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Europa

Obama faz apelo por desarmamento nuclear

19 jun 2013 - 15h16
(atualizado em 20/6/2013 às 08h07)
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O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez um apelo nesta quarta-feira por uma redução drástica das armas nucleares para construir um mundo de "paz e justiça", em um discurso na Portão de Brandemburgo, em Berlim, símbolo das divisões da Guerra Fria.

Moscou reagiu friamente a essas declarações e indicou que não aceitaria um desequilíbrio de forças.

Referindo-se aos 50 anos do famoso discurso de seu antecessor John F. Kennedy --"Ich bin ein Berliner"--, proferido em 26 de junho de 1963 em uma cidade dividida pela cortina de ferro, Obama considerou que o fim da Guerra Fria não acabou com a luta por um mundo melhor.

"As palavras" de Kennedy, que pediam justamente "paz e justiça", são "atemporais", disse Obama diante deste monumento histórico, inalcançável quando o Muro separava a Alemanha Oriental e Ocidental.

"O Muro pertence à História. Mas nós também devemos fazer História", declarou, enumerando os desafios contemporâneos: os extremismos, a pobreza e a fome, o aquecimento climático e a ameaça da proliferação nuclear.

Sobre essa última questão, ele fez a proposta mais concreta de seu discurso. "Podemos garantir a segurança da América e de nossos aliados e ainda manter fortes meios de dissuasão reduzindo nossas armas estratégicas em um terço", declarou Obama aos 6.000 convidados reunidos na Pariser Platz, em frente ao Portão de Brandemburgo.

Ele convocou Moscou para negociações de desarmamento. "Tenho a intenção de buscar reduções negociadas com a Rússia para superar as posições nucleares da Guerra Fria", afirmou.

A Rússia respondeu por meio de seu vice-primeiro-ministro Dmitri Rogozine que não poderia "considerar com seriedade" essas declarações.

"Como podemos considerar com seriedade esta ideia de redução dos arsenais nucleares no momento em que os Estados Unidos desenvolvem seu potencial de interceptação deste arsenal estratégico?", questionou Rogozine, que é responsável pelo complexo militar-industrial russo, citado pela agência Itar-Tass.

"Não podemos permitir o rompimento do equilíbrio dos sistemas de dissuasão estratégicos, o enfraquecimento da eficácia de nossas forças nucleares", declarou o presidente russo, Vladimir Putin, sem citar as declarações de Obama, em uma reunião em São Petersburgo.

O presidente americano tenta fazer com que o desarmamento nuclear seja o foco de seu trabalho, já creditado por um novo tratado de redução de armas negociado com Moscou durante seu primeiro mandato. Os dois ex-inimigos da Guerra Fria concordaram em reduzir seus estoques a 1.550 ogivas.

Barack Obama também prometeu que os Estados Unidos "farão mais" para lutar contra o aquecimento global.

"A paz e a justiça, isso significa se recusar a condenar nossos filhos a (viver em) um planeta menos hospitaleiro", explicou. "É nosso trabalho (...), temos uma obrigação moral".

Pouco após a sua chegada ao poder em 2009, Obama propôs um ambicioso projeto de lei sobre a energia e o clima visando uma redução considerável das emissões de CO2 dos Estados Unidos, segundo maior emissor de gases do efeito estufa atrás da China. Mas imediatamente precisou enfrentar a hostilidade de grande parte do Congresso e voltou atrás.

Seu discurso invocando os valores ocidentais e a necessidade de se mobilizar por um mundo melhor não foi recebido da mesma maneira do que o proferido pelo então candidato à presidência em 2008, quando falou para 200 mil pessoas em Berlim.

O entusiasmo do público, ainda que escolhido, era real, porém mais moderado, frente a um presidente extremamente popular na Alemanha, mas que assumiu o poder há cinco anos com, teoricamente, os meios para combater os males que hoje denuncia.

Numa coletiva de imprensa conjunta com a chanceler alemã, Angela Merkel, ao meio-dia, Barack Obama tentou conter as preocupações alemãs sobre o programa de monitoramento eletrônico desenvolvido por Washington.

Em um país muito exigente em relação à privacidade, devido ao seu passado nazista e comunista, Obama defendeu a vigilância.

"Nós não estamos em uma situação em que (os serviços de inteligência americanos) fuçam os e-mails de cidadãos alemães comuns, de cidadãos americanos, de cidadãos franceses ou de qualquer outra pessoa", disse, defendendo o combate ao terrorismo e as vidas salvas graças à inteligência.

Merkel, originária da antiga Alemanha Oriental comunista, no entanto, ressaltou a importância de um equilíbrio entre a segurança e o respeito à privacidade.

Sobre o Afeganistão, Obama disse que espera manter o processo de reconciliação, apesar da ameaça feita por Cabul de boicotar as negociações de paz em Doha e da forte resistência do governo afegão em relação à contatos diretos entre Washington e os rebeldes talibãs.

O presidente americano também voltou a defender uma solução política para o conflito na Síria, recusando-se a confirmar quaisquer entregas de armas para os insurgentes sírios, após as acusações de uso de armas químicas pelo regime de Bashar al-Assad.

A primeira-dama Michelle Obama e as duas filhas do casal presidencial aproveitaram esta viagem para um mergulho na história, depositando rosas entre os blocos de concreto do antigo Muro de Berlim depois de uma visita ao Memorial do Holocausto.

Para a visita de Barack Obama, a capital alemã montou um dispositivo de segurança especial, com 8.000 policiais e o bloqueio completo de certos bairros. Ele deve voltar a Washington hoje à noite com sua família depois de um jantar de gala oferecido por Angela Merkel e seu marido, Joachim Sauer.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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