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Mundo

Grupo pró-Putin vê presidente como herói que salvou a Rússia

4 out 2012 - 14h51
(atualizado às 16h23)
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Sandro Fernandes
Direto de Moscou

Há aproximadamente dez anos, as rádios da Rússia tocavam um hit que parecia prenunciar a política do país da década seguinte. "E agora eu quero um homem como Putin / Alguém como Putin, cheio de força / Alguém como Putin, que não beba / Alguém como Putin, que não me machuque / Alguém como Putin, que não fuja". O grupo de meninas que cantava a música dividia o protagonismo do clipe com as cores da bandeira russa, revelando o tom patriótico que tomaria conta do país nos próximos anos.

Para os jovens do grupo Nashi, Putin é um herói e a imprensa Ocidental não quer ver o que de fato acontece no país
Para os jovens do grupo Nashi, Putin é um herói e a imprensa Ocidental não quer ver o que de fato acontece no país
Foto: Sandro Fernandes / Especial para Terra

Aleksey Karilyov tem 22 anos, fala inglês, espanhol e francês, leva uma cruz ortodoxa no pescoço e não tem vergonha de declarar: "Eu estou com Putin". Aleksey é um dos coordenadores do movimento Nashi, a juventude que apóia Putin, e não quer ser fotografado porque "a imprensa ocidental está tentando demonizar o movimento e ele ocupa um posto de liderança no grupo". Mas garante ter orgulho de ter votado no partido Rússia Unida, o braço político de Putin. "Ele salvou o nosso país do caos dos anos 90. Eu me lembro do que meus pais contavam. Não podíamos ter nada porque a máfia controlava o país". Segundo o jovem, se não fosse a máfia, teriam sido o Estados Unidos. A rivalidade dos tempos da Guerra Fria ainda está no discurso do cidadão comum e dos políticos. "A Rússia precisa de um líder de pulso forte, que controle o país. Precisamos de Putin".

Entre uma atividade e outra da faculdade, Aleksey organiza os encontros desta juventude que parece estar disposta a tudo para defender Vladimir Putin. O grupo Nashi organiza não somente passeatas e mobilizações políticas, mas também convoca os jovens a doar sangue ou a ajudar na limpeza de um lago ou uma floresta. Tudo sempre com uma grande cobertura da mídia. As três televisões que alcançam todo o território da Rússia são direta ou indiretamente (através de empresas públicas) controladas pelo Estado.

A forte máquina de propaganda do Kremlin conseguiu criar uma política personalista baseada na figura de Vladimir Putin, além de incucar um sentimento patriótico entre os russos. "Quem é contra Putin, é contra a Rússia", defendem muitos dos que apóiam o atual presidente.

A aparente instabilidade política da Rússia é uma percepção externa - ocidental, como é dito em primeira pessoa pelos russos. As inúmeras manifestações que ocorreram este ano na Rússia chegaram a ser chamadas pela mídia de "primavera russa", em referência às revoltas do mundo árabe. No entanto, 10 meses depois dos primeiros protestos, que começaram com o descontentamento após o resultado oficial das eleições parlamentares de dezembro de 2011, a oposição parece ter perdido o fôlego. As manifestações anti-Putin continuam reunindo algumas milhares de pessoas, mas a complexa heterogeneidade dos que protestam - grupos liberais, comunistas e nacionalistas - dificulta a organizacao política dos mesmos e deixa espaço para que o putinismo avance entre os insatisfeitos.

A ideia de que o jovem russo que apoia Putin vem do interior da Rússia e/ou nao tem instrução é errônea. Putin conta com um verdadeiro exército de simpatizantes e partidários e o líder da nova Rússia vê na juventude a sua grande força política.

A oposição critica o grupo Nashi por receber financiamento direto do Kremlin e por pagar para que centenas de pessoas participem das manifestações pró-Putin. Em 2010, estima-se que o grupo tenha recebido 200 milhões de rublos do Estado (aproximadamente R$ 13 milhões). Muitas vezes os "nashistas" são comparados à Juventude nazista e à Juventude comunista. Em maio deste ano, o grupo apresentou um novo partido politico - Russia Inteligente, que concorrerá nas próximas eleições municipais.

E o avanço do Kremlin entre os jovens não para por aí. Todos os anos, durante o verão, pelo menos 60 mil jovens se reúnem no Fórum Seliger, em uma cidade a 250 km de Moscou, para discutir os rumos da política, da economia e da sociedade russa. O evento é tido como um panfleto do partido majoritário Rússia Unida e várias oficinas antioposição são realizadas no local.

"Putin representa a nossa vontade de mudar a Rússia. Queremos que o país volte a ser uma potência mundial e estamos orgulhosos em ter um presidente como ele, que luta pela nossa nação", declara a jovem Natalya Burinkova, vestindo uma camisa que diz "Rússia: juntos, somos mais fortes".

Fonte: Especial para Terra
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