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Mundo

Igreja da Áustria pede perdão a vítimas de abusos sexuais

31 mar 2010 - 18h56
(atualizado às 19h04)
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A Igreja Católica austríaca pediu hoje perdão publicamente e mostrou seu arrependimento pelos numerosos casos de abusos sexuais perpetrados por religiosos.

O arcebispo de Viena e presidente da Conferência Episcopal, Christoph Schönborn, fez uma grande cerimônia na catedral de São Esteban, na qual participaram milhares de pessoas além de vítimas de abusos sexuais e maus-tratos que deram seu testemunho.

"Deus, te pergunto: O que passa com a minha Igreja?"; "O poder absoluto corrompe absolutamente. Também à Igreja"; "A hierarquia calou durante muito tempo e é a responsável desta catástrofe"; "a Igreja preferiu salvar sua reputação à verdade".

Estas foram algumas das queixas dos crentes que subiram ao púlpito da catedral durante a cerimônia de penitência, uma iniciativa do "Somos Igreja", um grupo de católicos com uma base crítica em relação ao Vaticano e que participou da liturgia.

Também houve experiências pessoais duras, como a de uma mulher que leu o relato do filho de uma conhecida. O jovem Michael passou a maior parte dos últimos 10 anos em um centro de atenção psiquiátrica devido aos abusos sexuais que sofreu como seminarista.

Ou a de uma mulher que explicou os maus-tratos diários que sofria em um internado católico nos anos 60, as humilhações e as horas de clausura em uma casinha gelada no inverno.

Schönborn não só agradeceu às vítimas por terem rompido o silêncio, mas pediu perdão em nome da Igreja e afirmou que "quando as vítimas falam agora, Deus fala através delas". O arcebispo leu, junto à teóloga Veronika Jagenteufel, um texto no qual reconheceu "a culpa" coletiva da Igreja e sua responsabilidade pelo ocorrido.

"Reconhecemos que alguns de nós utilizaram a confiança das crianças indevidamente, reconhecemos que alguns de nós recorremos à violência sexual, reconhecemos que não quisemos ver a verdade, que encobrimos e demos falsos testemunhos, reconhecemos que alguns de nós roubamos infâncias, foram algumas das frases de contrição entoadas por Schönborn e Jagenteufel.

Em 2010 a Igreja Católica da Áustria recebeu 566 comunicados de supostos casos de abusos sexuais e maus-tratos perpetrados por religiosos católicos, informaram hoje os meios de comunicação austríacos.

A maioria dos casos prescreveram, o que parece indicar que o escândalo da pedofilia dentro da Igreja empurrou muitas vítimas, que tinham guardado silêncio até agora, a dar um passo à frente.

A deterioração da imagem da Igreja, sublinhada por várias pesquisas, pode levar cerca de 70 mil católicos a abandonarem a sua fé esse ano, um número sem precedentes segundo os próprios cálculos da Igreja, informou o diário conservador "Die Presse".

Recentemente Schönborn anunciou a criação de uma comissão independente para esclarecer os casos de abusos perpetrados por religiosos.

A perda anual de entre 30 mil a 50 mil crentes nos últimos 30 anos rebaixaram o número de católicos em um milhão de pessoas no país centro-europeu. Desta forma 66% da população - 5,3 milhões - se definiu oficialmente como católica em 2009, quando em 1961 esse número era de 87%.

EFE   
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