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Europa

Portugal volta às urnas sem crise, mas ainda com austeridade

2 out 2015 - 16h38
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Portugal retorna às urnas em um contexto econômico muito diferente do de quatro anos atrás, após virar a página da crise, sair com sucesso de seu resgate financeiro e voltar ao caminho do crescimento, embora ainda sob o jugo da austeridade.

Os cortes começaram a ser aprovados em 2010 e acabaram custando o posto do então primeiro-ministro, o socialista José Sócrates, que pouco após anunciar sua renúncia - e antes de perder as eleições para o conservador Pedro Passos Coelho - teve que baixar a cabeça e pedir ajuda à União Europeia (UE) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os ajustes se tornaram cada vez mais variados e severos à medida que as taxas de juros que penalizavam a dívida soberana do país se aproximavam de níveis insustentáveis, mas não se aliviaram no mesmo ritmo quando a pressão dos investidores diminuiu.

No momento em que Passos Coelho celebrava sua vitória eleitoral, em junho de 2011, a cotação dos títulos públicos a dez anos - utilizados como referência - rondava 9,7%. Em janeiro de 2012, registraram um novo recorde histórico ao alcançarem 17%, mas desde então a pressão caiu e agora eles são vendidos a 2,5%.

Esta queda não se viu acompanhada, no entanto, de um alívio da austeridade, devido aos compromissos adquiridos pelas autoridades portuguesas com os organismos internacionais, que lhe exigem reduzir seu déficit e garantir a sustentabilidade das contas públicas.

O notável aumento de impostos se mantém - incluindo uma sobretaxa extraordinária paga por todos os trabalhadores privados - e o corte salarial dos funcionários também, ao que se somam outros ajustes, como o aumento das taxas a pagar pelo acesso à saúde pública, que não voltaram a diminuir.

Outras medidas não afetaram diretamente o bolso do consumidor, mas foram aplicadas até os últimos dias de mandato, como a privatização de grandes empresas públicas, como as elétricas EDP e REN, a companhia aérea TAP, a gestora de aeroportos ANA e os Correios.

Ao longo dos quatro anos de governo conservador, a situação macroeconômica do país chegou ao fundo do poço - a crise foi sensivelmente mais prolongada e dura que o previsto pelos credores - para posteriormente voltar a melhorar.

Portugal viveu em recessão por três anos consecutivos (2011, 2012 e 2013) com uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) acumulada superior a 6%. Já em 2014, a economia cresceu 0,9%, e neste ano deve manter a tendência e subir até 1,5%.

O desemprego está praticamente nos mesmos níveis do início da legislatura, em torno de 12%, após bater recordes em 2013, quando beirou 18%.

O dado atual se deve, no entanto, em parte ao elevado número de portugueses que optou por emigrar para buscar trabalho fora do país - quase 100.000 por ano -, o que se reflete em uma redução da população ativa.

Os sinais positivos no plano macroeconômico e financeiro são precisamente o principal argumento de Passos Coelho para tentar reeditar sua vitória eleitoral à frente da candidatura conservadora, apesar de ele mesmo reconhecer que ainda falta que estas melhoras sejam perceptíveis no dia a dia do cidadão comum.

Os socialistas, comandados por António Costa, questionam os méritos do governo para facilitar essa recuperação econômica e lembram que outros indicadores pioraram sob sua gestão, como o do nível da dívida do país, que equivalia a 100% do PIB (cerca de 165 bilhões de euros) em 2011 e que hoje representa quase 130%.

Uma das questões de maior destaque no debate público é dilucidar até que ponto Portugal mudou sua estrutura produtiva de forma estrutural para superar assim a fraqueza histórica de sua economia, convalescente de anemia inclusive na primeira década do século XXI, quando cresceu em média menos de 1%.

O turismo, a reconversão industrial de setores tradicionais - por exemplo, o do calçado -, a aposta na tecnologia e nas empresas emergentes, assim como a significativa alta de suas exportações, são a base de uma melhora hoje visível, mas que ninguém sabe quanto durará.

EFE   
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