessor - concretamente o sistema de maioria estabelecido pelo texto de 1996. Com isso, para escolher o sucessor de Bento XVI, será preciso obter mais de dois terços dos votos dos cardeais eleitores em todas as urnas. Até então, era necessária essa maioria, mas se após o terceiro dia de votações e chegada a 33ª ou 34ª apuração não houvesse resultados positivos, a definição aconteceria por maioria absoluta. Além disso, a nova regra estabelece que quando chegar a vez de voto dos dois cardeais mais votados, estes não poderão participar da votação.

No que diz respeito ao nome dos candidatos, deve constar na cédula escrita uma caligrafia diferente da particular de cada cardeal, e está proibido aos eleitores revelar a qualquer outra pessoa notícias sobre as votações, antes, durante e depois da designação do novo papa. Após cada eleição, as cédulas são queimadas. A tradição indica que os cardeais devem usar palha seca ou úmida para que a fumaça seja preta (se não foi escolhido o papa) ou branca (se a votação deu como resultado a eleição do novo Pontífice).

Quando o resultado é alcançado, o decano dos cardeais imediatamente pergunta ao eleito se ele aceita a eleição. Se este for o caso, torna-se Papa e sua jurisdição estende-se imediatamente para o mundo católico. O novo Papa deve declarar o nome que ele escolheu como Pontífice. Assim que o eleito "aceitar sua escolha canônica" como sumo pontífice, o primeiro dos diáconos - cardeal Protodiácono - anuncia da sacada da Basílica vaticana a eleição do novo Papa com a tradicional citação: "Nuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam".

"O resultado de um Conclave é sempre uma surpresa. Pode durar um tempo longo ou ser muito rápido. O papa Bento XVI foi eleito no quarto escrutínio, em dois dias. Ninguém entra candidato a Papa, não é uma convenção política. Não há propaganda, publicidade. Todo mundo entra com poder de ser votado e votar", disse o arcebispo de Aparecida e presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Raymundo Damasceno Assis, 75 anos, que vai participar da votação e concorrer ao cargo. "Sempre que vou a Roma compro passagens de ida e volta", afirmou, bem-humorado.

Com informações da BBC Brasil e da Agência Brasil

Fonte: Terra
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