Madri e Barcelona mudam de mãos com "indignadas"
A capital espanhola, Madri, elegeu neste sábado a ex-juíza Manuela Carmena, de 71 anos, do movimento dos "indignados" e Podemos, poucas horas antes de outra "indignada", Ada Colau, 41, ser eleita em Barcelona.
A ex-magistrada obteve a maioria absoluta dos 57 conselheiros: 29 eleitos votaram para ela durante uma sessão solene carregada de suspense, uma vez que o voto é secreto e havia temores de uma reviravolta de última hora.
Quando a última cédula com seu nome foi lida, aplausos e gritos irromperam na sala onde seus partidários gritavam "si, se puede!" (Sim, podemos!"), o slogan das manifestações dos "indignados".
Pablo Iglesias, líder do partido de esquerda Podemos, que faz parte da lista "Ahora Madrid" com as formações Equo (ecologistas) e Izquierda Unida (eco-comunista), na plataforma cidadã Ganemos Madrid, também esteva presente e foi aplaudido.
Carmona, que foi uma militante comunista em sua juventude e proeminente defensora dos direitos humanos, tomará as rédeas de uma cidade de três milhões de pessoas, nas mãos do conservador Partido Popular durante 24 anos.
A nova prefeita chegou em segundo lugar nas eleições, atrás de Esperanza Aguirre, do Partido Popular, mas os socialistas decidiram apoiá-la em nome da "mudança" numa capital atingida pela crise e marcada por numerosos escândalos de corrupção.
"Estamos a serviço dos cidadãos de Madri. Queremos governar ouvindo-os. Deixe-nos chamar pelo primeiro nome", disse Manuela Carmena antes de evocar a história de "Julia, de 63 anos", uma dama "de rosa" que atravessou a Puerta del Sol e lhe contou a difícil história de sua vida com 300 euros por mês.
Partidários de Manuela Carmena estavam apreensivos na manhã deste sábado, por medo de não vê-la ocupar o cargo.
Eles evocaram o "tamayazo" quando, em 2003, o Partido Socialista perdeu a oportunidade de governar a região de Madri, como resultado da traição surpresa de dois deputados desertores regionais.
Esperanza Aguirre, que obteve 44 mil votos a mais do que Carmena, pediu aos conselheiros responsabilidade, enquanto alguns investidores se mostraram preocupados com a ascensão ao poder da esquerda radical: "Somos a vitrine da nossa nação", disse ela.
As primeiras decisões de Manuela Carmena terão como alvo as crianças pobres, para garantir duas refeições por dia, e às pessoas ameaçadas de despejo de suas casas.
A cidade de três milhões de pessoas, cujo centro histórico atrai mais e mais visitantes, sofre de uma taxa de desemprego de 16%.
Este também é o caso de Barcelona, onde Ada Colau, ativista anti-despejos, será sem dúvida a próxima prefeita.
Um terço da população do porto mediterrâneo de 1,6 milhões de habitantes em arquitetura modernista está à beira da exclusão social.
A lista de Ada Colau, "Barcelona en comu", obteve 11 assentos de um total de 41 contra dez para o atual prefeito Xavier Trias, um conservador nacionalista, e cinco para o Ciudadanos (centro-direita). Pelo menos dez eleitos de esquerda, incluindo os separatistas catalães e socialistas irão apoiá-la.
Para a cerimônia de posse, prevista para às 15h00 GMT (12h00 de Brasília) os lugares de honra estão reservados para os representantes das organizações que lutam contra a pobreza e a exclusão.
A ativista também planeja implementar um plano de emergência contra as desigualdades.
No resto da Espanha, a esquerda dirigirá outras grandes cidades, incluindo Valência e Sevilha.
No geral, durante as eleições regionais e municipais de 24 de maio, o Partido Popular no poder perdeu dez pontos, mantendo-se em primeiro lugar com 27% dos votos, mas lado a lado com os socialistas. Podemos foi o terceiro.
O chefe do governo, Mariano Rajoy, prometeu mudanças no PP e no governo. Objetivo: manter uma sólida maioria nas eleições parlamentares de novembro.
Podemos, nascido em janeiro de 2014, será até lá uma peça importante do jogo político.
"Nosso objetivo principal é vencer as eleições gerais", ressaltou Iglesias em frente à prefeitura.