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Europa

Principal opositor de Putin é condenado a cinco anos de prisão

18 jul 2013 - 18h49
(atualizado às 19h01)
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O líder opositor russo Alexei Navalny foi condenado nesta quinta-feira a cinco anos de prisão no âmbito de um processo por desvio de recursos que afastará do cenário político um dos principais críticos ao presidente Vladimir Putin.

O juiz Serguei Blinov condenou Navalny "a cinco anos de campo de internamento devido à gravidade do crime e ao perigo que (Navalny) representa para a sociedade", assim como ao pagamento de uma multa de 12.000 euros.

O opositor foi imediatamente algemado e detido na sala do tribunal de Kirov, 900 km a leste de Moscou.

A promotoria pediu que o opositor fique em liberdade condicional até que o recurso apresentado por seus advogados seja analisado.

"A promotoria considera que Navalny pode ser colocado sob controle judicial até a entrada em vigor da sentença", indicou o serviço de imprensa da Promotoria. O pedido deve ser analisado pelo Tribunal de Kirov sexta-feira às 10H00 (03h00 de Brasília).

Ao mesmo tempo, milhares de pessoas -2.500, segundo a polícia, e 10.000, segundo os organizadores- se reuniram no centro de Moscou para exigir a libertação do opositor.

A polícia agiu rapidamente, cercando e evacuando a Praça Vermelha e uma praça adjacente.

O julgamento de Navalny, de 37 anos e pai de dois filhos, começou no dia 17 de abril. Ele é acusado de ter organizado em 2009 o desvio de 400.000 euros da exploração florestal pública de Kirovles quando era consultor do governador liberal da região.

A promotoria pedia para Navalny seis anos de campo de internamento.

"Não permaneçam inativos", escreveu o opositor, conhecido por suas investigações sobre corrupção, na última mensagem que publicou em sua conta no Twitter antes de ser algemado.

Durante a leitura da sentença, Navalny bebia água e escrevia em seu smartphone, parecendo não prestar muita atenção ao que ocorria ao seu redor.

O outro acusado neste caso, Piotr Ofitserov, diretor de um grupo comercial ao qual, segundo a acusação, a empresa pública Kirovles vendeu madeira a um preço inferior ao de mercado, foi condenado a quatro anos de campo.

Já o diretor da Kirovles, Viacheslav Opalev, foi condenado a quatro anos de prisão condicional, depois de chegar a um acordo de colaboração com a investigação, algo que Ofitserov se negou a fazer.

"Tenho cinco filhos. Hoje precisam de mim. Mas se aceitar um acordo com os investigadores, eles me perguntarão quando forem maiores: 'Papai, o que você fez?'", explicou na última declaração ao tribunal.

Navalny e Ofitserov abraçaram suas esposas, presentes na sala do tribunal.

"Temos que trabalhar e mostrar nossa solidariedade a Alexei e Piotr. Tudo correrá bem", declarou Yulia Navalnaia, esposa de Navalny.

Vários opositores foram a Kirov para apoiar Navalny.

Boris Nemtsov, ex-vice-primeiro-ministro de Boris Yeltsin, denunciou um caso "fabricado do início ao fim".

A jornalista e militante pelos direitos dos prisioneiros Olga Romanova vestia uma camiseta na qual era possível ler "Liberdade para Navalny, Putin ladrão!", o slogan preferido do opositor.

Estados Unidos, União Europeia, França e Grã-Bretanha reagiram rapidamente a essa condenação.

Os Estados Unidos estão "profundamente decepcionados com a condenação do opositor russo Alexei Navalny, um líder opositor e um militante anti-corrupção", declarou o porta-voz do presidente Barack Obama, Jay Carney.

"A condenação de Navalny a uma pena de prisão severa é o exemplo mais recente de uma tendência perturbadora do Estado (russo) de querer calar vozes dissidentes da sociedade civil", acrescentou o porta-voz, ampliando as declarações já feitas pelo embaixador americano em Moscou, Michael McFaul, em sua conta no Twitter.

"As inúmeras insuficiências do procedimento (judicial) neste caso alimentam nossas preocupações em relação ao estado de direito na Rússia", acrescentou Carney, exortando Moscou a "permitir uma apelação imparcial e justa do veredicto".

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, expressou sua preocupação após essa condenação, que levanta "muitas questões sobre o Estado de direito na Rússia".

O ex-presidente soviético Mikhail Gorbachev denunciou que "a utilização da justiça na luta contra adversários políticos é inaceitável", em um breve comunicado no qual afirmou: O caso "confirma, infelizmente, que não temos uma justiça independente na Rússia".

Já a França manifestou sua preocupação e a Grã-Bretanha lamentou uma justiça seletiva.

A defesa do opositor declarou que apelará da sentença.

Por outro lado, Alexei Navalny convocou um boicote das eleições municipais de 8 de setembro em Moscou, das quais pretendia participar para enfrentar o prefeito em fim de mandato Serguei Sobianin, próximo ao presidente Putin e nomeado por decreto em 2010.

Embora tenha declarado há muito tempo sua intenção de se candidatar à eleição presidencial de 2018, não poderá fazê-lo a partir do momento em que sua pena for confirmada em apelação.

Navalny classificou as acusações de que é alvo de absurdas, já que, segundo ele, quase todo o dinheiro foi entregue à empresa e o restante constituía a parcela da sociedade que intermediou as transações e da qual não era beneficiário.

Durante o processo, o opositor afirmou não ter dúvida alguma de que Putin "dava pessoalmente instruções aos investigadores.

Transformado em uma das principais figuras da oposição nascida em 2011, Alexei Navalny denunciou uma "vingança política" do Kremlin por suas revelações sobre a corrupção e pela campanha contra o partido no poder, Rússia Unida, e a reeleição de Vladimir Putin como presidente em 2012.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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