Oposição fala em apresentar moção de censura se Rajoy não se pronunciar
Alfredo Pérez Rubalcaba, líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), principal partido de oposição na Espanha, anunciou nesta terça-feira que apresentará uma moção de censura ao governo se o chefe do Executivo, Mariano Rajoy, não comparecer ao Parlamento para dar explicações sobre o "caso Bárcenas".
Até agora, o Partido Popular (PP) rejeitou os pedidos dos grupos da oposição para que Rajoy explique no Parlamento o escândalo de corrupção gerado em torno do ex-tesoureiro do partido, que está na prisão acusado de suborno e lavagem de dinheiro.
Como o PP tem maioria absoluta no Parlamento, uma moção de censura não iria adiante.
Rubalcaba, que pediu a renúncia de Rajoy, disse hoje que solicitaria uma moção de censura porque considera que o "caso Bárcenas" desencadeou uma crise política "incalculável" no país e contaminou de forma "irremediável" a imagem da Espanha.
O dirigente socialista admitiu que o PSOE não tem os votos suficientes para exigir a substituição do presidente do Governo, mas explicou que apresentará a moção para obrigar que Rajoy compareça e dê explicações.
O chefe do Executivo disse ontem, em entrevista coletiva, que não pensa em renunciar e que completará seu mandato.
"Se outros querem julgar outras coisas por uma ou outra razão, é responsabilidade deles, mas vou dar a garantia aos espanhóis que aqui há um governo estável e que vai cumprir com sua obrigação", disse, após afirmar que um chefe do Executivo não pode se pronunciar "a cada dia a insinuações, rumores ou informações interessadas".
O porta-voz do PP no Senado, José Manuel Barreiro, acusou hoje o secretário-geral do PSOE de ter formado uma "coalizão de interesses" com o ex-tesoureiro do PP.
Em seu discurso no Conselho Permanente do Senado, que deve rejeitar o pronunciamento de Rajoy solicitado pelos grupos da oposição, Barreiro disse que o único interesse de Rubalcaba neste caso não é saber a verdade, mas tirar Rajoy do governo.
"Buscar uma via que as urnas não lhe deram para chegar ao governo, essa é a única razão", denunciou, após afirmar que o chefe do governo deu explicações sobre o assunto.
A vice-presidente do Governo, Soraya Sáenz de Santamaría, disse hoje que o Executivo intensificará a "linha reformista" que empreendeu ao início desta legislatura e que "nada nem ninguém" o fará retroceder em seu empenho para sair da crise.
O ministro da Economia e Competitividade, Luis de Guindos, assegurou também por sua vez que a estabilidade política na Espanha "está garantida", que os mercados internacionais estão convencidos disso e que o governo continuará aplicando sua atual agenda de reformas.
Segundo De Guindos, a estabilidade política que a Espanha oferece é "um dos grandes valores do país" e informações como as do "caso Bárcenas" não afetam sua imagem nos mercados externos.
Luis Bárcenas apresentou sua renúncia definitiva como tesoureiro do PP em abril de 2010 e em depoimentos ao juiz depois que foi revelado que tinha contas na Suíça no valor de 48 milhões de euros, afirmou que o PP mantinha um caixa dois e que foi financiado de forma irregular durante 20 anos.
O ex-tesoureiro também afirmou que havia pago salários extras a membros do alto escalão do partido, o que motivou as reivindicações da oposição.
O caso veio à tona após a publicação na imprensa de uma suposta contabilidade paralela com anotações de pagamentos secretos a diversos funcionários do PP.
O ex-tesoureiro está desde 27 de junho em prisão incondicional e sem fiança por risco de fuga depois que supostamente tentou transferir fundos de suas contas na Suíça para o Uruguai e os Estados Unidos.