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Europa

Muro de Berlim tornou povoado de Klein Glienicke inacessível

22 jul 2011 - 10h00
(atualizado às 10h46)
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A construção do Muro de Berlim, que completa 50 anos no próximo mês de agosto, transformou da noite para o dia a aprazível localidade de Klein Glienicke, de apenas 500 habitantes, em uma espécie de prisão fronteiriça.

Por sua singular geografia, Klein Glienicke, nos arredores de Berlim, adentrava como duas pontas de lança em território ocidental. Rodeada pelas águas do lago Griebnitzsee e cortada pelo muro, era acessível apenas com um salvo-conduto e atravessando uma estreita ponte desde a cidade oriental de Potsdam.

A exposição "Por trás do muro: Glienicke, lugar da divisão alemã" faz um percurso por esta "zona de segurança especial" que foi cenário de intercâmbios de agentes entre o Leste e o Oeste, durante a Guerra Fria.

As fotografias e material de áudio e vídeo, os objetos originais da época, como uma escada utilizada para pular o muro, oferecem ao público uma aproximação do que representou para os moradores deste povoado viver por trás da chamada Faixa da Morte.

A mostra conta histórias de fugas dramáticas, de famílias destruídas, de uma intensa troca de tiros entre o Leste e o Oeste, das absurdas normas de segurança que entorpeciam o cotidiano de Klein Glienicke e da vigilância constante a seus habitantes.

Entre as joias da exposição está uma maquete detalhada da área, utilizada pelos guardas fronteiriços, e que na realidade devia ter sido destruída em 1989.

A Faixa da Morte, cujo traçado atravessou nesse ponto uma paisagem cultural de palácios e jardins prussianos e que atualmente é patrimônio mundial da Unesco, acabou com a tranquilidade do povoado.

"Vivi a construção do Muro de fora, no Mar Báltico. Quando lemos e escutamos na rádio, não acreditamos. Falávamos para nós mesmos: 'Não pode ser verdade'", lembrou em declarações à Agência Efe Gitta Heinrich, que tinha 20 anos quando Klein Glienicke foi atravessado pelo muro.

Heinrich, que protagoniza um dos capítulos da exposição, reconheceu que teve que aceitar a realidade rapidamente e, apesar da incredulidade e do medo, em um primeiro momento conservou a esperança.

"Tínhamos esperança nas negociações entre os aliados, que ainda acontecesse algo e a situação mudasse. Simplesmente ainda não podíamos acreditar", afirmou, lembrando as décadas de divisão alemã, entre 13 de agosto de 1961 até a queda do Muro no dia 9 de novembro de 1989.

Segundo Heinrich, "o cotidiano foi muito duro depois", principalmente porque tinha que encontrar com sua noiva fora da localidade até se casarem. "Casamos, tivemos filhos, nos instalamos e formamos um círculo de amigos", relatou.

A queda do muro devolveu a liberdade e agora, mais de 20 anos depois, a exposição e o livro a fizeram reviver todos aqueles anos entre muros. "Com o livro e a exposição todos os problemas afloraram e me levaram à insônia, porque na aquela época os reprimíamos", declarou.

Nos mais de 28 anos de existência do chamado Muro da Vergonha, pelo menos 136 pessoas morreram ao longo de seus 155 quilômetros de comprimento ao tentar passar para o lado ocidental.

Entre os habitantes de Klein Glienicke houve quem conseguisse fugir para o Ocidente, alguns saltando o muro com ajuda de uma escada, outros de maneira mais sofisticada, por exemplo, após cavar um túnel durante um ano apenas com a ajuda de uma pá de brinquedo para não levantar suspeitas.

EFE   
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