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Europa

Operação francesa no Mali marca virada na presidência de Hollande

18 jan 2013 - 18h39
(atualizado às 19h17)
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O índice de aprovação dos franceses à operação militar comandada pela França no Mali demonstra o quanto a população aguardava por um momento de protagonismo internacional do presidente socialista François Hollande, eleito em abril. Com 75% de apoio popular à guerra contra rebeldes tuaregs do norte malinense, além de contar com uma rara unidade política em torno da ação, o conflito marca uma nova fase no mandato de Hollande, até então uma figura inexpressiva no cenário internacional.

Soldado do Exército do Mali segura metralhadora enrolada na bandeira francesa durante viagem a Niono
Soldado do Exército do Mali segura metralhadora enrolada na bandeira francesa durante viagem a Niono
Foto: AFP

As chances de sucesso da empreitada ainda são incertas - depois de iniciar ataques aéreos, os soldados franceses passaram para uma fase delicada por terra, à caça dos entre 500 e 600 islamistas que, a partir de abril de 2012, assumiram com uma velocidade assustadora o controle de parte do país. A proximidade dos extremistas da capital Bamako foi o limite que impulsionou o francês a romper com uma de suas características mais marcantes, a da conciliação a qualquer preço. Para evitar que o Mali caísse de vez nas mãos de terroristas, na última sexta o governo francês tomou a dianteira de uma operação militar, amparado por uma resolução da ONU que autoriza o envio de tropas para combater ao lado dos soldados malineses e africanos.

A iniciativa surtiu reações positivas por todos os lados – apoio das lideranças europeias e dos Estados Unidos, aprovação popular e até da direita francesa, feroz inimiga dos socialistas. Para um presidente impopular, que custava a reforçar sua imagem de líder da quinta maior economia do mundo, o conflito era a oportunidade ideal.

“É um perfeito batismo para exercer as suas funções de comandante das Forças Armadas. Oito meses depois de tomar posse, é a primeira vez que ele decide assumir uma operação militar importante”, afirma Bruno Tertrais,  cientista político especialista em segurança nacional e defesa do think tank Fundação de Pesquisas Estratégicas (FRS). “Aqueles que o criticam por sua incapacidade de tomar decisões certamente devem estar surpresos.”

Os franceses, lembra o especialista, são acostumados a ver o país na linha de frente das questões internacionais - um papel que estava apagado sob o mandato Hollande. Não à toa, o seu predecessor, Nicolas Sarkozy, havia apostado todas as fichas no conflito na Líbia para tentar recuperar a popularidade e se reeleger, no ano passado. Já o socialista, concentrado em melhorar a situação econômica e social dos franceses, em plena crise europeia, se manteve afastado de dramas humanitários como o conflito na Síria.

“Estamos em um momento raro de união nacional. Esta guerra marca uma ruptura no mandato dele, afinal até agora cada decisão de François Hollande era sistematicamente criticada e deslegitimada pela oposição”, observa Frédéric Dabi, cientista político do Instituto Francês de Opinião Pública, um dos principais do país.

Porém este estado de graça não deve durar - a paciência dos franceses vai ser curta se o conflito se mostrar longo e a volta do crescimento econômico tardarem a aparecer. E em campo, o analista Kader Abderrahim, especialista em Magreb e radicalismo islâmico do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, destaca que “nada está garantido” - a custa de derrubar o ditador Muammar Kadafi na Líbia, as potências ocidentais despejaram milhares e milhares de armas no país, e boa parte deste armamento foi parar nas mãos dos terroristas ao final do conflito.

“As chances de fracasso são pequenas, é verdade. Mas é impossível saber quanto tempo esta guerra vai durar, sobretudo se os outros países só oferecerem apoio moral a Hollande, como fizeram até agora”, afirma. “O sequestro de dezenas de reféns ocidentais na Argélia [na quarta-feira] demonstra o quanto os terroristas estão agressivos. E o ataque do Exército argelino, provocando perdas entre os extremistas, só vai acentuar esta tensão no Mali.”

Fonte: Terra
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