PUBLICIDADE

Europa

Fraudes e massacres ajudam a entender reunificação alemã

8 nov 2009 - 09h06
(atualizado às 09h12)
Compartilhar

A queda do Muro de Berlim surpreendeu por ter sido inesperada, mas foi consequência da revolução pacífica iniciada na República Democrática Alemã (RDA, Alemanha Oriental) por ocasião de uma fraude nas eleições locais e pela defesa que o Governo regional fez do massacre da Praça da Paz Celestial, na China.

As eleições de maio de 1989 na RDA aconteceram já sob a visível deterioração do regime do Partido Socialista Unificado (SED), que o serviço secreto do país, o temido Stasi, vinha registrando em seus relatórios pelo menos desde 1987.

À época, o descontentamento de parte da população com a falta de alimentos aumentava e até para os militantes do SED ficava difícil defender o regime.

Com o tempo, os críticos da RDA passaram a repetir a célebre frase da propaganda oficial: "Aprender com a União Soviética é aprender a ganhar".

Mas o contexto da citação não era mais a defesa do regime, mas a "perestroika" (reforma política) defendida pelo líder russo Mikhail Gorbachov, cujas linhas reformistas não eram seguidas pelo Governo da Alemanha Oriental.

O regime do SED, presidido por Erich Honecker, bem que tentou fazer frente às reverberações da "perestroika" com medidas como o veto à distribuição da revista soviética "Sputnik", o que aumentou o descontentamento de muitos críticos.

No entanto, antes de maio de 1989, salvo raras exceções, o descontentamento era algo manifestado, antes de tudo, a portas fechadas ou em círculos de intelectuais.

Das eleições municipais, um dos estopins da revolução pacífica na RDA, a oposição não podia esperar muito. Os eleitores tinham diante de si listas únicas que só podiam aprovar ou rejeitar. Ainda assim, o regime manipulou os resultados do pleito naquele ano.

No entanto, um grupo de opositores, até então praticamente ignorado, conseguiu apresentar provas sólidas da fraude orquestrada pelo SED, que recebeu 98,85% dos votos.

A denúncia fez os debates se estenderem a vários setores da população. A isso, se uniu o fato de que a ida para o bloco capitalista, muito desejada por habitantes da RDA, havia se tornado mais fácil com a abertura para o Ocidente que estava em curso em outros países do Pacto de Varsóvia, como a Hungria, que tinha desmontado a Cortina de Ferro em sua fronteira com a Áustria.

Inicialmente, as autoridades húngaras até se esforçaram para cumprir o compromisso de impedir os alemães da RDA de cruzarem a fronteira. Mas, no fim, o Governo de Budapeste abriu a fronteira e, em 11 de setembro, mais de 50.000 alemães do lado leste foram recebidos com júbilo na República Federal da Alemanha (RFD, ou Alemanha Ocidental).

No dia 30 desse mesmo mês, a RDA se viu obrigada a permitir que 6.300 de seus cidadãos, refugiados na embaixada da Alemanha em Praga (República Tcheca), migrassem para o lado oeste. A travessia foi feita em trens especiais que partiram da própria Alemanha Oriental.

Em função disso, nas estações de onde saíram os comboios, vários alemães manifestaram seu apoio aos viajantes e inúmeros outros tentaram subir nos trens.

Ao êxodo de milhares de pessoas se somou um aumento nas deserções de militantes do SED. Nos primeiros oito meses de 1989, segundo o historiador Karl Wilhelm Fricke, cerca de 100.000 pessoas abandonaram o partido.

Na cidade alemã de Leipzig, em 4 de setembro, todos os presentes em uma tradicional oração pela paz na igreja de São Nicolau saíram às ruas pedindo o fim do Stasi e liberdade para viajar. Foi o começo das chamadas manifestações das segundas-feiras, que foram ficando cada vez maiores.

A tensão entre o regime e os manifestantes - que gritavam palavras de ordem como "Um país sem muros" ou "Nós somos o povo" - aumentava mais e mais, e muitos temiam um desenlace sangrento e uma solução aos moldes da China, em uma alusão ao massacre da Praça da Paz Celestial, em Pequim.

Parte da cúpula do SED fez uma última tentativa de salvar o regime ameaçando uma abertura, e, em 16 de outubro, Honecker foi tirado da liderança do partido e da chefia do Governo, sendo substituído por Egon Krenz.

Krenz e o SED decidem, então, dialogar com os opositores. O chefe do partido governista em Berlim, Günther Schabowski, que mais tarde se tornou o responsável indireto da queda do muro em 9 de novembro, se reuniu em 26 de outubro com os líderes da plataforma Neues Forum, até então uma organização quase criminosa.

Em 8 de novembro, o Neues Forum foi reconhecido como organização política e, 24 horas depois, Schabowski anunciou, um dia antes do previsto e para surpresa geral, a abertura das fronteiras e a consequente queda do muro que dividiu Berlim, a Alemanha e a Europa.

EFE   
Compartilhar
Publicidade