Partido Pirata renova a política alemã, mas não escapa de críticas
Novo partido aposta na transparência e ganha destaque em debates ligados à internet e à proteção de dados. Mas críticos afirmam que isso não basta e cobram posições sobre a guerra no Afeganistão e a crise do euro.
O Partido Pirata é a grande novidade do espectro partidário alemão e trouxe consigo uma forma diferente de fazer política. O partido exerce fascínio principalmente sobre os eleitores jovens e consegue atrair para a política setores da sociedade tradicionalmente indiferentes ou até mesmo avessos a ela.
Os piratas começaram a chamar a atenção quando conseguiram ingressar no Legislativo da cidade-Estado de Berlim, com surpreendentes 9% dos votos, em setembro passado. De lá para cá, são assunto frequente nos maiores jornais alemães e em programas de debates políticos no rádio e na televisão.
"Nesse momento, eles são como um grande jogo de computador, uma grande simulação do que é política. Na prática, no trabalho diário, os piratas não tiveram até agora qualquer influência no processo político", afirma o analista político Michael Spreng.
O partido faz sucesso com sua postura irreverente e tem um programa partidário de apenas 24 páginas. Intitulado Exigência e participação, ele inclui poucos tópicos, entre eles sustentabilidade, mais democracia e transparência do poder público. "Um indivíduo só pode viver de maneira digna se tiver como suprir suas necessidades mais básicas. Só assim está garantida a sua participação na sociedade em pleno exercício da cidadania", diz o trecho inicial. Uma das reivindicações dos piratas é um salário mínimo para cada habitante da Alemanha, independente de quaisquer obrigações.
Estilo inovador e transparência
Enquanto políticos estabelecidos oferecem os eleitores raras possibilidades de interação pessoal, os piratas estão quase sempre disponíveis online. Todos os membros da bancada regional de Berlim têm um livestream. Todas as reuniões organizadas pela bancada, tanto no plenário como num bar, são transmitidas ao vivo pela internet.
Num recente debate político de domingo à noite, em horário nobre na rede pública ARD, o diretor-executivo do partido, Johannes Ponader, se tornou o primeiro político alemão a colocar mensagens no Twitter ao vivo para os eleitores, enquanto participava de um programa de televisão. O comportamente de Ponader irritou o apresentador do programa, que ficou visivelmente incomodado com a atitude inusitada.
Os piratas aplicam a sua tese da transparência a todos os níveis decisórios internos e fazem da internet um instrumento-chave para esse empreendimento. Mas não escapam de críticas. "Será que a transparência a todo o custo, como pleiteiam os piratas, é realmente factível na política diária? Essa transparência total não impediria a tomada de decisões importantes? Será que é realmente isso de que precisamos?", questiona o pesquisador de estrutura partidária Jürgen Falter, da Universidade de Mainz.
Inexperiência
Críticos alertam que, afora temas relacionados com transparência e proteção de dados, o partido não tem propostas concretas, por exemplo, sobre questões importantes da política alemã, como a presença militar no Afeganistão ou os problemas enfrentados pelo euro.
Quando perguntados pela imprensa sobre esses temas, líderes piratas não mostram qualquer constrangimento em dizer frases como "ainda não pensamos sobre isso" ou simplesmente "não sei o que dizer sobre isso".
Há também momentos de inexperiência ou até mesmo ingenuidade. Num programa de TV, o deputado pirata berlinense Martin Delius comparou o sucesso do seu partido à ascensão dos nazistas. "O fulminante sucesso do nosso partido é igual ao do NSDAP no período de 1928 a 1933", declarou. Depois desse tiro no pé, Delius desistiu da recandidatura à direção nacional do partido.
A declaração deu origem a um debate sobre o extremismo de direita dentro do Partido Pirata, e uma das líderes do partido em Berlim, a deputada Marina Weisband, declarou ser necessária "uma filtragem" de membros de ideologia duvidosa no partido. Depois de várias ameaças de cunho antissemita por email e por carta, a deputada, que segue a religião judaica, acabou renunciando ao cargo.
Nas últimas semanas também vieram à tona manifestações sexistas de alguns membros do partido, integrado majoritariamente por homens. A bancada de Berlim, por exemplo, é composta por 15 parlamentares, sendo 14 deles do sexo masculino.
Apenas um partido de protesto?
Esses "micos" políticos, que colocariam partidos estabelecidos em apuros, até agora não tiveram maiores consequências no caminho de sucesso e popularidade dos piratas. Segundo Spreng, eles tiram proveito do que os especialistas chamam de força inicial. "Os piratas têm fama de modernos, da força que chegou para desafiar os partidos estabelecidos."
Segundo ele, essa imagem inicial de sucesso encobre os aspectos negativos. À medida que o tempo passa, porém, o público tende a se tornar mais crítico, principalmente se o partido mantiver o sucesso inicial. "No momento, o partido dos piratas é uma simulação virtual da política. Se eles realmente querem e são capazes de fazer política, ainda não se sabe. A prática diária no Legislativo de Berlim mostra que até hoje isso não aconteceu. O que se pode afirmar, até agora, é que o partido é uma excelente plataforma para eleitores de protesto", diz Spreng.
"Eu vejo um movimento de base. Conforme o partido for adentrando os legislativos regionais, esse processo será um divisor de águas. Se continuarem em cima do muro, não poderão assumir responsabilidades no processo político. A consequência provável disso será a decepção do eleitorado", completa Falter.