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Mundo

França: extrema-direita tem poucas chances de sucesso nas urnas

13 abr 2012 - 17h39
(atualizado às 20h31)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

As eleições presidenciais na França se aproximam - o primeiro turno é no próximo dia 22 - e a possibilidade da extrema-direita chegar ao poder está cada vez mais distante. Vista como uma ameaça real no início da campanha, a candidata Marine Le Pen, do principal partido desta corrente no país, hoje tem poucas chances de passar para a segunda etapa da votação e até perdeu espaço para o representante da extrema-esquerda, Jean-Luc Mélanchon.

A candidata francesa Marine Le Pen, da Frente Nacional, tem cada vez menos chances de passar para o 2º turno
A candidata francesa Marine Le Pen, da Frente Nacional, tem cada vez menos chances de passar para o 2º turno
Foto: AFP

Há um ano, Le Pen chegou a liderar uma pesquisa de intenções de voto, o que levantou uma viva polêmica no país sobre a adesão dos franceses aos argumentos xenófobos e racistas da Frente Nacional (FN), o partido de Le Pen. Colocando a culpa da crise econômica na presença de estrangeiros no país e defendendo o fim do que considera uma "invasão do islamismo" na Europa, na medida em que a campanha avançou a candidata se manteve estável na terceira posição de intenções de voto, com entre 14% e 18%. O desempenho dela levou o presidente Nicolas Sarkozy, candidato à reeleição, a planejar sua campanha com pitadas do discurso de Le Pen, na tentativa de atrair o eleitorado menos extremista da concorrente.

"Não há a menor chance de ela passar para o segundo turno, como aconteceu com o seu pai Jean-Marie Le Pen, fundador da FN, em 2002", afirma o sociólogo Sylvain Crépon, especialista na Frente Nacional. Ele estima que a candidata deve superar os números verificados até agora - afinal, uma parte significativa do eleitorado de extrema-direita se envergonha da escolha e apenas a demonstra diante das urna, e não para as pesquisas de intenções de voto. Le Pen aposta, inclusive, neste efeito surpresa como o seu principal coringa na campanha, à exemplo do pai: em uma entrevista ao jornal Le Monde, ela disse esperar um resultado em torno de 20% no primeiro turno.

Porém o professor da Universidade de Nanterre avalia que a candidatura dela não irá adiante por duas razões: primeiro, porque desde que Sarkozy entrou na corrida presidencial, a disputa se polarizou entre ele e o socialista François Hollande, bloqueando a subida de Le Pen. "Ela registrou uma subida impressionante no início porque se apresentou como uma candidata como qualquer outra, e não uma extremista. Além disso, os outros ainda não estavam no jogo, mas quando isso aconteceu, as peças se reorganizaram no tabuleiro", disse. "Os eleitores que compreendem a complexidade da crise econômica jamais votarão em um discurso populista como o de Le Pen".

A segunda razão é que, com carisma e uma oratória convincente contra o governo Sarkozy, o candidato da extrema-esquerda, Jean-Luc Mélanchon, conseguiu atrair uma parte dos operários tradicionalmente apegados a Le Pen. A migração embaralhou os prováveis resultados para a terceira posição na disputa e afastou a direitista ainda mais das ambições de concorrer ao segundo turno.

Uma das últimas cartadas da candidata, a exploração do caso do atirador de Toulouse - em que um homem muçulmano matou sete pessoas e acabou morto pela polícia -, não surtiu o efeito esperado. Le Pen disparou contra Sarkozy, por não ter evitado o drama, e reforçou a tese de que o Islã representa um perigo para a França. Mas, ao se aproveitar do cargo e resolver o caso em poucos dias, quem acabou se fortalecendo com o episódio foi apenas o presidente - sob a postura de protetor dos franceses contra a ameaça terrorista, mas sem a associação entre islã e extremismo, feita pela candidata da Frente Nacional.

Nesta semana, uma notícia animou o clã Le Pen: uma pesquisa indicou que, entre os jovens de 18 a 24 anos, ela desponta como a preferida, com 26%. Nesta faixa etária, a representante da extrema-direita foi a que mais cresceu ao longo da campanha, dobrando o resultado apontado há um ano.

"Nada que surpreenda. Os jovens também são um público suscetível aos discursos populistas, e entre os que pararam os estudos, o apoio a Marine Le Pen chega a 30%", analisa a socióloga eleitoral Nonna Mayer, do Centro de Pesquisas Políticas da Sciences Po (Instituto de Estudos Políticos de Paris), especialista em extrema-direita e xenofobia. Mayer destaca que, devido à crise na Europa, a eleição francesa entrou em uma dinâmica de voto útil, em que a aposta em uma escolha ideológica perdeu espaço para a de um candidato que de fato seja capaz de enfrentar os problemas econômicos. "O desemprego e o poder aquisitivo são as principais preocupações dos franceses, e não a imigração e a segurança, os temas prediletos de Le Pen. Nas questões econômicas, ela não é convincente, não tem propostas confiáveis".

A pesquisadora explica ainda que, embora Sarkozy tenha namorado com o eleitorado da extrema-direita, a transferência dos votos da Frente Nacional para ele está longe de ser automática, em um eventual segundo turno contra Hollande. No máximo a metade dos eleitores de Le Pen deve apoiar o atual presidente, enquanto até 60% devem optar pela abstenção. Já Hollande, favorito absoluto nas pesquisas para vencer o pleito, deve contar com o voto da grande maioria dos militantes de Mélanchon.

Fonte: Especial para Terra
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