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Europa

Escoceses opinam: independência ou segurança do Reino Unido?

Entenda o que está por trás das opiniões de escoceses sobre a separação - ou não - do país do Reino Unido

17 set 2014 - 12h42
(atualizado às 12h58)
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Com 5,3 milhões de habitantes, a Escócia decide seu futuro nesta quinta-feira, dia 18. O referendo para decidir se o país deve se tornar independente do Reino Unido – do qual faz parte desde 1707 – divide a população. 

O Terra conversou com três escoceses (dois em Glasgow e um na Inglaterra) para saber os principais motivos por trás da opção de cada um. 

Apoiadores do "sim" e do "não" fazem campanha antes do referendo sobre a independência da Escócia. 16/09/2014
Apoiadores do "sim" e do "não" fazem campanha antes do referendo sobre a independência da Escócia. 16/09/2014
Foto: Dylan Martinez / Reuters

Nas ruas da maior cidade da Escócia, o clima é acalorado, a ponto de sair do controle às vezes, descreve Paul M., 44 anos. O empresário, que é contra a separação, percebe uma divisão profunda no país e prefere não se identificar para proteger seus negócios e sua família. 

A divergência ressoa em números. Pesquisas a poucos dias antes do referendo mostram pouca diferença entre os dois lados: em resposta à pergunta “A Escócia deve ser um país independente?”, 47% responderam não, 46% votariam pelo sim e 7% não sabem, de acordo com a enquete da Panelbase no dia 12 de setembro. A independência seria um caminho sem volta e o fim do Reino Unido, declarou o primeiro-ministro britânico David Cameron em uma tentativa de assegurar a permanência.

Campanha YES pela independência da Escócia abala opinião no país
Campanha YES pela independência da Escócia abala opinião no país
Foto: Paul Hackett / Reuters

Paul conta que inicialmente manteve-se neutro e preferiu pesquisar antes de tomar sua decisão. Sua principal preocupação é também um dos pontos mais inflamados das discussões entre os movimentos pró-união e nacionalista: qual moeda a Escócia adotaria caso se separe do Reino Unido – também formado por Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte. 

Enquanto o primeiro-ministro da Escócia, Alex Salmond, deseja manter a libra com a independência, o ministro das Finanças britânico, George Osborne, descarta a manutenção de uma união monetária com Londres. 

“Podemos manter a libra, mas continuaríamos dependente e com taxas de juros a serem decididas por Londres, o que seria uma das razões para nos tornarmos independentes. Vamos acabar com uma libra escocesa desvalorizada, como a Irlanda teve antes do euro. Não vejo qualquer relação boa para nossa moeda com a independência”, analisa o empresário. 

Apesar de ter votado no Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês) – do qual Salmond faz parte – nas últimas eleições e aprovar sua atuação no parlamento escocês, Paul observa problemas no discurso pela separação:

“O SNP planeja diminuir impostos e diminuir empréstimos, mas aumentar investimentos em 3% por ano, o que é matematicamente impossível. Então, há algumas inverdades nas propostas deles. Você confiaria em gente que não fala a verdade para comandar o seu país?”, questiona. 

Além de ter seu próprio parlamento desde 1999 na capital (Edimburgo), a Escócia conta com regulações próprias para seus sistemas de educação, de saúde e judiciário. Para Paul, a grande autonomia, maior do que qualquer outro país dentro da união, funciona bem. 

“Quero estar em um país maior, mais estável e com uma economia forte. A união é exitosa e próspera, mais do que muitos países do ocidente. Será mais difícil se nos tornamos independentes. Sou muito patriótico, mas esse referendo fez eu me dar conta de que também tenho orgulho de ser britânico”, afirma. 

Questão democrática

Para outro Paul de Glasgow, a autonomia que a Escócia desfruta dentro da união não é suficiente. 

Paul Leinster, 26 anos, está envolvido com a campanha Yes Scotland há dois anos e está ansioso pelo dia decisivo
Paul Leinster, 26 anos, está envolvido com a campanha Yes Scotland há dois anos e está ansioso pelo dia decisivo
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

“Não definimos o orçamento. Apenas recebemos de Londres uma quantia limitada de verbas. Temos sorte de ter controle sobre certos serviços, mas não é suficiente para proteger nossos interesses, especialmente das pessoas mais vulneráveis, que sofrem como resultado dos cortes de benefícios. Não controlamos o sistema de impostos”, aponta Paul Leinster, 26 anos, graduado em Letras.

Envolvido com a campanha Yes Scotland há dois anos, o jovem está ansioso pelo dia decisivo. Para ele, é uma questão democrática: a Escócia votou majoritariamente pelo partido trabalhista em eleições das últimas décadas, mas quem acabou assumindo o governo britânico, na maior parte das vezes, foram representantes do partido conservador, como o atual primeiro-ministro David Cameron (em coalizão com o partido liberal-democrata). As políticas públicas “impostas pelos governos conservadores” prejudicariam o país, na visão de Leinster.

Segundo o governo escocês, o país seria um dos mais ricos da Europa em termos de Produto Interno Bruto (PIB) per capita – quase US$ 40 mil, à frente da média do Reino Unido (que registra cerca de US$ 35 mil), em grande parte por sua riqueza em petróleo e gás. Baseado nestes números, o ativista acredita que o país conseguirá se sustentar fora da união. 

Sem permissão para votar

A quase 600 quilômetros distante de sua cidade-natal, Brian Gordon, 37 anos, mora em Brentwood, no condado de Essex, na Inglaterra. Funcionário de uma empresa automotiva, ele acompanha o debate por meio das mídias sociais, mais do que por jornais e televisão. Foi a forma que encontrou para dar sua opinião no debate ao menos, já que não poderá participar do referendo (a votação é permitida apenas para quem reside atualmente na Escócia). 

<p>Brian Gordon, 37 anos, diz que acompanha o debate por meio das mídias sociais, mais do que por jornais e televisão</p>
Brian Gordon, 37 anos, diz que acompanha o debate por meio das mídias sociais, mais do que por jornais e televisão
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

“Adoraria votar, mas se eu realmente sentisse isso com mais força, teria que ter me mudado de volta para Escócia”, brinca ele, que vive na Inglaterra há 15 anos.

Sua opção seria a independência. Assim como Leinster, ele acredita que a nação é muito rica, mas não está recebendo o que seria sua parte justa no momento. Seus amigos conterrâneos na Inglaterra têm opinião divergentes: alguns pensam que será um desastre, outros apoiam a separação do Reino Unido. 

“Antes do referendo para a devolução do parlamento, havia histórias assustadoras sobre a destruição da economia. Mas, na verdade, a Escócia se fortaleceu desde então. Vejo a independência como um passo a mais. Há incertezas sobre a economia, mas com nossos recursos, nossa expertise e nossa atitude como nação, se falharmos, será um dos maiores fracassos da história”, opina Gordon.

Onda Separatista Onda Separatista: Entenda o caso da Escócia

Fonte: Especial para Terra
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