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Europa

França: "não há consenso" para votar zona de exclusão aérea

17 mar 2011 - 15h58
(atualizado às 16h31)
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A França antecipou que "não há consenso" entre os membros do Conselho de Segurança para adotar nesta quinta-feira de forma unânime o projeto de resolução que autoriza o uso da força na Líbia para proteger a população civil e deter a ofensiva de Muammar Kadafi contra os rebeldes.

O embaixador da França perante a ONU, Gérard Araud, indicou que, em sua opinião, correrá "mais de uma abstenção e alguma surpresa".

Araud não informou se acha que China ou Rússia, como países-membros permanentes do principal órgão de decisões das Nações Unidas, evitarão exercer seu direito ao veto apesar se suas reservas ao uso da força.

O Conselho de Segurança da ONU votará, a partir das 19h de Brasília, esse projeto de resolução, sobre o qual seus 15 países-membros mantiveram negociações por várias horas, da mesma forma que na quarta-feira.

"Esperamos tomar ações muito em breve. Há acordo. Se existe consenso, não posso falar pelos outros", indicou o presidente rotativo do Conselho de Segurança, o embaixador chinês Li Baodong.

Segundo fontes diplomáticas, o documento auspiciado por franceses, britânicos e libaneses, que será submetido a votação, inclui a adoção de "todas as medidas necessárias para proteger a população da Líbia", a exceção de uma ocupação militar do país.

Também inclui um pedido de cessar-fogo imediato, como solicitou a Rússia, e um endurecimento das sanções impostas ao regime de Kadafi, além de uma zona de exclusão aérea.

Fontes diplomáticas ocidentais assinalaram que a resolução é "forte" e envia uma "mensagem firme" ao líder líbio.

Após a reunião da manhã, os embaixadores pararam para entrar em contato com suas capitais e receber instruções sobre a votação que acontecerá em algumas horas.

O ministro de Relações Exteriores francês, Alain Juppé, se deslocou a Nova York para se unir às negociações e pressionar os países reticentes a empregar a força para ajudar os rebeldes líbios.

Um dos elementos que centrou esse debate foi o desejo de algumas delegações de contar com medidas adicionais, possivelmente ataques aéreos, para frear o avanço das tropas de Kadafi, particularmente sua ofensiva no reduto rebelde em Benghazi.

Nessa linha, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, pediu há algumas horas para as Nações Unidas chegarem a um acordo o mais rápido possível para intervir na Líbia e evitar uma "inaceitável" vitória do regime de Kadafi frente aos rebeldes.

Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi

Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.

Os relatos vindos do país não são precisos, mas a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que aeronáutica líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido. Muitas dezenas de milhares já deixaram o país.

Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte. Desde então, as aparições televisivas do líder líbio têm sido frequentes, variando de mensagens em que fala do amor da população até discursos em que promete vazar os olhos da oposição.

Não apenas o clamor das ruas, mas também a pressão política cresce contra o coronel. Internamente, um ministro líbio renunciou e pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbios também pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade. Mais recentemente, o Tribunal Penal Internacional iniciou investigações sobre as ações de Kadafi, contra quem também a Interpol emitiu um alerta internacional.

EFE   
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