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Europa

"Iberismo" sonhado por Saramago está distante de espanhóis e portugueses

21 mai 2013 - 10h04
(atualizado às 10h09)
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O Prêmio Nobel de Literatura português José Saramago sonhou com a criação de uma federação entre Espanha e Portugal, e foi um dos últimos defensores do chamado "iberismo", uma ideia que, por enquanto, espanhóis e portugueses sequer cogitam.

O presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, recebeu nesta segunda-feira, em Madri, o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, por ocasião da 26ª Cúpula hispânico-portuguesa, uma mostra dos importantes laços existentes entre os dois países, uma relação que, por outro lado, não parece tão próxima nas ruas.

"O movimento do iberismo não existe, se trata de uma espécie de imagem que teve certo sucesso com Saramago", diz Salvador Santiuste, sociólogo e chefe do Barômetro Hispano-Luso, que acabou em 2011, em entrevista à Agência Efe.

Soledad Segoviano, professora de Relações Internacionais da Universidade Complutense de Madri, concorda que este conceito é "uma ideia promovida pelas elites, mas não um movimento social".

Ela opina que há "muitos acordos em defesa, economia e energia" entre os países, mas acredita que é preciso "explorar mais atividades conjuntas que promovam a cultura, o cinema ou a literatura".

O turismo parece ser quase o único setor no qual as relações sociais entre moradores de um e outro lado da fronteira prosperam.

"Viajar de um país a outro é fácil, é barato e está perto", constata Santiuste, e além disso "agora um e outro somos destinos preferenciais devido à crise", acrescenta Segoviano.

Ambos declaram que, para os espanhóis, os países de referência são França e Alemanha, por isso sentem uma "certa indiferença e desinteresse" para com os assuntos portugueses, enquanto em Portugal o sentimento em relação à Espanha oscila entre a "ambivalência" e o "temor".

"Portugal se tornou independente da Coroa espanhola, e esse medo de ser absorvido pelo país vizinho está presente. Foi instrumentalizado politicamente: desde os anos 30, para que o regime ditatorial tivesse uma posição contrária à república espanhola, até as eleições de há alguns anos, com o tema do trem de alta velocidade Madri-Lisboa", explica Segoviano.

Por um lado, os portugueses veem a Espanha "como um país que conseguiu se desenvolver de uma maneira rápida e moderna, um país que pode ser um espaço de oportunidades, mas sempre houve uma espécie de ressentimento quanto ao 'inimigo espanhol', um sentimento que é muito pequeno, está diluído, mas continua no imaginário coletivo", diz Santiuste.

Apesar disso, o último estudo realizado pelo Observatório Hispano-Luso em 2011 mostra que tanto portugueses como espanhóis não veriam com maus olhos uma união política.

"Entre os portugueses, 46% estavam a favor dessa ideia, assim como 39% dos espanhóis. Entre os espanhóis havia 20% de indiferentes, e 35% dos portugueses diziam estar totalmente contra. Aí se demonstra a ambivalência de uns e a indiferença dos outros", explica Santiuste.

O sociólogo matiza que a indiferença espanhola é menor nas regiões que fazem fronteira com Portugal.

Este é o caso de Extremadura, no sudoeste da Espanha, onde houve vários projetos de cooperação nos últimos anos e onde o português é a segunda língua estrangeira mais falada do lado espanhol.

"Compartilhamos uma fronteira que no passado foi uma barreira e agora é uma oportunidade", declara Enrique Barrasa, diretor de Ação Exterior do governo de Extremadura.

EFE   
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