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Europa

Queda do Muro de Berlim pôs à prova reforma de Gorbachov

8 nov 2009 - 09h09
(atualizado às 09h21)
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A queda do Muro de Berlim foi o grande teste internacional pelo qual passou o processo de mudanças impulsionado pelo então líder soviético, Mikhail Gorbachov, que estava decidido a romper com décadas de confrontos com o Ocidente.

"À doutrina (do líder soviético Leonidas) Brezhnev, preferimos agora a doutrina Sinatra", declarou meses antes daquele turbulento novembro de 1989 o então porta-voz oficial da diplomacia soviética, Gennady Guerasimov, que à época não foi levado a sério por quase ninguém.

Apesar dos avanços da "nova mentalidade" proclamada por Gorbachov, para muitos era inacreditável que o Kremlin permitiria que seus antigos aliados atuassem "à sua maneira", como diz a famosa canção de Frank Sinatra, e abriria mão da "soberania limitada" que a hoje extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) impôs a sangue e fogo em Budapeste (1956) e em Praga (1968).

Esta mudança era ainda menos crível porque aliados da República Federal da Alemanha (RFA, Alemanha Ocidental), como a França e o Reino Unido, se opunham a uma possível reunificação com a República Democrática Alemã (RDA, Alemanha Oriental).

Nos quatro anos que antecederam a queda do muro, as relações da Rússia com a Alemanha Oriental se complicaram muito.

Enquanto a "perestroika" (reforma política) promovida por Gorbachov na URSS ia transformando os países do bloco comunista, dois líderes socialistas, o da RDA, Erich Honecker, e o da Romênia, Nicolae Ceaucescu, resistiam com unhas e dentes à qualquer tentativa de mudança.

"As ameaças espreitam aqueles que não se adaptam às exigências da vida, enquanto aqueles que sentem os impulsos da sociedade conseguem enfrentar sem temor as dificuldades", declarou Gorbachov em 7 de outubro de 1989, nos 40 anos da RDA.

O tradutor alemão do líder soviético foi ainda mais categórico: "A vida pune quem tarda".

Dez dias depois, Honecker foi destituído do cargo. Em 9 de novembro, o muro caiu.

O então ministro de Assuntos Exteriores soviético, Eduard Shevardnadze, disse em entrevista à Agência Efe que uma das principais preocupações de Gorbachov à época era com os ânimos dos cerca de meio milhão de soldados do Exército Soviético posicionados na Alemanha Oriental.

Gorbachov teve que viajar pessoalmente à RDA para evitar que as tropas saíssem às ruas do país.

"Fomos lá e Gorbachov deu ordens para que não interviessem. Se não tivéssemos viajado, o Exército poderia ter intervindo", o que, segundo Shevardnadze, "poderia ter gerado uma nova guerra mundial".

Também na cúpula soviética, admitiu o ex-ministro, havia vários líderes que eram contra a reunificação da Alemanha, sobretudo depois que "mais de 20 milhões de soviéticos sacrificaram suas vidas" na Segunda Guerra Mundial.

Os passos dados por Gorbachov permitiram que, em fevereiro de 1990, Estados Unidos e URSS se transformassem nos promotores da Conferência 2+4, em que as duas Alemanhas e os quatro países vencedores da Segunda Guerra (URSS, Estados Unidos, Reino Unido e França) discutiram a reunificação.

Até hoje, muitos não conseguem perdoar Gorbachov pela retirada das tropas da Alemanha e pela desintegração do bloco comunista, hoje incorporado à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o que era impensável há 20 anos.

À época, o departamento de análise do Ministério da Defesa da Alemanha chegou a elaborar um plano que previa a permanência das tropas soviéticas em território alemão depois da reunificação e a substituição da Otan pela Otae, organização de defesa que reuniria EUA, URSS e outros países europeus.

Mas, em julho de 1990, reunidos na residência presidencial de Arjyz (no Cáucaso Norte), Gorbachov e Shevardnadze telefonaram para o chanceler da Alemanha Ocidental, Helmut Kohl, e disseram a ele que a URSS não era contra o ingresso de toda a Alemanha na Otan.

Os dois também disseram a Kohl que retirariam as tropas soviéticas do território alemão se o Exército da Alemanha mantivesse seu efetivo em 240.000 soldados.

EFE   
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